Quem tem ações da Gol pode ter sido surpreendido no último dia 18 com os papéis GOLL14 entre seus investimentos, além dos tradicionais GOLL4. Desde que apareceram no mercado, esses papéis já derreteram 92%. Entenda o que é esse papel e o que aconteceu com ele.
No dia 14 deste mês, a companhia aérea surpreendeu seus investidores com um comunicado informando sobre a emissão de um bônus de subscrição. Bônus de subscrição são títulos que dão o direito de adquirir (subscrever) novas ações da empresa, cumprindo alguns requisitos — e é esse o pulo do gato para entender o que está acontecendo com a empresa.
- Receba primeiro as notícias e análises que vão impactar o mercado. Assine o exclusivo Monitor do Mercado Real Time. Recomendações de investimento e informações, minuto a minuto, direto no seu celular. Clique aqui para conhecer.
Acontece que para conseguir as novas ações, quem recebeu os bônus teria que pagar um preço alto. Enquanto uma ação GOLL4 custava R$ 7,49, no dia 14, quem quisesse comprar as ações da nova subscrição teria que pagar R$ 5,84 pelo custo de emissão mais R$ 5,82 por papel. No final das contas, uma nova ação sairia custando R$ 11,66.
Segundo o “aviso aos acionistas”, seriam emitidos 1,89 bilhão de bônus de subscrição de ações preferenciais, com um prazo de conversão de até 2028, se alinhando perfeitamente com o vencimento da dívida que a Gol tem com a Abra — controladora da empresa —, de 1,2 bilhão de dólares.
GOL e Abra
Em abril deste ano, a Abra Group tornou-se oficialmente dona da Gol, mas antes disso, em março, holding fez uma reestruturação da dívida da empresa – que chegava aos US$ 1,4 bilhão.
E assim, além de comprar a aérea, a Abra virou também sua maior credora.
Sozinha no conselho de administração da companhia, a holding tem os plenos poderes de aprovar uma subscrição de ações sem uma assembleia de acionistas – ou seja, sem ouvir a “voz” do mercado. E foi exatamente o que aconteceu nesta última emissão de bônus de subscrição.
Assim, sozinha, a maior credora da Gol aprovou uma oferta de subscrição considerada cara e confusa — o que parece não ter agradado o mercado. Nos últimos cinco dias, as ações GOLL4 caíram quase 10%, enquanto sua principal concorrente, Azul, viu seus papéis (AZUL4) caírem menos de 2%. O Ibovespa manteve-se estável.
O que o mercado pensa disso?
Logo após o anúncio da subscrição, o Citi Bank rebaixou a sua recomendação para os ADRs da Gol, de compra para neutra e preço-alvo caiu quase pela metade, de US$ 7,75 para US$ 4,20.
Uma das principais questões para os analistas foi, justamente, os desafios da participação da Abra na companhia e desses bônus para os acionistas minoritários.
Segundo o Goldman Sachs, a subscrição pode diluir em até 82% a participação dos acionistas que não optaram por participar do programa. Caso apenas a quantia mínima emitida seja subscrita, a diluição ainda corresponderia a 70%.
Por que isso é ruim?
A pulverização do controle é uma das principais questões para a existência de uma companhia aberta. Se todo o controle fica concentrado, o mercado de ações vira apenas uma ponte para capitação de dinheiro para empresas de capital fechado, o que afetaria negativamente a governança das companhias.
Mas muito antes da subscrição, os minoritários já estavam insatisfeitos com a administração da Gol, quando a empresa fez uma fusão com a Avianca, em maio de 2022.
Aurélio Valporto, presidente da Abradin (Associação Brasileira de Investidores), considera a fusão ilegal, e afirmou que a associação chegou a denunciar a fusão à CVM (Comissão de Valores Imobiliários).
Para ele, teria que ter existido um OPA (fechamento de capital). “Esse golpe é o desdobramento natural, não fizeram a OPA, mas, aparentemente, estão caminhando para fechar o capital após “depenarem” os minoritários”, explicou.
Imagem: elaboração própria