Por Lucas Mantovani*
A recente divulgação dos dados da Serasa Experian acendeu um alerta vermelho para o setor produtivo brasileiro. O país registra inadimplência recorde entre empresas, com destaque para um número alarmante: 7,6 milhões de pequenas e médias empresas (PMEs) acumulam 54 milhões de dívidas ativas, que somam mais de R$ 174 bilhões.
O dado, por si só expressivo, ganha contornos ainda mais graves quando analisamos o perfil dessas empresas, justamente aquelas que sustentam o emprego, a renda e a movimentação da economia nacional.
Esse cenário não pode ser atribuído apenas a casos de má gestão ou a eventuais retrações cíclicas da economia. Ele é o reflexo direto de um ambiente de negócios hostil, marcado por um Estado pesado, tributação sufocante e políticas que pouco dialogam com a realidade do empreendedor.
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O empresário brasileiro convive diariamente com juros altíssimos, acesso restrito ao crédito e margens cada vez menores. Em vez de estímulo, o que se vê é uma máquina pública que expande gastos e multiplica burocracias.
Quando uma PME fecha as portas ou se torna inadimplente, não estamos diante de um problema isolado. Estamos diante da erosão de um ecossistema inteiro. Pequenas e médias empresas representam a espinha dorsal da economia, gerando a maior parte dos empregos formais no país. A inadimplência generalizada nesse segmento revela que não apenas negócios individuais estão em risco, mas também a capacidade do Brasil de sustentar crescimento e inclusão social.
O problema é agravado pelo ciclo perverso imposto pelo próprio Estado, em que se cria uma carga tributária excessiva, que asfixia a operação e, em seguida, oferecem-se parcelamentos e programas de renegociação como solução paliativa.
Isso não resolve a raiz do problema, apenas prolonga o sofrimento de quem já opera no limite. É como aplicar curativos em uma ferida que precisa de cirurgia.
É urgente repensar o sistema tributário, reduzir a burocracia, melhorar o acesso a crédito produtivo e, principalmente, oferecer segurança jurídica para quem decide empreender. Sem essas condições mínimas, qualquer tentativa de reverter a inadimplência será um esforço vazio. O Brasil não pode continuar punindo quem gera emprego e renda com regras confusas, instabilidade e custos elevados.
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Além disso, é preciso reconhecer que o custo do capital no Brasil é incompatível com a realidade das PMEs, pois taxas de juros estratosféricas tornam quase inviável recorrer a empréstimos bancários para manter o negócio saudável. O resultado é previsível, em que mais empresas ficam endividadas, geram menos competitividade e ocorre um ciclo contínuo de fragilidade econômica.
Se não houver um redesenho sério do ambiente de negócios, o país corre o risco de perder uma de suas maiores forças: o empreendedorismo de pequenas e médias empresas. O Brasil precisa abandonar a lógica de sufocar primeiro e renegociar depois, substituindo-a por uma estratégia de fomento, previsibilidade e confiança.
O futuro só será mais animador se tivermos coragem de atacar as causas estruturais da inadimplência, caso contrário, continuaremos contabilizando estatísticas trágicas enquanto vemos o sonho de milhões de empreendedores se transformar em dívidas impagáveis. E sem PMEs fortes, o desenvolvimento do Brasil permanecerá uma promessa distante.
*Lucas Mantovani é sócio cofundador da SAFIE Consultoria, especialista em Direito Empresarial e da Tecnologia pela PUC/MG.