O Prêmio Nobel de Economia de 2025 foi concedido nesta segunda-feira (13), em Estocolmo, a Joel Mokyr, Philippe Aghion e Peter Howitt — os dois últimos, autores do livro “The Economics of Growth”. Os pesquisadores foram reconhecidos por suas contribuições ao entendimento de como a inovação tecnológica impulsiona o crescimento econômico de longo prazo.
Mokyr foi premiado “por identificar os pré-requisitos para o crescimento sustentado por meio do progresso tecnológico”, enquanto Aghion e Howitt receberam o prêmio “pela teoria do crescimento sustentado através da destruição criativa”.
O conceito de destruição criativa descreve o processo em que novas tecnologias e produtos substituem os antigos, provocando transformações estruturais na economia. A expressão, popularizada por Joseph Schumpeter, foi formalizada matematicamente por Aghion e Howitt em 1992, demonstrando como a inovação estimula o crescimento, mesmo gerando perdas para empresas que ficam obsoletas.
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Segundo a Real Academia Sueca de Ciências, os premiados mostraram que “a destruição criativa gera conflitos que devem ser gerenciados de maneira construtiva”, pois empresas e grupos afetados pela inovação podem tentar frear o progresso tecnológico.
Os organizadores destacaram que o trabalho dos laureados é especialmente relevante no contexto atual, em que a inteligência artificial (IA) vem transformando rapidamente a economia.
John Hassler, presidente do Comitê do Nobel de Economia, afirmou que os estudos dos premiados ajudam a compreender como a inovação pode ser sustentada ao longo do tempo, sem que o progresso técnico seja bloqueado pelos interesses de grupos prejudicados.
Segundo ele, o avanço da IA torna o processo de transformação “mais rápido e mais poderoso”, exigindo políticas públicas que auxiliem pessoas afetadas por mudanças tecnológicas. “É essencial pensar em como garantir novas oportunidades e compensações a quem for impactado”, afirmou.
O que dizem os vencedores no livro “Economics of Growth”?
O livro The Economics of Growth (2009), de Philippe Aghion e Peter Howitt, foi escrito para apresentar e analisar as principais estruturas teóricas (paradigmas) utilizadas para entender como as economias crescem.
Os autores abordam questões centrais como o crescimento e a redução da pobreza, a convergência entre países, a relação entre crescimento e desigualdade, a transição da estagnação para o crescimento sustentado e o impacto das finanças no crescimento.
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A obra enfatiza a visão de que a taxa de progresso tecnológico é determinada por forças internas ao sistema econômico (crescimento endógeno), particularmente pelo processo de inovação.
Paradigmas fundamentais do crescimento
O livro introduz e desenvolve quatro grandes paradigmas:
- Modelo Neoclássico (Solow-Swan): Este modelo, ponto de partida para o estudo do crescimento econômico, salienta o papel da acumulação de capital. No entanto, ele prevê que, no longo prazo, a taxa de crescimento de um país retornará à taxa de progresso tecnológico, a qual o modelo considera como exógena (independente de forças econômicas). Essa previsão pessimista é fundamentada no princípio da produtividade marginal decrescente do capital.
- Modelo AK: Neste modelo, o crescimento pode ser sustentado indefinidamente, uma vez que as externalidades de aprendizado compensam os retornos decrescentes do capital, resultando em uma função de produção agregada onde o produto é proporcional ao capital (Y=AK). A taxa de crescimento de longo prazo, neste caso, depende da taxa de poupança.
- Modelo de Variedade de Produtos (Romer): Aqui, o crescimento é impulsionado por inovações que introduzem novas variedades de insumos. O progresso da produtividade decorre tanto da crescente especialização do trabalho quanto dos spillovers de pesquisa (externalidades de conhecimento). Uma limitação deste modelo, contudo, é que ele não captura o papel da saída ou da renovação no processo de crescimento, conceito que Schumpeter chama de destruição criativa.
- Modelo Schumpeteriano: Os autores demonstram preferência por este modelo. Nele, o crescimento resulta de um processo de sucessivas inovações que tornam obsoletas as tecnologias anteriores, envolvendo a destruição criativa. A teoria Schumpeteriana é particularmente adequada para analisar como o desempenho de crescimento de um país varia em função de sua proximidade à fronteira tecnológica.
O multiplicador de crédito
A análise da relação entre finanças e crescimento é um tema detalhado no livro “Economics of Growth”, especialmente em relação à superação de restrições financeiras.
O livro introduz o conceito de multiplicador de crédito (ν). Em um modelo Schumpeteriano, os empreendedores frequentemente precisam tomar empréstimos para financiar investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D).
O multiplicador de crédito reflete a eficácia do sistema financeiro (ou instituições legais) em dificultar que o mutuário deixe de pagar o empréstimo (fraude).
- Quanto maior o custo de ocultar o retorno da inovação (ou seja, quanto mais eficaz for o banco ou as leis de proteção ao credor), maior é o multiplicador de crédito.
- Uma restrição de crédito apertada impede que o empreendedor invista o nível ótimo em P&D, reduzindo a frequência de inovações e, consequentemente, a taxa de crescimento.
A obra também examina a relação entre volatilidade macroeconômica (flutuações) e crescimento. Os autores sugerem que a volatilidade tende a ser mais prejudicial ao crescimento em economias com menor desenvolvimento financeiro.
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Isso ocorre porque, em um ambiente com restrições de crédito rígidas, as recessões reduzem os lucros atuais das empresas, limitando sua capacidade de tomar empréstimos para inovar (investimento de longo prazo).
Políticas para o crescimento e instituições apropriadas
A terceira parte do livro dedica-se ao desenho de políticas de crescimento (Growth Policies). Tradicionalmente, o crescimento e a concorrência eram vistos como uma troca (trade-off) Schumpeteriana, pois maior concorrência reduziria os lucros de monopólio, desestimulando a inovação.
Contudo, a pesquisa empírica sugere uma relação em “U invertido” entre a concorrência no mercado de produtos e a inovação (medida por patentes).
- A concorrência estimula a inovação em empresas já próximas da fronteira tecnológica, através do efeito “escape-competition” (escapar da concorrência).
- A concorrência desestimula a inovação em empresas atrasadas.
Educação e distância da fronteira tecnológica
O livro “Economics of Growth” adota e estende a ideia de instituições apropriadas para o setor educacional. O impacto do investimento em educação depende da proximidade tecnológica do país em relação à fronteira global (tecnologia de ponta, como nos EUA).
- Educação Primária/Secundária: Tende a ser mais propícia ao crescimento em países ou regiões afastadas da fronteira tecnológica, pois fortalece a capacidade de imitação e implementação de tecnologias existentes.
- Educação Terciária (Superior/Pesquisa): É mais benéfica para o crescimento em países próximos à fronteira tecnológica, pois impulsiona a capacidade de fazer inovações de ponta.
O conceito de instituições apropriadas sugere que as instituições ideais para maximizar o crescimento mudam conforme um país se desenvolve e se aproxima da fronteira tecnológica.
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Falhas em adaptar as instituições (por exemplo, manter políticas excessivamente favoráveis à imitação quando a inovação de ponta é necessária) podem gerar armadilhas de não convergência, impedindo o país de alcançar os níveis de produtividade da fronteira.
