O colegiado do Banco Central afirmou na ata do Copom (Comitê de Política Monetária) que a taxa Selic atual, de 15% ao ano, é suficiente para garantir a convergência da inflação à meta — desde que seja mantida por um período “bastante” prolongado.
No documento divulgado na manhã desta terça-feira (11), o colegiado reforçou que o cenário ainda é de elevada incerteza e que, se necessário, poderá retomar o ciclo de alta dos juros.
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A expectativa do mercado na última quarta-feira (5) era de que a mensagem do comunicado pós decisão retirasse o termo “bastante”, indicando quando o Copom começaria o ciclo de corte nos juros.
O economista-chefe da G5 Partners, Luis Otávio de Souza Leal, considera que a ata do Copom adotou um tom mais neutro (dovish) do que o comunicado. “Foi uma ata mais otimista em relação à inflação e às expectativas”, afirma.
Ata do Copom vê moderação gradual da economia e queda na inflação
Na avaliação do Copom, o cenário tem evoluído conforme o esperado, com moderação gradual da atividade, redução da inflação corrente e leve melhora nas expectativas de inflação.
O comitê reconheceu que as leituras recentes mostram inflação mais benigna que a prevista no início do ano, mas avaliou que a pressão ainda vem da demanda doméstica e do mercado de trabalho aquecido — fatores que exigem a manutenção de uma política monetária contracionista por mais tempo.
As projeções do Banco Central apontam inflação de 4,6% em 2025, 3,6% em 2026 e 3,3% no segundo trimestre de 2027 — acima do centro da meta de 3,0%.
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Para Leal, os números indicam que há possibilidade de afrouxamento monetário em janeiro, com a Selic terminal a 12,5% ao final de 2026, com viés de baixa. “O mercado que estava tirando janeiro da frente, pode voltar a colocar de novo”, disse.
A visão é compartilhada por Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, “o Banco Central não sugere explicitamente uma redução já em dezembro, mas o texto abre espaço para quem defende uma flexibilização em janeiro argumentar que há margem para isso”.
Isenção do IR e cenário fiscal entram no radar
O Copom informou que passou a incorporar em seu cenário de referência os possíveis efeitos da ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda (IR), mas classificou as estimativas como incertas. O colegiado disse que manterá uma postura dependente de dados, acompanhando os efeitos fiscais e creditícios sobre a economia.
O comitê também reiterou que uma política fiscal previsível e crível é fundamental para a convergência da inflação. Segundo o BC, o aumento de gastos públicos e a falta de reformas estruturais podem elevar a taxa de juros neutra, o que reduziria a eficácia da política monetária.
Incerteza global e shutdown nos EUA preocupam
Na parte externa, o Copom apontou que o cenário global continua incerto, com destaque para o shutdown do governo dos Estados Unidos, que dificulta a avaliação da política monetária do Federal Reserve (Fed).
O colegiado mencionou também riscos de longo prazo, como a política comercial americana, o aumento dos gastos fiscais globais e a precificação de ativos.
O Banco Central ressaltou que o real valorizado reflete tanto o diferencial de juros quanto a depreciação do dólar frente a outras moedas.
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Ata do Copom lista pontos de atenção
O Copom destacou que monitora três fatores principais no cenário doméstico:
- o ritmo da atividade econômica, com desaceleração em setores mais sensíveis a juros;
- o comportamento do câmbio, após um período de volatilidade;
- e as expectativas de inflação, ainda desancoradas em prazos mais longos.
Segundo o comitê, a desancoragem das expectativas “aumenta o custo de desinflação em termos de atividade” e exige perseverança e firmeza na condução da política monetária.
Riscos equilibrados, mas cenário exige cautela
No balanço de riscos, o Copom citou como fatores de alta da inflação a desancoragem prolongada das expectativas, a resiliência dos serviços e pressões externas via câmbio. Já os riscos de baixa incluem uma desaceleração doméstica mais forte, uma economia global mais fraca e queda nos preços das commodities.
O colegiado concluiu que o cenário de incerteza elevada requer manutenção de uma política monetária restritiva por tempo prolongado, até que haja sinais consistentes de convergência da inflação à meta.









