*Por Ulisses Rodrigues
A inadimplência é sempre uma grande preocupação dos empresários. Não é para menos: inadimplência em alta e acima do esperado põe em risco a própria existência do negócio e, no limite, afeta toda a economia do País. Períodos prolongados de maior incerteza, como o que vivemos com a pandemia de coronavírus, acendem um alerta necessário para monitorar ainda mais de perto esse indicador.
Em abril de 2021, 63% dos empresários brasileiros diziam estar “mais preocupados do que nunca” com um eventual aumento da inadimplência. O dado é do estudo Brazilian Payment Report, elaborado pela Intrum. Naquele momento, ainda não tínhamos certeza sobre o andamento da vacinação e sua eficácia no controle da doença.
- Quer melhorar sua estratégia para investir? Converse com um especialista da Wise Investimentos.
Agora já sabemos que, mesmo com percalços, a imunização avançou e as empresas também se adaptaram rapidamente à nova realidade, o que, por sua vez, contribuiu para que as projeções de uma forte alta na inadimplência não se concretizassem. Números mais recentes do Banco Central mostram que a inadimplência do crédito geral ficou em 2,3% em dezembro, muito próxima do menor valor da série, observado no fim de 2020 (2,1%).
Isso significa que podemos relaxar e dormir tranquilos? Certamente não, mas ainda assim é inegável que o cenário foi menos pior do que se esperava. A pergunta que fica é: e agora, o que podemos esperar?
É preciso lembrar que ainda estamos navegando em mares revoltos. A pandemia não acabou e novas variantes desafiam os avanços da Ciência; estamos em um momento de baixo crescimento econômico com pressão inflacionária e altas taxas de juros; e ainda teremos eleições neste ano, o que costuma adicionar uma dose extra de incerteza aqui e em qualquer lugar do mundo.
Mesmo diante dos desafios, os bancos brasileiros estimam que a concessão de crédito cresça 6,7% neste ano, segundo levantamento da Febraban. Isso, apesar de ser uma boa notícia, reforça a necessidade de manter os dois olhos bem abertos para os riscos de aumento da inadimplência. Diante desse cenário, quais medidas as empresas podem adotar?
Em primeiro lugar, para evitar problemas com o fluxo de caixa, é preciso aprimorar os processos de avaliação de crédito. Vale destacar que não se trata apenas de conseguir receber do cliente, mas de receber no prazo previsto, para não colocar em risco a capacidade de honrar compromissos também em dia.
Esse é um fator muito importante e que sofreu bastante com a pandemia. De acordo com o levantamento da Intrum, a diferença entre o tempo médio de pagamento oferecido e aquele em que a dívida foi efetivamente paga é de oito dias nos negócios que lidam diretamente com o consumidor final, subindo para 11 dias quando a transação é feita entre empresas e para 13 dias em negócios com o setor público. Não parece muito, mas isso causa descasamento no fluxo de caixa, o que pode gerar um efeito cascata e é especialmente danoso para as pequenas e médias empresas.
A chave do sucesso, aqui, é ter informação e saber usá-la a seu favor. Conhecer o comportamento financeiro dos clientes, estimular — e monitorar — que os pagamentos sejam feitos nas datas acordadas, valorizar os bons pagadores e oferecer novas formas de pagamento são algumas das boas práticas para manter uma carteira de crédito saudável.
Propor soluções para a quitação do débito que sejam menos prejudiciais para o negócio é uma forma de negociação inteligente, uma vez que mantém a empresa no controle da situação. Ao mesmo tempo, é preciso deixar claro para o cliente quais são as consequências de não cumprir os prazos de pagamento.
As empresas que reestruturam e aprimoram seus processos, mesmo durante a crise, saem fortalecidas e muito mais eficientes. Mantida a disciplina necessária, os ganhos tornam-se permanentes e, portanto, devem fazer parte das estratégias competitivas que, no futuro, poderão ser decisivas tanto para o crescimento seguro quanto para o melhor enfrentamento de novas crises.
*Ulisses Rodrigues é CEO da Intrum.
Imagem: Divulgação









