Por Rodrigo Luz*
Vivemos na era da informação, da velocidade e da adaptação constante. As transformações tecnológicas, sociais e econômicas exigem profissionais cada vez mais ágeis, criativos e emocionalmente equilibrados.
Nesse cenário, a pergunta que surge é: o que diferencia as pessoas que avançam e se reinventam daquelas que estagnam, mesmo com talento e experiência? A resposta, segundo a neurociência e a psicologia positiva, está em como treinamos nosso cérebro para perceber, aprender e reagir.
A frase “o que você treina seu cérebro para ver, ele começa a procurar em todo lugar” traduz de forma simples um princípio poderoso: a maneira como usamos a atenção e a mente molda diretamente nossa performance, nossas decisões e nossos resultados profissionais.
1. Seu cérebro é seu maior ativo profissional
Durante muito tempo, acreditou-se que o sucesso profissional dependia quase exclusivamente de habilidades técnicas — o famoso hard skill. Mas as pesquisas em neurociência cognitiva e comportamento organizacional mostraram que a base do desempenho está em algo mais fundamental: o funcionamento do cérebro.
Nosso cérebro processa informações, toma decisões, regula emoções e cria padrões de comportamento. Ele é o motor por trás da produtividade, da comunicação, da criatividade e da liderança. E o mais importante: ele pode ser treinado.
A neuroplasticidade, conceito amplamente estudado por neurocientistas como Michael Merzenich e Norman Doidge, demonstra que o cérebro é maleável. Ele se adapta conforme aprendemos novas habilidades, enfrentamos desafios ou mudamos hábitos mentais.
Isso significa que o profissional que treina a mente para ver oportunidades, aprender com o erro e lidar com a pressão de forma construtiva, literalmente reprograma seu cérebro para o sucesso.
2. O poder da atenção: o cérebro busca o que você foca
Seu cérebro está constantemente filtrando informações. De acordo com estudos sobre o Sistema de Ativação Reticular (SAR), uma rede neural que regula o foco, nós processamos conscientemente apenas uma fração do que captamos. O SAR decide o que é relevante com base naquilo em que acreditamos, sentimos ou repetimos com frequência.
Por isso, se você acredita que “não há oportunidades”, seu cérebro começa a procurar evidências que confirmem isso. Mas se você o treina para identificar aprendizados, soluções e possibilidades, ele passa a buscar ativamente caminhos para o crescimento.
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No ambiente de trabalho, essa diferença é crucial. Profissionais com um foco treinado para enxergar soluções tendem a inovar mais, lidar melhor com crises e inspirar confiança nas equipes. Já aqueles cujo foco é moldado pela escassez e pelo medo enxergam apenas obstáculos — e, com o tempo, bloqueiam sua própria evolução.
3. A neurociência do aprendizado contínuo
No mercado atual, o aprendizado constante é uma exigência, não uma opção. E aqui a neurociência traz uma boa notícia: o cérebro é feito para aprender, em qualquer idade.
A ideia de que “depois de certo tempo não se muda mais” é um mito. Estudos em neuroplasticidade mostram que todo novo aprendizado cria e fortalece conexões neurais, aprimorando tanto a capacidade cognitiva quanto a flexibilidade emocional.
O neurocientista Richard Davidson, da Universidade de Wisconsin, demonstrou que práticas mentais — como atenção plena e reflexão construtiva — fortalecem áreas cerebrais associadas à autorregulação, empatia e tomada de decisão. Essas são justamente as competências mais valorizadas no mercado de trabalho moderno, conhecidas como soft skills.
Ou seja, treinar o cérebro é treinar habilidades profissionais como:
- Foco e produtividade: manter atenção no que importa e reduzir distrações.
- Resiliência emocional: lidar com pressão e incerteza sem perder clareza mental.
- Empatia e colaboração: compreender diferentes perspectivas e construir relações de confiança.
- Aprendizado adaptativo: absorver novas informações e aplicá-las rapidamente.
4. Psicologia positiva: o estado mental que sustenta a performance
A psicologia positiva, fundada por Martin Seligman e Mihaly Csikszentmihalyi, complementa a neurociência ao mostrar como o estado emocional influencia diretamente o desempenho profissional.
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Emoções positivas — como entusiasmo, curiosidade e gratidão — não apenas melhoram o humor, mas ampliam a capacidade cognitiva e criativa, conforme demonstra a teoria do ampliar e construir (broaden-and-build theory), de Barbara Fredrickson.
Fredrickson mostrou que pessoas em estados mentais positivos enxergam mais alternativas diante de desafios, tomam decisões mais equilibradas e aprendem mais rápido. Em ambientes corporativos, isso se traduz em melhores resultados, mais inovação e relacionamentos mais saudáveis.
Por outro lado, quando o cérebro é dominado por estresse crônico, medo ou pessimismo, ele entra em modo de sobrevivência. Nessa condição, o córtex pré-frontal — responsável pelo raciocínio e pela criatividade — reduz sua atividade. O profissional age de forma reativa, perde visão estratégica e se torna mais resistente à mudança.
Treinar o cérebro para cultivar estados mentais positivos é, portanto, um investimento direto em performance.
5. O viés da negatividade e o perigo do piloto automático
Todo cérebro humano possui um viés natural para o negativo, resultado de milhões de anos de evolução. Nossos ancestrais precisavam detectar ameaças rapidamente para sobreviver — e esse mecanismo ainda existe. O problema é que, no contexto profissional atual, esse mesmo viés pode se tornar um inimigo silencioso.
