Nessa quinta-feira, 18, dois diretores do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Raphael Bostic e John Williams, praticamente descartam cortes de juros nos Estados Unidos ainda neste ano.
As palavras dos executivos ressoaram pelo mercado financeiro. Atualmente, apenas 45,8% dos analistas do mercado americano acreditam que haverá cortes nos juros a partir de setembro, e essa é a visão mais otimista.
Para a reunião de julho, 58,5% das apostas são pela manutenção dos juros, enquanto os cortes — independente do tamanho — representam 41,5%.
Para explicar o que acontece nos Estados Unidos, a maior economia do mundo, o Monitor do Mercado preparou uma reportagem sobre cada ponto a ser levado em consideração.
Presidente do Fed de Atlanta
O presidente do Federal Reserve de Atlanta, Raphael Bostic, disse agora a tarde, em seu discurso na Flórida, que o Federal Reserve não pode reduzir as taxas de juros até o fim do ano.
Ele destacou que a inflação nos Estados Unidos está acima do esperado, mas garantiu que, apesar de caminhar mais lentamente, o banco tem ferramentas para levá-la a meta de 2%. E uma das principais ferramentas para conter a inflação são as taxas de juros.
Bostic também projetou um aumento do Produto Interno Bruto (PIB), descartando a possibilidade de uma recessão.
No mês passado, o chefe do Fed de Atlanta disse que esperava apenas um corte de juros no ano. Em entrevista a repórteres, ele afirmou estar menos confiante no rumo da inflação do que em dezembro, observando “algumas coisas preocupantes”.
Presidente do Fed de Nova York
O presidente do Fed de Nova York, John Williams, reforçou as falas recentes de seus colegas sobre a pouca urgência em cortar juros diante dos dados que apontam economia robusta nos EUA. “Os dados estão muito bons, não sinto urgência em cortar juros”, disse.
Para ele, os juros, no atual patamar — 5,25% e 5,50% —, não desaceleraram a economia e é isso que guiará a flexibilização monetária. Além disso, Williams falou que “eventualmente os juros precisão ser cortados e o momento certo é a economia que vai dizer”.
Por que os juros estão altos nos EUA?
Precisamos entender que a taxa básica de juros é um mecanismo dos bancos centrais para desacelerar a economia e, assim, controlar a inflação. Ou seja, conforme a inflação sobe, os juros tendem a subir também.
Nos Estados Unidos, tudo começou com a pandemia da Covid-19 e a guerra entre Ucrânia e Rússia, que fizeram a inflação disparar, subindo exponencialmente e chegando a maior inflação em 40 anos em 2022 (9,1%).
Em maio de 2023, depois de 10 altas consecutivas, o Federal Reserve parece ter encontrado um intervalo estável para controlar a inflação (entre 5,25% e 5,50% ao ano).
De lá para cá, a manutenção de juros dura 7 reuniões do Fomc (Federal Open Market Committee) — reunião com os dirigentes que define a política monetária do país.
Tudo indicava um corte de juros ainda em maio deste ano. Em dezembro, 95% do mercado esperava um corte pelo Fed. Com o corte praticamente certo, investidores de todo o mundo ajustaram seus investimentos.
Em 4 meses, houve uma reviravolta. Os dados de inflação, impulsionados pela guerra em Israel e a venda de imóveis, não caminharam como o banco esperava, fazendo com que o corte fosse adiado e, posteriormente, descartado, mexendo com todo o mercado global.
Como funciona a divisão do Fed
O Federal Reserve está dividido em 12 distritos, cada um supervisionado por um banco regional do Federal Reserve, que atua como um braço operacional do Federal Reserve System em sua região.
Cada distrito é responsável por implementar a política monetária e supervisionar bancos dentro de sua jurisdição. Suas principais responsabilidades incluem:
- Implementação da política monetária: os bancos regionais participam do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc), que define a política monetária nacional. Eles executam transações diárias de mercado aberto para ajustar a oferta de dinheiro e as taxas de juros conforme necessário;
- Supervisão bancária: os bancos regionais supervisionam e regulam instituições financeiras dentro de sua área, garantindo a estabilidade e a segurança do sistema bancário;
- Pesquisa econômica: realizam pesquisas e análises econômicas regionais para informar as políticas monetárias e econômicas;
- Serviços ao sistema financeiro: oferecem serviços bancários, incluindo a compensação de cheques, serviços de transferência eletrônica e armazenamento de moeda para bancos membros.
Cada banco é governado por um conselho de diretores composto por representantes do setor bancário, comércio e comunidade. O presidente de cada banco regional faz parte do Fomc, que determina as políticas monetárias nacionais.