Nos últimos dias, a Via Varejo, dona das Casas Bahia, movimentou o noticiário com as trocas de nomes das empresas que integram o grupo. A holding, Via Varejo, virou Via. A rede Pontofrio virou Ponto :>.
As novas marcas, bem como a compra de uma fintech, viraram notícias em diversos portais (inclusive no Monitor do Mercado). Dessa maneira, quem busca informações sobre a companhia (ou suas ações, VVAR3), encontra as notas sobre o assunto aos borbotões.
Acontece que as mudanças foram divulgadas justamente nos dias que sucederam a publicação de uma reportagem denunciando crimes sexuais do fundador das Casas Bahia, Samuel Klein, e seu filho, Saul Klein.
Hoje, a Via Varejo tem como um dos principais acionistas o herdeiro de Samuel e irmão de Saul, Michael Klein, pai do presidente do conselho da empresa (Raphael Klein). E as Casas Bahia são a principal marca do grupo, com 857 lojas, enquanto o Pontofrio tem 195.
Publicada no último dia 15, a reportagem da Agência Pública escancarou os escândalos dos abusos cometidos por Samuel entre 1989 e 2010 — ele morreu em 2014.
De acordo com a matéria, o empresário sustentava uma rotina de exploração sexual de meninas menores de idade (entre 9 e 17 anos) na própria sede da Casas Bahia, em São Caetano do Sul, e em imóveis próprios na Baixada Santista e no município de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro.
Em 2020, 14 mulheres denunciaram Saul Klein, por aliciamento e estupros que teriam acontecido em 2008, na casa do herdeiro em Alphaville, São Paulo. Desde então, o empresário e herdeiro está sendo investigado pelo Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP).
Neste domingo, a ombudsman da Folha de S.Paulo, questionou o motivo de o jornal ter desistido de publicar notícias sobre o escândalo envolvendo o fundador das Casas Bahia.
“Há mais coisas incompreensíveis. Casos como esse parecem envolver engrenagens que operam por anos sem que seus responsáveis sejam incomodados — nem pela polícia nem pela imprensa. O suposto esquema de exploração sexual descortinado pela Pública corria em paralelo, muitas vezes dependente do negócio principal. É estranho que caso tão bem apurado só apareça na Folha em artigos de opinião, ou seja, não exista em forma de notícia. Republicar a íntegra de um caso como esse pode ser uma escolha. Incluí-lo na cobertura noticiosa é uma obrigação”, critica a ombudsman.
Veja o gráfico do Google que mostra as buscas pela empresa Via Varejo (azul) e por Samuel Klein (vermelho) nos últimos dias:
Quando questionada pela imprensa sobre o escândalo, a Via Varejo tem divulgado notas semelhantes. Leia abaixo, a nota publicada originalmente pela Agência Pública:
“Esclarecemos que a família Klein nunca exerceu qualquer papel de controle na Via Varejo, holding constituída em 2011 para gerir as marcas Casas Bahia, Pontofrio, Extra.com.br e Bartira. A holding, que até agosto de 2019 fazia parte do Grupo Pão de Açúcar, é hoje uma corporação independente, sem bloco controlador, como pode ser conferido no link. Dessa forma, não comentamos sobre casos que possam ter ocorrido em período anterior ao da atual gestão da empresa.
A Via Varejo é muito clara em seus valores e princípios de conduta. Repudiamos veementemente todo e qualquer tipo de assédio, práticas ilegais e atos discriminatórios em nossas dependências, incluindo nossa sede administrativa e nossas lojas. Nosso código de ética e conduta, distribuído para todos os nossos colaboradores, é o guia que regula todas as ações da empresa, sendo sua aplicação acompanhada por auditorias independentes.
Somos ainda signatários de diversos acordos e compromissos que oferecem parâmetros institucionais para nossas estratégias de responsabilidade corporativa, como, por exemplo: Princípios de Empoderamento das Mulheres, elaborado pela ONU Mulheres; Coalizão Empresarial de Luta pelo Fim da Violência contra Mulheres e Meninas, liderado pela Avon, ONU Mulheres e Fundação Dom Cabral; Coalizão Empresarial para Equidade Racial e de Gênero, liderado pelo Instituto Ethos, Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT) e Institute for Human Rights and Business (IHRB), com apoio do Movimento Mulher 360 e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).”
*Imagem em destaque: Reprodução