Os consumidores estão mais contidos para as compras do Dia das Crianças de 2025 em relação ao ano passado. Apenas 39% dos brasileiros pretendem comprar algo para as crianças, enquanto para 37,9% não vai ter presente este ano e 23,1% estão indecisos.
Os dados são da pesquisa nacional realizada pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP), em parceria com a PiniOn, que ouviu 1.702 pessoas de todas as regiões do país.
Entre os que vão às compras, 39,7% estão dispostos a gastar mais do que desembolsou em 2024, enquanto 35,8% confessam que pretendem economizar nos presentes.
Em relação aos valores, a maioria dos entrevistados (68,1%) deve gastar entre R$ 50 e R$ 450, faixa de preço que mantém o padrão dos últimos anos para a data.
O Dia das Crianças é a terceira data mais importante para o comércio, atrás apenas do Natal (R$ 72,8 bilhões em 2024) e do Dia das Mães (R$ 14,5 bilhões em 2025).
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Dia das crianças deve ser o mais lucrativo em 12 anos
Apesar das intenções mais baixas, as vendas do Dia das Crianças de 2025 devem movimentar R$ 9,96 bilhões no comércio, o que representa um aumento de 1,1% em relação a 2024, quando as compras somaram R$ 9,85 bilhões.
Se confirmada, essa será a melhor marca dos últimos 12 anos, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
Os quase R$ 10 bilhões esperados só ficam atrás do volume registrado em 2014, de R$ 10,5 bilhões, já corrigidos pela inflação.
O economista-chefe da CNC, Fabio Bentes, alerta que apesar do desempenho positivo, o crescimento poderia ser maior se o país não enfrentasse juros elevados e inflação persistente.
“A inflação ainda não está onde a gente quer, e os juros, justamente por conta disso, estão também em um patamar que ninguém deseja, um patamar muito elevado. Então, a combinação desses dois fatores explica por que as vendas não vão acelerar este ano, mesmo com o mercado de trabalho tão bom”, avaliou.
Juros altos e crédito restrito freiam consumo no Dia das Crianças
Para Ulisses Ruiz de Gamboa, economista do Instituto Gastão Vidigal da ACSP, os resultados da pesquisa refletem um cenário de desaceleração no consumo das famílias, mesmo com o aumento da renda e do emprego.
“As perspectivas para 2025 parecem ser um pouco menos favoráveis do que as do ano passado, pois, apesar da continuidade dos aumentos da renda e emprego, os juros altos e o arrefecimento da concessão de crédito, num contexto de elevado endividamento das famílias, poderão continuar desacelerando o consumo”, afirmou o economista.
Gamboa destacou, no entanto, que o crescimento no número de consumidores indecisos pode representar uma oportunidade para o varejo.
“Em todo caso, houve aumento no número de indecisos, o que sempre pode se constituir em oportunidade para os comerciantes aumentarem as vendas”, concluiu.
Segundo Bentes, o crédito caro faz o consumidor repensar as compras.
“Vai parcelar o brinquedo, vai pagar o cartão de crédito? Se os juros estiverem lá em cima, o sujeito tem que colocar o pé no freio naquilo que não é considerado essencial para ele, e isso acaba prejudicando o comércio. O prejuízo acaba sendo maior para o comerciante que vende produtos financiados”, completou.
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A CNC destaca que a taxa média de juros ao consumidor chegou a 57,65% ao ano em julho, o maior patamar para o mês desde 2017, segundo dados do Banco Central.
O cenário também pressiona a inadimplência: 30,4% das famílias têm contas em atraso, o maior percentual da série histórica da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), iniciada em 2010.
Além disso, de acordo com o IBGE, o comércio acumula quatro meses consecutivos de queda nas vendas.
Pagamento à vista é o preferido para o Dia das Crianças
A forma de pagamento preferida continua sendo à vista, seja em dinheiro, cartão de débito ou PIX. Segundo a pesquisa, esse comportamento também está relacionado ao elevado custo do crédito e ao alto grau de endividamento das famílias brasileiras.
O estudo mostra ainda que 53,3% dos consumidores pretendem realizar as compras em lojas físicas, enquanto 46,7% devem recorrer ao comércio online.
Dentro do varejo físico, as grandes redes continuam liderando, concentrando 39,1% das intenções de compra.
Roupas e brinquedos lideram as intenções de compra
Os presentes tradicionais seguem dominando as intenções de compra. Roupas, calçados e acessórios representam 33,3% das escolhas, seguidos por bonecas (19,1%), carrinhos e bicicletas (11,2%) e bolas de futebol (11,1%).
A pesquisa também mostra que a compra de eletrônicos, como videogames, celulares e tablets, perdeu força novamente, repetindo a tendência de 2024.
Segundo a ACSP, o menor apetite por produtos de maior valor agregado reflete o cenário de juros altos e crédito caro, que reduzem o poder de compra das famílias.
Serviços e experiências seguem em baixa
Assim como no ano passado, a intenção de presentear as crianças com experiências, como ingressos para cinema, teatro, zoológico, parques aquáticos ou viagens, voltou a cair.
Apenas 7,1% dos entrevistados disseram que pretendem comprar esse tipo de serviço, e 5,3% manifestaram interesse em viagens.
A ACSP avalia que essa redução reforça a preferência por itens tangíveis e de menor valor, num contexto de cautela financeira.
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Inflação dos produtos infantis supera o IPCA
A CNC estima que a inflação dos produtos típicos do Dia das Crianças cresceu 8,5% em média em relação à data de 2024, superando o índice geral de inflação (IPCA).
Entre os 11 itens pesquisados, quatro apresentam inflação de dois dígitos:
- Chocolates: +24,7%
- Doces: +13,9%
- Lanches: +10,9%
- Cinema, teatro e concertos: +10,3%
Segundo Bentes, esse aumento já está consolidado e reflete fatores externos, como o encarecimento do cacau, principal insumo do chocolate.
“O chocolate tem na produção uma commodity, o cacau. Sempre que a gente tem algum choque no preço de uma commodity dessas, a gente acaba tendo uma repercussão no preço no mercado interno. Existem dezenas, talvez centenas de marcas desse produto, vale a boa e velha pesquisa de preço”, disse o economista.
Por outro lado, itens considerados carros-chefe das vendas, como brinquedos (4,1%) e roupas infantis (3,3%), devem registrar aumento de preços menor que o índice geral.