Quando o cérebro se habitua a procurar falhas, críticas e riscos, ele passa a operar em modo defensivo. A mente entra em piloto automático, reagindo com resistência às mudanças e desmotivação diante de desafios.
Por isso, treinar o cérebro é também um ato de liderança pessoal. Significa ensinar a mente a reconhecer o que precisa melhorar sem ignorar o que está funcionando. É substituir o foco no problema pelo foco na solução. E, com o tempo, essa mudança mental se transforma em vantagem competitiva.
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6. Treinar o cérebro: práticas para o desenvolvimento profissional
A seguir, algumas práticas baseadas em evidências científicas que ajudam a treinar o cérebro para um desempenho profissional mais alto e sustentável:
a) Reestruturação cognitiva
Quando um desafio surge, o cérebro tende a reagir com padrões antigos (“não consigo”, “vai dar errado”). A reestruturação cognitiva — técnica derivada da terapia cognitivo-comportamental — consiste em questionar esses pensamentos automáticos e substituí-los por interpretações mais funcionais.
Exemplo: trocar “isso é impossível” por “isso é difícil, mas posso aprender algo novo aqui”.
b) Diário de progresso
Registrar diariamente pequenas vitórias e aprendizados reforça a percepção de evolução e ativa o sistema de recompensa cerebral. Isso estimula a liberação de dopamina, neurotransmissor ligado à motivação e ao prazer, e mantém o cérebro engajado na jornada de crescimento.
c) Prática da gratidão profissional
Estudos de Robert Emmons mostram que exercitar a gratidão aumenta otimismo, cooperação e senso de propósito. No contexto de trabalho, reconhecer colegas, conquistas e aprendizados cria um ambiente emocional de alta performance.
d) Mindfulness e foco atencional
Práticas de atenção plena, como respiração consciente ou pausas intencionais, fortalecem o controle da atenção e reduzem a impulsividade. Empresas como Google e SAP implementaram programas de mindfulness com resultados consistentes em bem-estar e produtividade.
e) Mentalidade de crescimento (growth mindset)
Carol Dweck, professora de Stanford, demonstrou que pessoas com mindset de crescimento — aquelas que acreditam que suas habilidades podem se desenvolver — aprendem mais e enfrentam desafios com maior persistência. Treinar o cérebro para ver o erro como parte do processo e o desafio como oportunidade cria profissionais resilientes e inovadores.
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7. Treinar o cérebro para liderar
Liderar, hoje, exige mais do que conhecimento técnico. Exige autogestão emocional, empatia e clareza de propósito. E todas essas habilidades são fruto de treino neural. Um líder que pratica escuta ativa, regula suas emoções e busca feedbacks constrói redes neurais associadas à empatia e à flexibilidade cognitiva.
Além disso, segundo estudos de Daniel Goleman sobre inteligência emocional, líderes que cultivam estados emocionais positivos contagiam suas equipes, elevando moral, criatividade e engajamento.
Treinar o cérebro, portanto, é um ato de liderança expandida: você não apenas melhora sua própria performance, mas também influencia o clima emocional e o desempenho das pessoas ao seu redor.
8. Da teoria à prática: o cérebro aprende o que você vive
Saber que o cérebro é plástico e treinável é inspirador — mas não basta entender, é preciso praticar. Como explica o neurocientista Andrew Huberman, da Universidade de Stanford, “a neuroplasticidade não acontece pelo simples ato de saber, mas pelo ato de fazer com intenção repetida”.
Isso significa que o treino mental precisa ser contínuo, intencional e aplicado à rotina profissional. Cada e-mail escrito com mais empatia, cada feedback dado com equilíbrio, cada momento de foco profundo em meio à distração digital — tudo isso reforça circuitos neurais que sustentam excelência e presença.
9. Treinar o cérebro é treinar o olhar estratégico
Profissionais de alta performance não apenas executam bem; eles enxergam de forma diferente. Eles veem conexões que outros ignoram, percebem oportunidades onde outros veem obstáculos. E isso não é sorte — é treino de percepção.
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Ao direcionar o cérebro para buscar soluções e aprendizados, ampliamos nossa visão de contexto, fortalecendo a capacidade de tomar decisões estratégicas e de antecipar cenários — habilidades essenciais em um mundo cada vez mais incerto e competitivo.
10. Conclusão: o cérebro é o terreno onde o sucesso é cultivado
O que você treina seu cérebro para ver, ele começa a procurar em todo lugar. Se você o treina para ver limites, ele encontrará barreiras. Se o treina para ver possibilidades, ele criará caminhos.
A neurociência nos mostra que o cérebro se transforma conforme o uso. A psicologia positiva nos lembra que emoções e percepções moldam o desempenho. E juntas, elas nos ensinam que o crescimento profissional começa na mente que escolhe como olhar para o mundo.
Treinar o cérebro é mais do que uma técnica de autodesenvolvimento — é uma estratégia de carreira. É decidir conscientemente que cada desafio é uma oportunidade de aprendizado. Que cada erro é um convite à melhoria. E que cada novo dia pode ser usado para fortalecer a mente que lidera, aprende e cria o futuro.
Porque, no fim das contas, o cérebro é o seu maior diferencial competitivo. E ele aprende — exatamente — o que você o treina para enxergar.
*Rodrigo Luz é diretor de expansão da Wiser Investimentos | BTG Pactual.









