As ações preferenciais da Azul (AZUL4), que não integram o Ibovespa, dispararam 213,3% no último mês, mesmo com a empresa em processo de recuperação judicial nos Estados Unidos (Chapter 11).
A Azul já vinha acumulando altas sucessivas no início de setembro, com valorização de 17,65% no dia 1º, de 19,23% no dia 4 e de 23,66% na última sexta-feira (5).
No entanto, no acumulado do ano, a queda é de 46,8% e, de janeiro até agora, o recuo é de 58,52%.
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Azul dispara 63% e Gol sobe 38% em meio à análise do Cade
Em seus sucessivos ganhos, os papéis AZUL4 tiveram forte valorização em dois pregões consecutivos. Nesta terça-feira (9), às 16h30, as ações registravam alta de 13,91%, cotados a R$ 1,30.
A alta ocorreu em meio à análise do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) sobre o acordo de codeshare firmado entre Azul e Gol em maio de 2024. O codeshare permite que duas companhias compartilhem voos, ampliando conexões em rotas.
Na semana passada, o tribunal do Cade determinou que Azul e Gol notifiquem formalmente o acordo em até 30 dias. Até a conclusão da análise, ficam proibidas de expandir rotas sob esse regime. Se descumprirem a exigência, o arranjo será suspenso, mantendo apenas os bilhetes já emitidos.
Na véspera (8), os papéis da Azul já haviam disparado 63,4%, cotados a R$ 1,88, ficando no quinto lugar entre os mais negociados do dia na B3. O volume de negociações chegou a R$ 311,1 milhões até as 15h, mais que o dobro do giro do pregão anterior.
A forte disparada da Azul na segunda-feira foi explicada por um short squeeze. Nesse movimento, investidores que alugam ações para apostar na queda (venda a descoberto) são forçados a recomprar as ações devido a uma alta repentina dos papéis, acelerando a valorização.
Segundo levantamento divulgado por Einar Rivero, CEO da Elos Ayta, em sua coluna do Money Times, nesta data, a Azul também registrou o maior volume de ações alugadas de sua história, totalizando 189,5 milhões, o equivalente a 36,4% do free float (ações em circulação) da companhia, com taxa média de aluguel de 9,58% ao ano, ocupando a 16ª posição entre as mais altas da B3.
Segundo relatório da XP, 21,4% das ações da Azul estavam em posição vendida até a sexta-feira (5). No levantamento anterior, de 22 de agosto, o percentual era de 19,7%.
Disparada das ações revelam azar no jogo
A análise de Rivero revela que apenas na primeira semana de setembro (de 1º a 8), a ação da Azul acumulou uma valorização de 88,75%, atingindo 122,06% no acumulado do mês até o dia 8.
Esse movimento transformou a estratégia de venda de ações em perdas significativas para os investidores que apostaram na desvalorização dos papéis, cuja cotação passou de R$ 0,69 para cerca de R$ 1,60 em apenas sete dias.
O especialista ressalta ainda que esse cenário se agravou com o grande volume de papéis alugados. Segundo Rivero, “Com um volume médio de negociação de 39,4 milhões de ações por dia nos últimos 30 pregões, seriam necessários 4,9 dias inteiros de negociação para liquidar o estoque de posições alugadas, sem considerar novos movimentos de compra”.
O volume de negociação da Azul também foi notório neste mês. Até o dia 8, a Azul somava um volume financeiro de R$ 120,6 milhões, quase o dobro da média de R$ 64,2 milhões registrados no acumulado de 2025.
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Gol acompanha movimento da Azul
A Gol (GOLL54) também mostrou bom desempenho neste mês, com histórico de ganhos de 10,35% no dia 1º e de 7,83% no dia 5. Desde sua estreia na B3, em 12 de junho, os papéis já acumulam alta de 32%.
Na segunda-feira (8), subiu 38,6%, cotada a R$ 8,40, também em leilão. O volume de negociação foi de R$ 8,76 milhões, mais que o dobro dos R$ 3,19 milhões registrados na última sexta-feira (5).
Nesta terça-feira (9), simultaneamente à disparada dos papéis da Azul, os papéis da Gol tinham alta de 7,61%, cotados a R$ 7,64.
O movimento, no entanto, foi revertido no início da tarde, quando as ações passaram a cair e agora cedem 6,48%, negociadas a R$ 6,64.
IPS Consumo entra em processo no Cade
O Instituto de Pesquisas e Estudos da Sociedade e Consumo (IPS Consumo) anunciou que pretende ingressar como terceiro interessado no processo no Cade.
Segundo a presidente Juliana Pereira da Silva, “A ideia é fazer o papel de defesa dos consumidores do transporte aéreo. A gente vai seguir analisando o que eles (conselheiros do Cade) vão fazer e nos oferecemos também para, como terceiro interessado, apontar principalmente aquilo que a gente entende que está deixando a desejar do ponto de vista do direito do consumidor. Tem várias questões que ficam cinzentas nesses momentos. E o consumidor médio brasileiro precisa ter clareza.”
O instituto acusa a Azul, assim como a Gol, de terem assinado o acordo “em antecipação à fusão anunciada” e alerta para riscos de redução de voos, exclusão de rotas, aumento de tarifas e queda nos incentivos a investimentos.
Companhias defendem acordo
A Azul nega relação entre o acordo e uma eventual fusão. Em comunicado, afirmou que a parceria é benéfica para os clientes, permitindo conexões em rotas complementares, “sem qualquer coordenação de malha ou prática de gun jumping”.
A Gol também defendeu o arranjo, destacando que o codeshare é prática comum no setor aéreo e que “respeita e cumpre todos os procedimentos e decisões dos órgãos reguladores”.
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Riscos do short squeeze
Einar Rivero alerta sobre como o episódio da Azul ilustra os riscos da venda a descoberto para investidores pessoa física. Ainda que o short squeeze seja um evento raro, ” tende a ocorrer em situações de concentração elevada de posições alugadas em relação ao free float, combinada a movimentos abruptos de valorização”.
Por isso, destaca medidas como gestão de risco, diversificação e o acompanhamento de métricas como taxa de aluguel e volume de papéis alugados como ferramentas essenciais para lidar com cautela com esse tipo de exposição.