O aperto monetário iniciado no ano passado pelo Banco Central (Bacen) pode terminar ainda no primeiro semestre, dando à autoridade monetária uma folga no final do ano. A opinião é do gestor de portfólio da Lifetime Asset Management, Josian Teixeira.
O fato de os movimentos de altas nos juros levarem cerca de seis meses para fazer efeito garante, na opinião de Teixeira, essa folga. Do ponto de vista de investimentos, ações ligadas a commodities (como Vale, CSN e Gerdau) tendem a ser uma boa pedida para o ano.
Confira mais nesta entrevista de Josian ao Monitor do Mercado.
Monitor do Mercado (MM): O Brasil deve enfrentar um ano desafiador, com alta de juros nos Estados Unidos e nas principais economias globais e, no front interno, risco fiscal, inflacionário e eleições. Como lidar com todos esses desafios?
Josian Teixeira (JT): O cenário de 2021 foi muito pior do que todo mundo imaginava. Mas, até por conta disso, acabamos tomando uma medida que hoje se revela positiva quando se olha para 2022 e que é justamente a antecipação no ciclo de alta dos juros. Já entramos em 2022 com todo esse histórico construído, consideramos que iniciamos o movimento antes.
Agora, em março, os Estados Unidos devem iniciar seu ciclo de alta. Diante disso, a pergunta que cabe é: o Banco Central deve intensificar ainda mais seu movimento? Entendo que nossa política monetária já está precificada. Há uma demora de cerca de seis meses para a alta de juros fazer efeito. Portanto, se esse movimento se concentrar no primeiro semestre, no final do ano, o Bacen pode ter alguma folga.
MM: Para o investidor, a atual conjuntura pode ser uma oportunidade para entrar em Bolsa visando ao médio/longo prazo?
JT: Iniciamos 2022 com o Ibovespa (Ibov) em torno dos 105 mil pontos. Agora, em meados de janeiro, estamos na faixa dos 110 mil. Quando se considera a relação Preço/Lucro (PL) das ações, a Bolsa está barata. O PL atual é de oito vezes, um patamar que vimos apenas duas vezes na história, na crise do subprime e no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Nem mesmo no início da pandemia chegamos a esse nível. Isto posto, é importante olhar o mercado de commodities, ainda muito representativo em nosso índice e que depende, em grande medida, da China.
O país asiático está em um momento de corte dos juros. Falando de maneira um pouco mais específica, o investidor tem de entender a volatilidade da própria carteira e sua disposição para correr riscos. Recomendamos, para o investidor médio cerca de 10% a 20% em Bolsa, além de papéis em pós-fixados atrelados à Selic. Títulos atrelados à inflação também são uma boa pedida, já que estão com bons ganhos reais.
MM: Que setores tendem a ir melhor no cenário para 2022?
JT: A China vive uma crise parecida com a de 2008 e, em nossa opinião, tem tudo para se recuperar. Além disso, a desvalorização do real tende a tornar as exportações de commodities atrativas. Nesse sentido, empresas de mineração e siderurgia (todas dolarizadas), como Vale, CSN, Gerdau e Usiminas são uma boa pedida.
Bancos, que ganham no floating com a volta do mundo de juros de dois dígitos, também são uma indicação. Por fim, há algumas empresas consistentes e que foram muito penalizadas com a alta dos juros e nova onda do coronavirus e que, em nossa opinião, estão baratas, tais como Cyrela e Magazine Luiza.