Pela primeira vez em sete anos, a China cortou completamente as importações de soja dos Estados Unidos, aprofundando os efeitos da guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo.
Dados oficiais divulgados nesta segunda-feira (20) pela Administração Geral de Alfândegas da China mostram que, em setembro, quando tradicionalmente são fechados novos contratos de exportação, nenhuma carga do grão americano desembarcou nos portos chineses.
A paralisação das compras é reflexo direto das tarifas impostas pelos Estados Unidos durante a guerra comercial. Em resposta ao tarifaço americano sobre produtos chineses, Pequim elevou suas tarifas sobre a soja dos EUA, encarecendo o produto e reduzindo sua competitividade frente aos grãos da América do Sul.
- Veja como um analista fez R$ 25 mil de lucro operando café — clique aqui e descubra como você pode seguir essa estratégia.
Safra de soja americana perde janela de vendas
Nos Estados Unidos, a colheita da soja começa em setembro, período que marca a transição entre safras e é crucial para a assinatura de novos contratos de exportação.
Em um ano típico, agosto é o mês em que as indústrias chinesas de ração animal fazem reservas antecipadas do grão americano, aproveitando preços menores e assegurando o abastecimento para o início do novo ano-safra.
Neste ano, porém, os compradores chineses não realizaram essas encomendas. Os embarques caíram devido às tarifas impostas pela China em março sobre as importações dos EUA e porque os grãos colhidos anteriormente, conhecidos como “safra antiga”, já haviam sido vendidos.
Segundo Wan Chengzhi, analista da Capital Jingdu Futures, “isso se deve principalmente às tarifas. Em um ano normal, alguns grãos de safra antiga ainda entrariam no mercado”.
Brasil e Argentina ocupam o espaço dos EUA
Com o recuo americano, o Brasil reforçou sua posição de principal fornecedor de soja à China. Em setembro, as importações chinesas de soja atingiram 12,87 milhões de toneladas métricas, o segundo maior volume mensal já registrado.
Desse total, 10,96 milhões de toneladas são provenientes do Brasil e representam uma alta de 29,9% na comparação anual, equivalente a 85,2% do total.
Já as importações da Argentina cresceram 91,5% no mesmo período, para 1,17 milhão de toneladas, correspondendo a 9% das compras totais da China.
De janeiro a setembro, o Brasil exportou 63,7 milhões de toneladas de soja para o mercado chinês, alta de 2,4% em relação ao mesmo período do ano anterior; enquanto a Argentina embarcou 2,9 milhões de toneladas, 31,8% a mais.
Mesmo com o bloqueio à nova safra americana, as compras realizadas no início de 2025 garantiram um total acumulado de 16,8 milhões de toneladas de soja dos EUA, alta de 15,5% em relação ao mesmo período de 2024.
- Temos 46 vagas restantes para quem quer lucrar com operações de café do Portal das Commodities — clique aqui e veja como aplicar na prática.
Impacto econômico e riscos de oferta
O corte das importações americanas tem sido causa de grande preocupação entre os agricultores dos Estados Unidos, especialmente nos estados de Illinois, Iowa, Minnesota e Indiana, que são as principais regiões produtoras do país.
Se o impasse comercial persistir, produtores americanos podem enfrentar perdas de bilhões de dólares, já que a China representa o maior mercado consumidor de soja do mundo.
A dependência crescente da América do Sul também representa um desafio para Pequim. Caso as negociações comerciais com Washington não avancem, o país pode enfrentar uma lacuna de oferta entre fevereiro e abril de 2026, antes da chegada da nova safra brasileira.
“Uma lacuna no fornecimento de soja pode surgir na China entre fevereiro e abril do próximo ano se não houver um acordo comercial. O Brasil já embarcou um volume enorme, e ninguém sabe quanto estoque de safras antigas ainda resta”, afirmou Johnny Xiang, fundador da consultoria AgRadar, sediada em Pequim.
Tensão comercial e sinalizações de Trump
As negociações entre Washington e Pequim parecem ganhar novo fôlego após semanas de tensões, novas ameaças tarifárias e restrições à exportação. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou neste domingo (19) acreditar em um avanço nas tratativas com a China.
“Espero que a China retome a compra de soja, pelo menos nos volumes de antes”. O republicano acrescentou que Pequim precisa interromper o envio de fentanil aos EUA e que mantém “ótima relação com Xi Jinping”.
O presidente também acenou com a possibilidade de reduzir as tarifas sobre produtos chineses, desde que o país cumpra as exigências. Em agosto, Trump já havia cobrado publicamente que a China “duplicasse” as compras de soja americana.
Mudança estrutural no comércio global de soja
A China é o maior importador mundial de soja, usada principalmente na produção de ração animal e óleo vegetal. Historicamente, os Estados Unidos foram o segundo maior fornecedor da oleaginosa para o país, atrás apenas do Brasil.
Com as tarifas impostas em meio à disputa comercial, o Brasil consolidou-se como principal exportador global, ampliando sua participação nas compras chinesas e mudando o eixo do comércio mundial da commodity.
- ⚡ A informação que os grandes investidores usam – no seu WhatsApp! Entre agora e receba análises, notícias e recomendações.
Enquanto os produtores americanos enfrentam estoques altos e preços pressionados, os exportadores brasileiros se beneficiam de contratos de longo prazo e da demanda contínua do mercado chinês.
A continuidade dessa tendência dependerá do desfecho das negociações comerciais entre Pequim e Washington.
Sem um acordo, os EUA tendem a perder ainda mais espaço no maior mercado de soja do planeta, enquanto Brasil e Argentina reforçam sua posição estratégica no abastecimento global.









