O Banco Central (BC) rejeitou nesta quarta-feira (3) a aquisição do Banco Master (controlado por Daniel Vorcaro) pelo Banco de Brasília (BRB), estatal administrada pelo governo do Distrito Federal.
Em comunicado ao mercado, o BRB afirma que o BC não detalhou as razões do indeferimento e que já solicitou acesso às justificativas. Segundo o Estadão, a estatal pretende insistir na operação avaliando se buscará uma reconsideração do Banco Central ou apresentará uma nova proposta.
O banco informou ainda que, com o indeferimento do Banco Central, o contrato firmado entre as instituições será rescindido conforme os termos estabelecidos. A instituição acrescentou que continuará atualizando seus acionistas sobre os desdobramentos após a rescisão.
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Já o Banco Master afirmou que aguarda acesso à íntegra do documento para analisar os fundamentos da decisão do Banco Central sobre a negociação com o BRB e avaliar as alternativas possíveis.
A instituição destacou ainda que “continua confiante em sua estratégia e operação, que a fizeram se destacar em um mercado altamente concentrado”.
Segundo a Reuters, o banco avalia os próximos passos e declarou que vai procurar mitigar os eventuais riscos identificados pelo Banco Central.
Ainda não há definição sobre os próximos passos, se Daniel Vorcaro seguirá com a venda de ativos, como vinha negociando, ou se o banco poderá ser colocado em intervenção caso não consiga administrar seus passivos.
BRB encontrou resistência do Banco Central
A operação de aquisição foi anunciada em março e, desde então, passou por várias reduções de escopo a pedido do BC, diante de dificuldades na precificação dos ativos.
A análise do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) foi concluída em junho, com aprovação sem restrições, pois a participação combinada das instituições no mercado não excederia 20%.
No formato final, o BRB compraria cerca de R$ 23,9 bilhões em ativos do Master, incluindo pouco mais de R$ 10 bilhões em operações de crédito. O montante representava um terço do total de R$ 75 bilhões em ativos do banco privado.
A versão final excluía a participação de Daniel Vorcaro no controle do conglomerado e buscava, segundo o CEO do BRB, Paulo Henrique Costa, acesso a “tecnologia, pessoas, produtos e clientes em um chassi enxuto e de baixo risco”.
Apesar da redução, fontes próximas à operação apontam que o BC manteve preocupações sobre os riscos, principalmente com a sucessão dos Certificados de Depósito Bancário (CDBs) emitidos pelo Master.
Riscos com CDBs e perfil do Master
O Master cresceu de forma acelerada nos últimos anos com captação agressiva de recursos, oferecendo CDBs com taxas acima da média do mercado, cobertos pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC).
Esses recursos foram aplicados em ativos considerados ilíquidos, como precatórios e investimentos em empresas em dificuldades. Mesmo com parte desses ativos fora da operação, o BC avaliava que o BRB poderia ter corresponsabilidade diante de problemas de liquidez do Master.
Além disso, o desenho para os ativos que não fariam parte do negócio ainda não estava definido, aumentando a preocupação do regulador.
Passivos do Banco Master e impacto no FGC
Segundo o balanço de 2024, o Master tinha R$ 12,4 bilhões em CDBs a vencer até dezembro, frente a um total de R$ 18,3 bilhões em ativos disponíveis no mesmo período. O estoque total de CDBs e CDIs do banco era de R$ 49,8 bilhões.
Em março, de acordo com dados do sistema IFData do BC, o banco tinha R$ 58,5 bilhões em depósitos a prazo, sendo R$ 50 bilhões elegíveis à cobertura do FGC, quase metade da liquidez total do fundo, que era de R$ 107,8 bilhões.
O FGC garante até R$ 250 mil por CPF e instituição em caso de quebra de bancos, mas seu caixa é formado por contribuições das próprias instituições financeiras. Em caso de intervenção ou liquidação do Master, haveria impacto significativo sobre o fundo e, indiretamente, sobre o sistema bancário.
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Aportes de Vorcaro e negociações paralelas
Durante as negociações, Daniel Vorcaro fez dois aportes de R$ 1 bilhão cada no Master. Para levantar os recursos, vendeu R$ 1,5 bilhão em ativos ao BTG Pactual, de André Esteves, e negociava novas vendas, incluindo precatórios e a seguradora Kovr.
Contexto político do veto à compra do Banco Master
A rejeição do Banco Central à compra do Master pelo BRB ocorreu um dia após líderes do Centrão protocolarem requerimento de urgência para tramitação de projeto que permitiria à Câmara, por maioria absoluta, demitir diretores do BC por “atuação incompatível com o interesse nacional”.
O alvo seria o diretor de organização do BC, Renato Gomes, que resistia à operação sem garantias adicionais. Atualmente, apenas o presidente da República pode demitir diretores do BC, em quatro hipóteses específicas.
O ex-presidente do BC, Arminio Fraga, criticou a proposta: “Tudo que está acontecendo é muito estranho. Seria loucura aprovar o projeto”.
Outros ex-presidentes, como Persio Arida e Roberto Campos Neto, também manifestaram oposição.
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Situação do Master leva a novas regras do FGC
A situação do Master foi um dos fatores que levou o Conselho Monetário Nacional (CMN) a aprovar regras mais rígidas para o uso do FGC.
A partir de junho de 2026, o multiplicador da contribuição adicional ao fundo subirá de 0,01% para 0,02%. Além disso, bancos considerados “excessivamente alavancados”, com captações superiores em dez vezes ao patrimônio líquido ajustado, terão de aplicar recursos excedentes em títulos públicos federais, reduzindo riscos.
Segundo o Banco Central, as medidas buscam “desincentivar financeiramente as instituições associadas ao FGC de usar as captações garantidas de forma desproporcional”.