O Parlamento japonês elegeu nesta terça-feira (21) Sanae Takaichi como a 104ª primeira-ministra do Japão, tornando-a a primeira mulher da história a ocupar o cargo. A líder do Partido Liberal Democrata (PLD) assume o governo com foco em economia, política monetária e relações com os Estados Unidos.
A conservadora de 64 anos, conhecida por defender uma postura mais dura em relação à China, será a quinta pessoa a ocupar o cargo de chefe de governo em apenas cinco anos.
Ela assume um gabinete de minoria, com uma agenda intensa que inclui a visita do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, à Tóquio na próxima semana, em meio a uma conjuntura política fragmentada, com desafios econômicos e diplomáticos relevantes.
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A primeira-ministra também enfrenta um cenário de declínio populacional e envelhecimento acelerado da população, desafios que pressionam as contas públicas e ameaçam a posição do Japão como a quarta maior economia mundial.
Além disso, sua coalizão com o Ishin não alcança maioria absoluta no Parlamento, o que exigirá negociações constantes para aprovar medidas econômicas e fiscais.
No plano interno, Takaichi busca reverter a perda de popularidade do PLD, que tem sofrido reveses eleitorais e viu a ascensão do pequeno partido populista Sanseito, de extrema-direita, que critica a imigração e a classifica como “invasão silenciosa”.
Desafios políticos da primeira mulher a governar o Japão
A vitória de Takaichi foi confirmada após o PLD firmar um acordo de coalizão com o Partido da Inovação do Japão (Ishin), de direita. Ela recebeu 237 votos na eleição da Câmara Baixa do Parlamento, que conta com 465 assentos, e venceu também a votação na Câmara Alta.
Mesmo com a aliança, o bloco soma duas cadeiras a menos que a maioria necessária na Câmara Baixa, o que exigirá articulação política.
Segundo Tadashi Mori, professor de política da Universidade Aichi Gakuin, “os dois partidos não comandam a maioria em nenhuma das câmaras e, para garantir um governo estável e obter o controle dos principais comitês parlamentares, precisarão garantir mais da metade das cadeiras”.
A nova primeira-ministra foi escolhida para liderar o PLD em 4 de outubro. O partido, que governa o Japão quase ininterruptamente desde 1955, tem enfrentado queda de popularidade e escândalos de financiamento.
Poucos dias após a sua eleição interna, o PLD perdeu o apoio do Komeito, parceiro de coalizão desde 1999, que deixou a aliança por discordar das posições conservadoras de Takaichi.
A ruptura obrigou a líder a buscar apoio no Ishin, um partido reformista de centro-direita. O novo acordo foi assinado na segunda-feira (20), véspera da eleição parlamentar.
Política econômica e coordenação com o Banco do Japão
Aliada do ex-primeiro-ministro Shinzo Abe e admiradora da ex-premiê britânica Margaret Thatcher, Takaichi prometeu adotar políticas voltadas ao estímulo fiscal e monetário para reaquecer a economia japonesa, que enfrenta crescimento lento e pressão inflacionária.
A nova primeira-ministra já se manifestou a favor de aumento da despesa pública para impulsionar a atividade econômica, citando o exemplo de seu mentor Abe.
Em coletiva de imprensa após a votação, Takaichi declarou: “A meta de inflação de 2% do BoJ deve ser atingida não apenas por meio de fatores de custos, mas também por aumentos de preços acompanhados de ganhos salariais.”
Ela destacou ainda que o Banco do Japão (BoJ) e o governo precisam atuar em sintonia: “O BoJ e o governo devem trabalhar em conjunto. O importante é que o BoJ e o governo coordenem suas políticas e mantenham comunicação estreita.”
A primeira-ministra defendeu que a política monetária do Banco Central deve fazer parte de uma estratégia econômica mais ampla, conduzida pelo governo, para garantir estabilidade de preços e crescimento sustentável.
Relações internacionais com EUA e China
Takaichi também afirmou que pretende se encontrar “o mais rápido possível” com o presidente norte-americano Donald Trump, para fortalecer os laços entre os dois países: “Farei o máximo para amortecer o impacto das tarifas dos EUA na economia japonesa”.
Entre os principais temas da agenda bilateral estão as negociações comerciais ainda pendentes entre Washington e Tóquio, a guerra tarifária e o pedido dos EUA para que o Japão cesse importações de energia da Rússia e amplie os gastos com defesa.
Sobre a China, Takaichi já havia declarado anteriormente que Pequim “menospreza completamente o Japão” e que Tóquio deve “abordar a ameaça à segurança” representada pelo país vizinho.
Nos últimos dias, porém, ela adotou um tom mais moderado. Na semana anterior à eleição, optou por não participar da cerimônia no santuário de Yasukuni (local associado ao passado militarista japonês), gesto interpretado como tentativa de reduzir tensões com Pequim.
O governo chinês reagiu de forma cautelosa, afirmando que “tomou nota do resultado” e espera “avançar” nas relações com o Japão, ao mesmo tempo em que pediu que Tóquio “cumpra seus compromissos políticos em questões importantes, como a história e Taiwan”.
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Participação feminina no governo japonês
A nova premiê prometeu “fortalecer a economia japonesa e reorganizar o Japão como um país que pode ser responsável com as gerações futuras”.
Em relação à composição do gabinete, Takaichi nomeou duas mulheres, número inferior ao prometido durante sua campanha. Satsuki Katayama, ex-ministra da Revitalização Regional, assumiu o Ministério das Finanças, tornando-se a primeira mulher a ocupar o cargo. Já Kimi Onoda assumiu o Ministério da Segurança Econômica.
Durante a disputa pela liderança do PLD, Takaichi prometeu equiparar a presença feminina no governo aos níveis dos países nórdicos, onde as mulheres ocupam entre 36% e 61% dos cargos ministeriais. Com as atuais nomeações, as mulheres representam 16% do novo gabinete japonês, incluindo a própria premiê.
Takaichi também afirmou que quer trazer “uma nova sensibilidade” às políticas públicas relacionadas à saúde das mulheres, destacando temas como menopausa e acesso a cuidados médicos adequados.









