A Ambipar (AMBP3) teria promovido mudanças profundas em sua diretoria dias antes de entrar com o pedido de medida cautelar contra credores, já se preparando para uma eventual recuperação judicial, conforme publicado pelo Pipeline, do Valor Econômico, nesta segunda-feira (29).
A apuração revela que no dia 19 de setembro, João Arruda, ex-Bank of America, deixou o cargo de diretor-financeiro (CFO). Na mesma data, Mauro Nakamura, diretor jurídico, também foi desligado.
Nos dias seguintes, a empresa demitiu Lilian Nascimento (Compliance), Fabio Armani (Recursos Humanos) e Marcia Sarro (Integração), além de subordinados desses executivos.
Pedro Borges Petersen já havia deixado a diretoria de relações com investidores em 15 de setembro, sendo substituído por Ricardo Rosanova Garcia, ligado ao acionista controlador Tércio Borlenghi. Rosanova teria acumulado ainda a função de CFO após a saída de Arruda.
Os executivos dispensados pela Ambipar estavam há menos de um ano na companhia e foram contratados como parte de uma estratégia para fortalecer a governança corporativa e melhorar a relação com investidores, segundo a empresa.
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O conselho da Ambipar foi construído sobre nomes de peso: uma semana antes das demissões, em 16 de setembro, a Ambipar havia anunciado a revisão de sua estrutura de governança.
A medida incluía a entrada da ex-ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira e do ex-diretor da OMC Roberto Azevedo como conselheiros sêniores, segundo documento arquivado na Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Ambipar contrata BR Partners para reestruturação de dívida
A Ambipar acumula um passivo de US$ 550 milhões relacionado a títulos verdes. Para lidar com a situação, contratou o banco BR Partners para assessorar as negociações, enquanto circulava a notícia de que a empresa mantinha conversas avançadas com a Seneca Evercore.
Ainda segundo o Pipeline, um grupo de detentores de títulos de dívida da Ambipar emitidos no exterior teria contratado o Houlihan Lokey como assessor financeiro para negociar com a empresa.
Esses credores também contam com os escritórios Padis Mattar e Davis Polk como assessores jurídicos e se preparam para um possível processo de recuperação judicial no Brasil e nos Estados Unidos (Chapter 11).
Do lado da companhia, a Ambipar contratou os escritórios Galdino Advogados, Salomão Advogados e o banco BR Partners.
Após o anúncio da contratação do assessor financeiro, as ações da Ambipar subiram 21,47% no pregão de 29 de setembro, negociadas a R$ 10,75.
Pedido de cautelar contra credores e reação do mercado
A Ambipar obteve 25 de setembro por meio da 3ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro uma liminar que suspendia, por 30 dias prorrogáveis, a cobrança de dívidas superiores a R$ 10 bilhões, resultado principalmente de aquisições realizadas antes do ciclo de alta de juros.
A decisão foi assinada pelo juiz Leonardo de Castro Gomes. Os bancos credores, ABC Brasil, Bradesco, Banco do Brasil, Santander, Sumitomo Mitsui Brasileiro e Itaú, contestaram a escolha do foro do Rio de Janeiro, alegando que a sede da holding, o conselho de administração e os principais contratos estão em São Paulo.
No dia da liminar (25 de setembro), a Ambipar perdeu R$ 4 bilhões em valor de mercado. As ações chegaram a cair mais de 60% no pregão, encerrando o dia com uma desvalorização de 24,24%, a segunda maior desde o IPO, segundo dados da consultoria Elos Ayta.
Nos dois dias anteriores, a empresa já havia perdido R$ 7,75 bilhões em valor de mercado, acumulado perdas de R$ 11,16 bilhões em uma semana.
A companhia saiu de R$ 45 bilhões para cerca de R$ 12 bilhões em capitalização em menos de um ano, o que acendeu alerta entre investidores sobre sua capacidade de recuperação no curto prazo.
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Histórico recente e investigações
Em dezembro de 2024, as ações chegaram a R$ 268 após um movimento de short squeeze, que forçou investidores a recomprar papéis em queda.
A CVM investigou o caso, levantando a hipótese de manipulação de preços e recomendou uma Oferta Pública de Aquisição (OPA). O colegiado, no entanto, dispensou a obrigação, decisão que recebeu críticas no mercado.
Um relatório técnico do órgão também apontou ganhos de cerca de R$ 260 milhões com o uso de ações para quitar obrigações.