O presidente Jair Bolsonaro indicou que enxerga na decisão do ministro Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), em prol da abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre o combate à covid-19, uma oportunidade para abrir um processo de impeachment de outro ministro da corte, Alexandre de Moraes.
Numa conversa divulgada no fim de semana pelo senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO), Bolsonaro cobra do congressista que a CPI seja ampliada para incluir a análise de ações de combate à pandemia pelos governos estaduais e municipais e diz que é preciso fazer “do limão uma limonada”.
“Por enquanto é um limão que está ai. Dá para sair uma limonada. Tem que peticionar o Supremo para botar em pauta o impeachment [de ministros do STF]”, disse Bolsonaro a Kajuru.
O raciocínio por trás da fala do presidente é de que, como Barroso ordenou a abertura da CPI da covid-19 porque todos os requisitos técnicos haviam sido cumpridos, algo semelhante acontecerá em relação a uma denúncia apresentada ao Senado contra o ministro Moraes pelo próprio Kajuru.
O senador denunciou Moraes alegando que ele usa um inquérito aberto pelo STF para intimidar políticos, e que usou isso para prender o deputado Daniel Silveira (PSL-RJ) em 16 de fevereiro por um vídeo em que o deputado defende medidas antidemocráticas, como o AI-5, e instiga a adoção de medidas violentas contra a vida e a segurança dos ministros do STF. A decisão de Moraes foi referendada pelo plenário do STF em 17 de fevereiro.
Kajuru abriu um processo no STF na semana passada pedindo que a corte se manifeste sobre o andamento da denúncia contra Moraes. Na conversa divulgada pelo senador, Kajuru diz que “se ele [Barroso] fez com a CPI, tem que fazer com o ministro”.
Bolsonaro responde: “Sim, sim, tá ok”. Em seguida, acrescenta: “Eu acho que o que vai acontecer: eles vão é ponderar tudo, não tem nem CPI, nem tem investigação de ninguém do Supremo.” O presidente também diz que é a favor de “botar tudo para a frente”, desde que a CPI sobre a covid inclua prefeitos e governadores.
“Se não mudar [o alcance da CPI], vai simplesmente ouvir o Pazuello, gente nossa, para fazer relatório sacana”, disse Bolsonaro em um ponto anterior da conversa.
Gustavo Nicoletta / Agência CMA (g.nicoletta@cma.com.br)
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