O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, completou 100 dias de seu segundo mandato nesta semana, marcando o início de uma nova fase de instabilidade nos mercados globais.
Desde que reassumiu a Casa Branca, em 20 de janeiro, Trump implementou políticas que provocaram turbulência nos mercados financeiros e mudaram o fluxo de capital global.
“O mundo vive a revolução do bom senso.” Assim Donald Trump definiu, na última terça-feira (29), os 100 primeiros dias de seu segundo mandato como presidente dos Estados Unidos — período que, segundo ele mesmo, “gerou as maiores consequências em anos”.
- Mercado volátil? Sem estratégia, a chance de erro é maior. Baixe o eBook gratuito de Guto Gioielli e aprenda a decidir com inteligência.
Tarifas, tensão e reprecificação global
A principal medida protecionista liderada por Trump logo nos primeiros dias de seu mandato foi o lançamento de uma nova guerra tarifária. O presidente norte-americano impôs tarifas a dezenas de países, sob a justificativa de proteger a economia dos EUA.
O impacto direto dessas tarifas foi a perda de bilhões de dólares nas bolsas mundiais, o questionamento do “excepcionalismo americano” e uma reversão na lógica do mercado: até mesmo os Treasurys, títulos do Tesouro dos EUA considerados os mais seguros do mundo, passaram a ser avaliados com cautela por grandes bancos.
Esse movimento gerou forte instabilidade nos mercados acionários, prejudicando principalmente os próprios índices americanos.
Segundo levantamento da consultoria Elos Ayta, três dos quatro piores desempenhos entre os 21 principais índices globais em dólares são dos Estados Unidos: Nasdaq (-11,53%), S&P 500 (-7,80%) e Dow Jones (-7,50%).
O caso mais grave, porém, veio da Argentina. O S&P Merval recuou 22,8%, refletindo tanto o impacto externo quanto fragilidades internas.
Espanha lidera ganhos, mas Ibovespa também avança
O levantamento da Elos Ayta também revela que o índice espanhol IBEX liderou os ganhos com alta de 26,6% em dólares, seguido pelo IPyC do México (+23%) e o FTSE MIB da Itália (+19,56%).

O Brasil também se beneficiou desse realinhamento. O Ibovespa subiu 17,3% no mesmo período, ocupando a oitava posição global. Entre os mercados latino-americanos, ficou atrás apenas de México, Chile (+19,13%) e Colômbia (+18,94%).
Esse movimento indica uma busca dos investidores por mercados considerados menos expostos às políticas de Trump e com maior potencial de valorização no curto prazo.
Dólar perde força e real se torna mais atrativo
A escalada da guerra comercial e a incerteza monetária também pressionaram o câmbio. Das 27 moedas analisadas pela Elos Ayta, 23 se valorizaram frente ao dólar desde o início do novo mandato de Trump.
A maior valorização foi do rublo russo (+24,98%), seguido pela coroa sueca (+16,3%) e pelo franco suíço (+12,2%). O real brasileiro teve a 10ª maior alta, com valorização de 7,14%. Na América Latina, apenas o peso chileno, com alta de 7,98%, teve desempenho superior.
Entre as quatro moedas que se desvalorizaram frente ao dólar estão o peso argentino (-10,14%), a lira turca (-7,54%), a rupia indonésia (-2,01%) e o novo shekel israelense (-1,66%).
Trump faz críticas ao Fed e declara apoio a Musk
Donald Trump também tensionou o ambiente doméstico. Atacou diretamente o presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, e sugeriu uma troca inédita no comando da instituição. “Tenho mais conhecimento do que o presidente do Fed”, disse. “Quero ser respeitoso com o Fed, mas sei mais sobre juros do que eles.”
Em discurso nesta terça-feira (29), Trump afirmou que “adora Wall Street, mas prefere a Main Street” — expressão que se refere a pequenos e médios negócios, geralmente alheios ao sistema financeiro tradicional.
O único poupado por Trump foi Elon Musk. O presidente creditou ao bilionário o sucesso do recém-criado Departamento de Eficiência Governamental (Doge, na sigla em inglês), responsável por cortes de gastos e descoberta de fraudes. Musk, no entanto, já anunciou que deve deixar o órgão a partir de maio.
- 📩 Os bastidores do mercado direto no seu e-mail! Assine grátis e receba análises que fazem a diferença no seu bolso.
Sete magníficas perdem US$ 2,67 tri com Trump
Os primeiros 100 dias do segundo mandato de Donald Trump também impactaram fortemente o mercado acionário dos EUA. Segundo levantamento da Elos Ayta, as sete gigantes da tecnologia, apelidadas de Seven Magnificents, perderam, juntas, US$ 2,67 trilhões em valor de mercado desde 20 de janeiro.

Entre essas big techs, a maior queda foi da Nvidia, com recuo de US$ 713 bilhões. Apple e Amazon também perderam centenas de bilhões, puxando o índice Nasdaq para baixo. Ao todo, o mercado norte-americano encolheu US$ 4,87 trilhões no período.
Apesar da sangria, algumas empresas ainda registraram leve recuperação em abril, como Microsoft (+US$ 88 bi) e Tesla (+US$ 31 bi). A pior performance recente foi da Apple, que perdeu US$ 190 bilhões apenas entre os dias 2 e 29 de abril.
- ⚡ A informação que os grandes investidores usam – no seu WhatsApp! Entre agora e receba análises, notícias e recomendações.
Popularidade de Trump ladeira abaixo
A instabilidade econômica e as medidas controversas impactaram a imagem do presidente. Uma pesquisa do Washington Post com a ABC News revela que Trump tem a pior aprovação em 100 dias de mandato nos últimos 80 anos: 39%.
Outro levantamento, feito pelo The New York Times com o Siena College, indica que 66% dos americanos consideram sua gestão “caótica” e 59% a classificam como “assustadora”. Apenas 42% aprovam seu desempenho até agora.
Quase metade dos norte-americanos acredita que a economia deve piorar nos próximos 12 meses, segundo sondagem da CNN.
No comício de comemoração pelos 100 dias como líder dos Estados Unidos em Warren, Michigan, Trump foi enérgico em resposta às decisões judiciais que têm barrado sua política de deportações, dizendo: “Nada vai me parar na missão de manter os Estados Unidos seguros novamente”.