Incorporadoras podem utilizar a certificação EDGE para atrair investidores e clientes finais
Com a certificação, também há ganhos no longo prazo, como redução das contas de luz e água
05/05/2023 13:17
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05/05/2023 16:15

Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), até o ano de 2050, 68% da população do planeta viverá em grandes cidades. Embora elas não representem nem 3% da superfície do planeta, consomem 78% de toda a energia produzida e geram 60% das emissões de gases do efeito estufa. Com o objetivo de reverter esse cenário, a ONU aprovou a Nova Agenda Urbana em 2016, com recomendações para os processos de urbanização em todo o mundo, para ajudar a transformar os espaços urbanos em lugares mais amigáveis à população, inclusivos e sustentáveis.
A tendência do urbanismo no mundo aponta para um estilo de vida mais sustentável, com a redução das distâncias percorridas diariamente, com projetos de bairros mais ecológicos, onde as pessoas possam viver conectadas ao meio ambiente. Nessa transformação, é fundamental a construção de edifícios que usem tecnologias e materiais sustentáveis.
Não por acaso, o interesse de incorporadoras, investidores e consumidores por empreendimentos verdes é um movimento global crescente. Da mesma forma, cresce o interesse pelas certificações verdes, que atestam a sustentabilidade de um prédio, tanto na fase de projeto quanto de sua utilização. Mas, seja pela complexidade de vários processos de certificação, seja pelos custos envolvidos, ainda há muitos empreendimentos sem certificações reconhecidas.
Em 2015, enfrentando esse desafio, a Internacional Finance Corporation (IFC) – braço do Banco Mundial para o setor privado – criou a certificação EDGE (sigla em inglês para “Excelência em Design para Maior Eficiência”), que se diferencia das outras certificações existentes no mercado por ser mais simples e acessível, além de ser aplicável em todos os tipos de projetos, incluindo residenciais, hospitais, edifícios de escritório, comércio e hotéis.
A certificação EDGE se concentra em três categorias: energia, água e materiais. Na visão do Banco Mundial, essas áreas são as prioritárias para gerar um impacto mais rápido de eficiência na construção e operação dos edifícios. Embora os projetos certificados ainda sejam uma minoria nas economias emergentes, é nesses países que a EDGE tem maior potencial de crescimento, inclusive no Brasil.
A seguir, leia a entrevista do Monitor do Mercado com o executivo Ommid Saberi, Global Lead and Industry Expert da IFC.
Como a certificação EDGE pode ser usada para ajudar as incorporadoras a atrair mais investidores? E compradores também?
A certificação EDGE é aceita internacionalmente como um padrão para finanças verdes e é reconhecido pelos principais definidores de padrões globais de finanças verdes (ICMA, GRESB e Climate Bonds Initiative).
Além disso, ela está alinhada com os padrões da União Europeia (UE) e permite relatórios diretos de impacto de carbono, um requisito fundamental para investimentos em finanças verdes.
Ela quantifica tanto a pegada de carbono estimada do edifício quanto a economia nas emissões de carbono.
O aplicativo EDGE também fornece outros indicadores úteis para avaliar a viabilidade financeira de um edifício verde, incluindo custos incrementais, em quanto tempo ele vai se pagar e a economia de serviços públicos (como água e energia) na moeda local do país.
Todas essas características são parâmetros fundamentais para investidores e mercados financeiros.
Como a certificação EDGE pode ser um diferencial competitivo para incorporadoras?
Ela é um instrumento de verificação independente, que atesta que um edifício de fato alcançou uma série de medidas de eficiência para ser considerado como verde. Em contraste com incorporadoras que afirmam oferecer um edifício verde sem verificação, a certificação EDGE é reconhecida internacionalmente como garantia de que um edifício é de fato verde.
Além disso, o mercado de edifícios verdes está em expansão. Devido à necessidade de descarbonizar o meio ambiente e, assim, cumprir os compromissos necessários incluídos nos Acordos de Paris, projetar e construir edifícios com eficiência de recursos é uma tendência de mercado irreversível. Ter uma vantagem competitiva neste mercado será essencial para o crescimento das incorporadoras.
Como avalia a parceria com o Itaú BBA para projetos de edifícios verdes?
A IFC (International Finance Corporation) tem um histórico de financiamento e fornecimento de apoio consultivo às instituições financeiras para projetos de construção verde. Desde 2014, o investimento da IFC para essas instituições atingiu US$ 2,3 bilhões para hipotecas verdes ou projetos relacionados à construção verde (dados globais). A IFC espera trabalhar também com outras instituições financeiras no Brasil e encoraja os líderes desse setor a considerá-la como um parceiro potencial para explorar oportunidades de desenvolvimento de produtos financeiros para incentivar o mercado de construção verde. Em grande parte, a IFC pode fornecer esse apoio às instituições financeiras graças ao programa MAGC, com recursos do governo britânico.
Quais são as principais cidades ou regiões do Brasil que podem contribuir para o crescimento da certificação Edge?
O Programa Green Building da IFC visa expandir o uso da certificação EDGE para outras cidades, fora de São Paulo. Por exemplo, estamos trabalhando com as cidades de Belém, Manaus, Palmas e Porto Velho para oferecer assistência técnica para criar incentivos para edifícios verdes (certificados com EDGE ou outras certificações reconhecidas internacionalmente). Além disso, estamos trabalhando com a cidade de Salvador, que já conta com incentivos às construções verdes (IPTU Verde), para conscientizar os setores público e privado sobre os benefícios e as capacidades técnicas das construções verdes.
Quais são suas expectativas para o futuro, principalmente em relação ao Brasil?
A certificação EDGE é uma ferramenta de construção verde simples e acessível, que permite às incorporadoras projetar moradias ecológicas acessíveis por uma fração do custo de outras certificações. Levando em consideração que uma família de baixa renda pode gastar até 15% de sua renda para pagar contas de serviços públicos (como água e energia elétrica), faz todo o sentido que moradias para esse segmento sejam sustentáveis. Estamos ansiosos para ampliar nosso envolvimento com incorporadoras voltadas para moradias de baixa renda no Brasil.
A IFC quer apoiar a conciliação entre sustentabilidade e crescimento econômico no Brasil. À medida que mais empresas usam nossa certificação de construção verde para reportar seus compromissos ESG, o aplicativo EDGE está muito bem-posicionado para ajudar as empresas do setor imobiliário a criar projetos sustentáveis aplicando uma metodologia eficiente em gestão de custos e fornecer indicadores claros sobre a economia de seus ativos em energia, água e emissões de CO2.