A Azevedo & Travassos (AZEV4) comunicou nesta terça-feira (23) que seu acionista Camaçari Fundo de Investimento em Participações Multiestratégia vendeu a totalidade de suas ações à Nemesis Brasil Participações.
O contrato tem o valor total de R$ 94,3 milhões e inclui 88.585.918 ordinárias, com preço unitário de R$ 0,39, e 149.398.219 preferenciais, equivalentes a 40,15% do capital social da companhia, antes detidos pelo fundo.
O pagamento será realizado em dez parcelas anuais, com início em 23 de setembro de 2026.
Com essa aquisição, a Nemesis passou a deter 54,38% do capital total da Azevedo & Travassos e deverá apresentar pedido de registro de oferta pública de aquisição de ações (OPA) a todos os acionistas para fechamento de capital, oferecendo o mínimo de 80% do valor pago na operação.
O pedido, no entanto, ainda deve ser protocolado junto à Comissão de Valores Mobiliários (CVM ).
- Enquanto você lê esta notícia, outros investidores seguem uma estratégia validada — veja como automatizar suas operações também.
Controle da Azevedo & Travassos após saída da Reag
O controle assumido pela Nemesis decorre da venda da participação que a Reag Investimentos (alvo da Operação Carbono Oculto deflagrada em agosto), possuía na Azevedo & Travassos por meio do Camaçari Fundo.
Em meio aos desdobramentos da operação, o fundador da Reag, João Carlos Mansur, renunciou à presidência do Conselho de Administração e à posição de membro do colegiado.
Atualmente, a Operação Carbono Oculto, da Polícia Federal, investiga supostos elos da Reag com o crime organizado e indica que mais de uma dezena de fundos administrados pela gestora teriam sido usados para fins ilícitos.
Com a repercussão do caso, o grupo Azevedo & Travassos iniciou tratativas para a venda de outros negócios, incluindo a Ciabrasf, a Reag Investimentos e a gestora de crédito Empírica.
A Reag estava no grupo há pouco mais de um ano, quando a construtora cindiu sua divisão de petróleo e se fundiu com as empresas MKS e Aviva, controladas pela Reag e pela 4i Capital, para aumentar sua atuação no setor de infraestrutura.
Fundo vende subsidiária MKS Soluções
Paralelamente à aquisição anunciada nesta terça-feira, o acionista Camaçari fechou um acordo com a Azevedo & Travassos para vender a subsidiária MKS Soluções Integradas por R$ 1.
A operação ainda depende de aprovação em Assembleia Geral Extraordinária e deve garantir aos acionistas direito de preferência na aquisição das ações da MKS.
Azevedo & Travassos financia R$ 460 milhões com JiveMauá
Na mesma data, o grupo ainda anunciou um acordo com a gestora JiveMauá Investimentos (administradora de R$ 25 bilhões) para obtenção de financiamento de longo prazo de até R$ 414 milhões, destinado às concessões de infraestrutura Rota Verde e Rota Agro.
O acordo inclui ainda um empréstimo-ponte de até R$ 50 milhões, com prazo inicial de seis meses, prorrogável por até três.
Segundo a companhia, os recursos do financiamento serão utilizados para pagamento de custos e despesas correntes da empresa e de suas subsidiárias, bem como para investimentos no Complexo de Energias Boaventura, projeto desenvolvido junto à Petrobras (PETR4).
A empresa informou que manterá acionistas e mercado atualizados sobre o andamento das operações e implementação do memorando de entendimento (MoU).
Empresa alega urgência de capital
A Azevedo & Travassos iniciou negociações com a JiveMauá e outras gestoras devido à urgência em receber recursos, contando que deve apresentar à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) R$ 400 milhões em capital regulatório das concessões, com parcelas a serem cumpridas em outubro e dezembro de 2025.
Segundo Alexandre Cruz, CEO da JiveMauá, “os ativos das concessões foram disputados e estavam encapsulados numa companhia com problemas de liquidez e controle societário.”
Samer Serhan, sócio responsável por Crédito Privado, Infraestrutura e Previdência da JiveMauá, explicou que os recursos virão de dois fundos da gestora:
- R$ 50 milhões do fundo de special situations
- R$ 414 milhões do fundo de infraestrutura, mesclando equity e crédito privado.
“Os pedágios começam a entrar rapidamente, já os contratos com a Petrobras demoram mais a performar. Com a empresa saneada, depois a operação pode migrar para outros fundos com condições melhores”, disse Serhan.
- Chega de operar no escuro: conheça a ferramenta que automatiza seus investimentos — acesse agora e fale com nosso time no WhatsApp.
Histórico recente da Azevedo & Travassos
Fundada em 1922, a Azevedo & Travassos é listada na Bolsa de Valores brasileiras (B3) desde o início deste ano e passou a concentrar suas operações em prestação de serviços de engenharia e gestão de concessões de saneamento básico e rodovias.
Em dezembro de 2024, a empresa ganhou a concessão da Rota Verde, em Goiás, com trecho que vai de Rio Verde a Goiânia e outro de Rio Verde a Itumbiara.
Em agosto recente, o consórcio da companhia venceu a concessão da Rota Agro, um corredor de 490 km entre Rondonópolis (MT) e Rio Verde (GO), com investimentos previstos de R$ 4,4 bilhões.
Bruno Gomes, sócio responsável pela estratégia de Distressed & Special Sits da gestora, destacou que juntas, a Rota Verde e a Agro preveem investimentos de R$ 13 bilhões em 20 a 30 anos, colocando a JiveMauá em posição de liderança do financiamento.
“É uma situação que conhecemos a fundo, de empresas com problemas e bons ativos. São duas concessões que podem unir fundos com perfis diferentes e complementares, trazendo soluções de capital inteligente”, acrescentou.