Por Rodrigo Luz*
Em algumas lojas dos Estados Unidos, as fantasias do Super-Homem trazem um aviso curioso na etiqueta: “A capa não permite que o usuário voe”.
A frase parece uma piada, mas Shawn Achor, autor do livro O Jeito Harvard de Ser Feliz, usa essa imagem como metáfora para um ponto essencial: a positividade tem poder, mas não é mágica.
A capa do Super-Homem não faz ninguém voar, mas a forma como escolhemos olhar para o mundo pode, sim, mudar como vivemos nele. Essa é a essência do capítulo, e também um convite para refletir sobre o funcionamento do nosso próprio cérebro, que é plástico, adaptável e moldável pelas experiências e pensamentos que cultivamos diariamente.
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O olhar certo pode transformar a jornada
Achor explica que acreditar em si, manter o otimismo e escolher uma perspectiva positiva funcionam como uma alavanca mental. Essa alavanca não ignora a realidade, ela nos ajuda a enxergar novas possibilidades dentro dela.
Pessoas com uma mentalidade otimista não vivem em um mundo cor-de-rosa. Elas simplesmente decidem direcionar o foco para o que fortalece, não para o que paralisa. Enquanto o pessimismo diz “não dá”, o otimismo treinado pergunta “como dá?”.
Mas existe uma linha tênue entre o otimismo realista e o escapismo. Usar a “capa do Super-Homem” achando que podemos voar sozinhos é perigoso — porque nega a gravidade das circunstâncias. Por outro lado, usar essa capa como símbolo de coragem e propósito, sabendo que a força vem de dentro, é o que realmente nos faz avançar.
A ciência por trás da positividade
Durante muito tempo acreditou-se que o cérebro era fixo, como um “hardware” imutável. Hoje sabemos que ele é plástico, ou seja, muda o tempo todo de acordo com os estímulos que recebe, com o que pensamos, sentimos e praticamos.
Esse fenômeno é chamado de neuroplasticidade. Ela explica por que uma pessoa que vive constantemente focada no negativo acaba enxergando o mundo de forma mais sombria. Não porque o mundo piorou, mas porque seu cérebro se treinou para detectar ameaças, falhas e riscos.
A boa notícia é que o contrário também é verdadeiro: se treinamos nosso cérebro para encontrar o positivo, ele passa a reconhecer mais oportunidades, conexões e soluções ao nosso redor. É como ajustar a lente da câmera: o cenário é o mesmo, mas o foco muda e, com ele, muda também a experiência de viver.
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O que você treina, se fortalece
Nosso cérebro funciona como um músculo: o que exercitamos, cresce. E o que negligenciamos, enfraquece.
Se todos os dias alimentamos pensamentos como “nada dá certo”, “as pessoas são difíceis”, “o mundo é injusto”, criamos trilhas neurais que reforçam essa narrativa. Com o tempo, nosso sistema cognitivo começa a confirmar essa visão, filtrando a realidade para encontrar provas do que já acreditamos. Esse fenômeno é conhecido como viés de confirmação.
Mas quando escolhemos cultivar gratidão, esperança e propósito, o mesmo mecanismo passa a trabalhar a nosso favor. Ao buscar o positivo, nosso cérebro literalmente reprograma seus padrões de percepção. De repente, percebemos mais oportunidades no trabalho, mais conexões verdadeiras nas relações e mais serenidade nas situações desafiadoras.
A felicidade como causa, não consequência
Uma das ideias centrais de O Jeito Harvard de Ser Feliz é que a felicidade não é o resultado do sucesso, mas o combustível que o torna possível.
Achor mostra que pessoas felizes são mais produtivas, criativas e resilientes. E não porque tudo dê certo em suas vidas, mas porque elas treinam o olhar para encontrar sentido até nas dificuldades.
Elas sabem que felicidade não é negar o problema, mas enxergar o que é possível fazer a partir dele.
Quando cultivamos uma mentalidade positiva e treinamos nosso cérebro para enxergar o melhor cenário possível dentro da realidade, nos tornamos agentes ativos da própria vida.
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Treinar o cérebro é um ato de consciência
Treinar o cérebro para o positivo é sobre escolher conscientemente o que você quer fortalecer dentro de si. Isso exige prática. Assim como músculos precisam de repetição, o cérebro precisa de consistência.
A seguir, algumas práticas simples, mas cientificamente eficazes, para fortalecer esse treino mental:
- Praticar gratidão diariamente: Anotar ou mentalizar três coisas boas que aconteceram no dia ensina o cérebro a buscar o positivo de forma natural. Estudos mostram que, após 21 dias dessa prática, já é possível notar mudanças mensuráveis no padrão de pensamento.
- Redirecionar o foco: Quando algo der errado, ao invés de perguntar “por que isso aconteceu comigo?”, pergunte: “O que posso aprender com isso?”. Essa simples mudança de pergunta ativa áreas cerebrais relacionadas à solução, não ao medo.
- Celebrar pequenas vitórias: O cérebro associa progresso à recompensa. Ao reconhecer conquistas diárias, mesmo pequenas, reforçamos circuitos de motivação e bem-estar.
- Cuidar do corpo para cuidar da mente: Sono, alimentação e movimento físico impactam diretamente o funcionamento neural e emocional. Um corpo equilibrado fornece a base biológica para um cérebro equilibrado.
- Cultivar presença: A meditação e o mindfulness reduzem a reatividade emocional e fortalecem o córtex pré-frontal, responsável pelas decisões conscientes. Estar presente é o primeiro passo para escolher o que pensar.
Entre o realismo e o sonho
O aviso na fantasia do Super-Homem existe porque algumas pessoas podem acreditar que basta vestir a capa para desafiar a gravidade. No campo emocional, o risco é parecido: acreditar que basta pensar positivo para que a vida se transforme automaticamente.
Mas o verdadeiro poder está na combinação de esperança e ação. O otimismo sem ação é fantasia; a ação sem esperança é exaustão. Quando equilibramos os dois, criamos uma força real de transformação.
Positividade é um treino que nos prepara para enfrentar a vida com clareza, e não para fugir dela. É olhar o desafio e pensar: “Eu não posso voar, mas posso aprender a construir as asas.”
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O cérebro busca o que você procura
A neurociência confirma: nós encontramos aquilo que procuramos. Se buscamos o erro, o cérebro vai destacá-lo. Se buscamos o aprendizado, ele vai sinalizá-lo.
Essa seletividade é uma estratégia de sobrevivência, mas também pode ser uma prisão mental. Por isso, mudar o foco não é ingenuidade, é inteligência emocional. É escolher, conscientemente, em que direção queremos que nossa mente trabalhe.
Treinar o cérebro para enxergar o positivo é alinhar percepção e propósito. É dizer a si, todos os dias: “Eu escolho ver o que me fortalece, porque é isso que quero multiplicar.”
Conclusão: a capa é simbólica, o poder é real
A capa do Super-Homem é um lembrete de que nenhum símbolo externo nos fará voar, mas que o poder de interpretar, agir e construir vem de dentro.
A positividade não ignora o que dói, ela reconhece para transformar. E o cérebro, quando bem treinado, se torna nosso maior aliado nesse processo.
Não precisamos de superpoderes, apenas de consciência e prática diária para moldar nossos próprios caminhos.
O que você tem treinado para enxergar no seu dia a dia: as faltas ou as possibilidades? Lembre-se: o cérebro aprende com o que repetimos. Então, repita o que deseja viver.
*Rodrigo Luz é Diretor Nacional de Expansão da Wiser Investimentos | BTG Pactual.









