A inflação persistente e acima da meta oficial continua a corroer o poder de compra dos brasileiros, enquanto o custo elevado do crédito impede que muitas famílias consigam equilibrar suas contas. Como resultado, o país encerra 2024 com um recorde de 73,10 milhões de pessoas endividadas, de acordo com o Serasa. Esse é o segundo maior número do ano, atrás apenas de abril, e um forte indicativo do crescimento da inadimplência.
Com os preços de itens básicos como alimentos e bebidas acumulando alta de 8% no ano, e as taxas de juros no maior patamar dos últimos tempos, o impacto no bolso dos consumidores é devastador. A maior parte dos endividados tem entre 41 e 60 anos (35,1%), mas a situação afeta todas as faixas etárias, reforçando um cenário de restrições financeiras para milhões de famílias brasileiras.
Juros altos para conter a inflação e o impacto no bolso
Para tentar controlar uma inflação que fechou 2024 em 4,71%, acima do teto da meta de 4,50%, o Banco Central manteve as taxas de juros elevadas ao longo do ano. No entanto, essa estratégia trouxe um custo pesado para os consumidores, tornando financiamentos, empréstimos e renegociações cada vez mais caros.
Segundo Liliam Carrete, professora de administração e finanças da FEA-USP, contrair dívidas nesse cenário é altamente prejudicial. “Os juros altos consomem uma parte significativa da renda futura, tornando ainda mais difícil sair do ciclo de endividamento. Isso impacta desde a capacidade de honrar compromissos financeiros até a qualidade de vida das famílias”, explica.
Além disso, o peso das altas taxas se reflete em um aumento do custo de crédito para bens básicos e em dificuldades para renegociar dívidas. O cartão de crédito, por exemplo, figura entre as modalidades com os maiores encargos, tornando-se um dos principais vilões do endividamento no país.
Um cenário desafiador para 2025
Com a taxa de juros em seu pico nos últimos anos, o endividamento no Brasil se torna uma armadilha perigosa, destaca Liliam Carrete. “Endividar-se significa assumir altos compromissos financeiros, com juros que vão comprometer a renda futura. O ideal é reduzir o consumo e quitar o máximo de dívidas possível antes de 2025”, aconselha.
Porém, em um período repleto de estímulos ao consumo, como as festas de fim de ano, frear os gastos é uma tarefa desafiadora. “Apesar disso, o sacrifício agora pode evitar um peso ainda maior ao longo de 2025”, alerta Liliam.
A especialista também destaca a importância de renegociar dívidas no início do próximo ano, especialmente aquelas que comprometem mais de 30% da renda mensal. “Comece pelas dívidas mais caras, como o cartão de crédito. Se necessário, priorize pagamentos essenciais, como alimentação e moradia, mesmo que isso signifique abrir mão de bens como veículos.”
Inflação e suas consequências
Embora a inflação de dezembro tenha desacelerado para 0,34%, a alta acumulada no ano impactou severamente itens básicos. Óleo de soja (9,21%), alcatra (9,02%) e contrafilé (8,33%) estão entre os maiores vilões do orçamento. Por outro lado, o preço da energia elétrica residencial caiu 5,72% em dezembro, ajudando a conter o avanço do índice.
Ainda assim, o custo de vida elevado, combinado com o endividamento recorde, projeta um início de 2025 financeiramente apertado para milhões de brasileiros. Especialistas reforçam a necessidade de disciplina financeira, renegociação de dívidas e redução de gastos para atravessar esse cenário desafiador.