A Usiminas (USIM5) foi uma das primeiras empresas listadas na B3 a divulgar seus números trimestrais, mas não deixou uma boa impressão após reportar um prejuízo recorde de R$ 3,5 bilhões no terceiro trimestre, revertendo o lucro de R$ 185 milhões de um ano atrás.
De acordo com o relatório divulgado pela empresa nesta sexta-feira (24), a perda bilionária reflete principalmente as baixas contábeis (impairment) em ativos de siderurgia e impostos diferidos.
O resultado veio muito abaixo das projeções do mercado, que estimavam lucro de R$ 33 milhões. Segundo dados do Valor Data, trata-se do maior prejuízo da empresa desde 2011. O pior resultado anterior foi registrado no quarto trimestre de 2015, com perda de R$ 1,63 bilhão.
Como reação do mercado ao prejuízo recorde, às 12h (horário de Brasília), as ações da Usiminas (USIM5) lideravam as perdas do Ibovespa, com queda de 2,62%, negociadas a R$ 4,84.
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O presidente da Usiminas, Marcelo Chara, ressaltou que a empresa encerrou o trimestre com sinais de recuperação nas principais frentes de negócio, destacando o aumento do volume de siderurgia, melhores preços e volumes na mineração e maior geração de caixa, além da redução da alavancagem financeira.
Apesar dos resultados positivos, Chara destacou preocupação com o avanço das importações de aço, especialmente da China, que cresceram 33% em relação ao mesmo período de 2024, em um contexto de excesso de capacidade global e práticas comerciais consideradas “desleais”.
“Não estamos sentindo os efeitos das medidas cota-tarifa, mas temos confiança técnica do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços) para tomar medidas contra as importações”, afirmou Chara.
O presidente citou que países como Estados Unidos, México e União Europeia já adotaram mecanismos de defesa comercial e espera que o Brasil siga o mesmo caminho para “corrigir distorções no mercado de aço” e restabelecer isonomia competitiva.
Baixas contábeis pesam na linha final do balanço
A linha final do balanço foi afetada por uma uma análise de recuperabilidade de seus ativos, baseadas no ambiente macroeconômico e na situação de mercado, o que resultou em uma perda por impairment (desvalorização) de ativos no valor de R$ 2,2 bilhões, além de R$ 1,4 bilhão pela avaliação de recuperabilidade de impostos diferidos”.
“Com isso, a companhia registrou prejuízo líquido de R$ 3,5 bilhões, R$ 3,6 bilhões inferior ao lucro líquido apresentado no trimestre anterior (R$ 128 milhões)”, diz o documento.
Essas baixas contábeis impactaram diretamente o lucro operacional, que atingiu R$ 2,07 bilhões, o segundo pior resultado da série histórica, atrás apenas do quarto trimestre de 2015, quando a perda foi de R$ 2,17 bilhões.
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Receita da Usiminas também recua
A receita líquida da Usiminas somou R$ 6,6 bilhões entre julho e setembro, valor que representa uma queda de 3% em relação ao mesmo trimestre de 2024. O resultado, porém, superou as estimativas de alguns analistas, que previam R$ 6,46 bilhões.
O Ebitda ajustado (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização — indicador usado para medir o desempenho operacional) ficou em R$ 434 milhões, o que representa um avanço de 2% em um ano e de 6% em relação ao segundo trimestre de 2025.
Já a margem Ebitda ajustada foi de 7%, alta de 0,3 ponto percentual frente ao mesmo trimestre de 2024. Sem os efeitos contábeis extraordinários, a Usiminas informou que teria registrado lucro líquido de R$ 108 milhões.
“A Usiminas apresentou evolução positiva no Ebitda e na geração de caixa do terceiro trimestre, apesar da pressão cada vez maior das importações em condição de competição desleal, principalmente de origem chinesa”, afirmou a companhia.
Minério em alta, aço em baixa
O volume de vendas de aço somou 1,1 bilhão de reais, equivalente à queda de 2% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior.
Já o volume de vendas de minério de ferro cresceu 9% no mesmo intervalo, para 2,5 milhões de toneladas, favorecendo a receita líquida da unidade de mineração.
Segundo a empresa, o segmento de mineração ajudou a compensar parcialmente o desempenho mais fraco da divisão de siderurgia, pressionada pela concorrência das importações, principalmente de origem chinesa.
Desafios da Usiminas ante a guerra comercial
O vice-presidente comercial, Miguel Homes, reforçou que o setor vive uma “guerra comercial” provocada pelo excesso de capacidade global, pressionando mercados do Brasil, EUA e União Europeia: “Estamos confiantes nas aplicações de medidas antidumping. As determinações devem vir nos próximos meses”, disse.
Segundo a diretoria, a sobrecapacidade chinesa tem provocado distorções de preços e aumento de exportações abaixo do custo, levando países a adotar mecanismos de defesa comercial.
Nesse contexto, Chara afirmou que a Usiminas possui capacidade ociosa para absorver parte da demanda e da concorrência que chega ao Brasil.
Já em relação à política de preços, Homes destacou que os ajustes recentes tiveram impacto limitado sobre a inflação e não devem influenciar o IPCA: “O impacto dos ajustes de preços sobre a inflação foi baixo. Por isso, não acreditamos que isso terá reflexo no IPCA.”
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Usiminas reduz estimativas para o próximo trimestre
A Usiminas informou que espera volumes de vendas de aço menores no quarto trimestre, em razão da sazonalidade típica do período, enquanto os preços devem se manter estáveis.
Para o mercado, o balanço reflete impactos contábeis não recorrentes, mas também desafios estruturais enfrentados pelo setor siderúrgico nacional, como a queda da demanda interna e o aumento das importações com preços mais baixos.
Após avaliar os resultados divulgados, o BTG reafirmou indicação neutra para Usiminas, com preço-alvo a R$ 5, considerando que a empresa reportou um Ebitda amplamente em linha com as expectativas do mercado.
O banco destaca que a divisão de aço apresentou margem Ebitda de apenas 5%, a mais baixa entre os pares, o que é um sinal do ambiente extremamente desafiador.
Já o Citi, reiterou recomendação neutra para Usiminas, com preço-alvo a R$ 4,75. O banco avalia que os resultados foram ofuscados pela bilionária baixa contábil que pressionou a última linha do balanço.









