Enquanto os Estados Unidos vive mais um shutdown — paralisação parcial do governo — por falta de aprovação do Orçamento, o Brasil se aproxima de um “apagão orçamentário”, previsto no próprio plano de gastos do governo a partir de 2027.
A estimativa está no Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), que prevê forte queda nos chamados gastos discricionários, aqueles que mantêm serviços públicos como universidades, obras, segurança e pesquisa.
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Precatórios empurrados para o futuro e emendas parlamentares bilionárias foram algumas das manobras utilizadas para evitar a antecipação de um colapso.
No novo episódio do podcast Ligando os Pontos, Marcos de Vasconcellos, CEO do Monitor do Mercado, explica como essa combinação de incerteza fiscais está movimentando o mercado: do salto do ouro e do bitcoin à busca dos investidores por refúgio. Confira:
“Pesadelo fiscal” dos EUA
O shutdown é caracterizado como o pesadelo fiscal dos Estados Unidos. Este cenário ocorre quando o Congresso não consegue aprovar o orçamento federal, resultando na paralisação literal do governo. Agências governamentais fecham as portas e servidores são dispensados.
A paralisação impacta a economia ao bloquear a divulgação de dados vitais. Informações sobre emprego, inflação, Produto Interno Bruto (PIB) e confiança do consumidor ficam inacessíveis. Sem essas informações, o Federal Reserve (Fed) e os investidores atuam sem referências.
Um shutdown anterior, ocorrido entre 2018 e 2019, durou 35 dias e resultou em um custo de cerca de 11 bilhões de dólares para a economia americana.
Ouro e bitcoin atingem máximas
Em momentos de incerteza fiscal, o mercado financeiro reage buscando ativos de refúgio. Apesar de as bolsas americanas registrarem recordes, o dinheiro tem corrido para locais tradicionalmente seguros.
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O ouro, ativo mais antigo do mundo, tem brilhado em meio ao ruído político e fiscal. Nos últimos 30 dias, o ouro registrou uma alta de quase 10%, saltando de US$ 3.600 para US$ 4.063 por onça — maior nível histórico para o metal.
Curiosamente, o bitcoin, frequentemente chamado de “ouro digital”, tem seguido a mesma tendência. O valor da criptomoeda avançou 11% em aproximadamente um mês, saltando de cerca de US$ 110 mil para US$ 122 mil.
O fato dos ativos estarem subindo juntos é incomum, visto que, geralmente, o investidor opta entre o refúgio tradicional e o alternativo. O movimento sugere que o mercado está utilizando ambos como seguro contra o endividamento do governo.
A leitura do mercado, neste contexto, indica desconfiança em relação aos títulos do Tesouro americano, à estabilidade das moedas e às empresas listadas em bolsa.
Risco de “apagão orçamentário” no Brasil
No Brasil, a situação fiscal se difere do shutdown por ser um apagão orçamentário que, conforme as fontes, está previsto em lei. O próprio governo brasileiro, por meio do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO), admitiu que as contas não fecharão no ano de 2027.
O risco de colapso está ligado à queda drástica nos gastos discricionários. Estes são os gastos não obrigatórios que mantêm o funcionamento da máquina pública, como a manutenção de estradas, universidades, pesquisa e segurança.
A previsão aponta que os gastos discricionários cairão de R$ 208 bilhões previstos para 2026 para R$ 122 bilhões em 2027. A projeção indica que, por volta de 2029, o montante remanescente será de R$ 8,9 bilhões.
Para evitar a antecipação deste colapso, o governo utilizou a Emenda Constitucional 136, que retirou os precatórios do limite de despesas de 2026.
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A manobra foi um mecanismo para criar um respiro fiscal temporário. No entanto, a partir de 2027, 10% do estoque dessas dívidas voltarão a ser contabilizados anualmente. A medida é descrita como um adiamento do problema.
Adicionalmente, o orçamento tem se tornado refém das emendas parlamentares, que são vistas como uma forma de toma-lá-dá-cá institucionalizado.
Em 2024, o valor dessas emendas atingiu R$ 44 bilhões, o que representa cerca de um quarto do total do gasto discricionário. Em 2015, o valor era inferior a R$ 10 bilhões.
O Supremo Tribunal Federal (STF) está atualmente investigando suspeitas de desvio desses recursos. Uma eventual diminuição do volume destinado a estas emendas pode funcionar como uma forma de ajuste para as contas orçamentárias futuras.









