A aceleração da inflação nos Estados Unidos deverá reduzir a atividade econômica em todo o mundo, principalmente em economias periféricas. O alerta vem do professor Marco Antonio Rocha, do Instituto de Economia da Unicamp.
Em entrevista ao Monitor do Mercado, Rocha aponta que a inflação nos EUA impacta diretamente na formação de preços internacionais e define o comportamento da taxa de juros americana — o que acaba definindo o comportamento da taxa de juros das demais economias, como o Brasil.
Na última semana, o Departamento do Trabalho americano divulgou que os preços ao consumidor nos Estados Unidos acumulam alta de 7,5% no ano — muito acima da meta de 2% proposta pelo Federal Reserve (o Fed, Banco Central dos EUA).
A inflação mais alta pede uma resposta contracionista (ou seja, voltada a retirar dinheiro de circulação) do Fed, com uma elevação da taxa de juros. O aumento do juros americano, tende a se espalhar para as outras economias, deprimindo o nível de atividade mundo afora.
Como os títulos do tesouro americanos são considerados os mais seguros do mundo, sua rentabilidade acaba por definir o retorno mínimo exigido por grandes investidores globais. Para se tornarem atraentes, economias emergentes precisam pagar juros mais altos, de forma a compensar o risco.
Na prática isso aumenta o prêmio para quem corre menos risco, reduzindo o nível de atividade da economia global, sobretudo nas economias periféricas. O risco de investir em países emergentes acaba sendo “alto demais”, já que os títulos seguros estão pagando bem.
A boa notícia é que o banco central norte americano deu a entender que ele vai praticar uma estratégia mais acomodativa em relação à taxa de inflação, por uma preocupação em relação ao ritmo de retomada da economia, afirma o Marco Antonio Rocha.
“O Fed deu a entender que ele não ia sacrificar o ritmo de retomada do crescimento econômico para combater a inflação no curto prazo. Isso criou um horizonte onde os agentes estão esperando que o BC aja como chamamos em um perfil mais ‘dovish’, para acomodar essa taxa de inflação. Isso deve dar um fôlego para a economia mundial, em termos de crescimento, mas também significa que a gente vai conviver com uma inflação global um tanto mais elevada.”
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