Mesmo em período de entressafra, quando a demanda por exportações tende a cair, exportadores de café no Brasil continuam enfrentando dificuldades nos portos. Desde junho de 2024, os prejuízos acumulados já chegam a R$ 73,2 milhões, segundo levantamento do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) com seus associados.
O Cecafé aponta que, apenas em abril, mais de 737 mil sacas de 60 kg não foram embarcadas, gerando R$ 6,6 milhões em custos extras.
Esses custos envolvem armazenagem adicional, taxas de detenção (detentions), antecipação de gates e pré-stacking — etapas necessárias quando há atrasos ou mudanças na programação dos embarques.
Impacto do atraso no embarque do café na balança comercial
A impossibilidade de embarque do café afetou diretamente a entrada de divisas no país. Segundo o Cecafé, apenas em abril, o Brasil deixou de arrecadar US$ 328,6 milhões (cerca de R$ 1,9 bilhão) em receita cambial.
O cálculo considera o preço médio de exportação Free on Board (FOB) de US$ 445,47 por saca e a cotação média do dólar a R$ 5,7831.
Problemas nos principais portos
O Porto de Santos, responsável por quase 80% dos embarques de café entre janeiro e abril, apresentou 58% de atrasos ou alterações de escala em abril. Das 171 embarcações esperadas, 99 tiveram problemas no cronograma. Um navio chegou a esperar 31 dias para embarcar.
No Rio de Janeiro, segundo maior porto exportador do produto, 67% das operações registraram atrasos em abril. Dos 39 navios programados, 26 tiveram mudanças. O tempo máximo entre o primeiro e o último prazo de embarque foi de 15 dias.
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Setor cobra agilidade do poder público
O diretor técnico do Cecafé, Eduardo Heron, destaca que, embora haja promessas de investimentos em infraestrutura, como o leilão do terminal Tecon Santos 10 e a concessão do canal de entrada marítima, é preciso urgência.
Heron critica a possibilidade de limitar a participação de armadores (empresas de transporte marítimo) no leilão do Tecon Santos 10, o que poderia atrasar ainda mais o processo com eventuais judicializações.
“Essas melhorias podem demorar até cinco anos. É necessário acelerar as decisões e permitir ampla participação, especialmente de empresas com expertise em movimentação de cargas”, afirmou.
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Produtores de café também são prejudicados
Segundo Heron, os entraves logísticos também impactam o produtor. Em 2024, o Brasil repassou, em média, 88,3% do valor FOB ao produtor de café arábica e 96,5% ao de canéfora (robusta e conilon). Com as exportações travadas, esses valores deixam de chegar ao campo.
O Cecafé segue dialogando com autoridades e entidades do setor logístico para buscar soluções imediatas. O objetivo é garantir fluxo eficiente para as próximas safras e mitigar os prejuízos causados pela infraestrutura portuária defasada.