A confiança do consumidor brasileiro voltou ao patamar de pessimismo em maio, após dois meses de recuperação, segundo o Índice de Confiança do Consumidor (ICC), calculado pelo Instituto Ipsos. O índice marcou 48,6 pontos — abaixo de 50 costuma indicar uma percepção predominantemente negativa da população sobre a economia.
Esse é o menor nível desde agosto de 2022. Na comparação com abril, a queda foi de 2,7 pontos. Já em relação a maio do ano anterior, a retração foi de 3,1 pontos, a sexta maior entre os 30 países pesquisados.
O Brasil caiu da 10ª para a 13ª posição no ranking global de confiança do consumidor. Em fevereiro deste ano, o índice já havia ficado abaixo de 50 pontos pela primeira vez desde o início do atual mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Pressões internas influenciam pessimismo
Para Marcos Calliari, CEO da Ipsos no Brasil, a reversão do otimismo está diretamente ligada ao ambiente econômico e político do país.
“Após oscilações positivas por dois meses, o país retoma a tendência mais longa de queda e volta ao nível de pessimismo do consumidor. A reversão de expectativa está alinhada com a recente piora nas perspectivas econômicas”, afirma.
Entre os fatores que explicam o aumento da incerteza, Calliari cita:
- Alta persistente nos preços dos alimentos
- Tensão sobre os juros futuros
- Clima político cada vez mais polarizado
Apesar de algumas notícias positivas nos meses anteriores, elas “aparentam não ser suficientes para reverter mais permanentemente a tendência de queda”, diz ele.
Confiança do consumidor internacional também oscila
A África do Sul liderou as altas no Índice de Confiança do consumidor (ICC) de maio, com ganho de 7,2 pontos, chegando a 50,7 pontos.
Segundo Calliari, a melhora reflete “expectativas mais positivas com a proximidade das eleições e sinais de estabilização no câmbio e no emprego”.
O Canadá teve a segunda maior alta mensal, de 2,8 pontos. O país ocupa agora a 15ª colocação (48,2 pontos), e a melhora foi puxada por dados mais positivos do mercado imobiliário e uma percepção de resiliência econômica.
As maiores quedas mensais foram registradas em:
- Cingapura: -7,7 pontos (caiu da 2ª para a 6ª colocação, com 52 pontos)
- Tailândia: -4,7 pontos (caiu da 6ª para a 11ª, com 49,8 pontos)
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EUA tem terceira queda consecutiva
Os Estados Unidos apresentaram a terceira queda consecutiva: -2,9 pontos em maio, marcando 50 pontos. O país está na 10ª colocação.
“É um sinal claro de desgaste diante de um cenário de juros altos, inflação persistente e desconfiança política”, destaca Calliari.
A Argentina teve leve alta após duas quedas consecutivas, subindo de 46,1 para 47,7 pontos. Ainda assim, continua abaixo da linha de neutralidade (50 pontos).
“Apesar das reformas e do corte de gastos promovidos pelo novo governo, a confiança da população ainda não acompanhou o discurso de recuperação”, diz Calliari.
Economia e custo de vida lideram em pessimismo
Dados da pesquisa Ipsos What Worries the World, divulgada em 5 de maio, mostram que 70% dos brasileiros acreditam que a economia do país vai mal.
Entre as principais preocupações estão:
- Inflação (36%), que, embora tenha caído para o 3º lugar, ainda pesa no cotidiano.
- Aumento da criminalidade
- Problemas na saúde pública
A leve desaceleração dos preços ajudou a amenizar momentaneamente a pressão inflacionária, mas o custo de vida segue elevado e o poder de compra comprometido.
Mesmo nesse cenário, houve um pequeno aumento de dois pontos percentuais na proporção de brasileiros que acreditam que o país está no “caminho certo”.
Trump, tarifas e impactos no Brasil
Nos Estados Unidos, 58% da população acredita que o país segue na direção errada. A corrupção política aparece como segunda maior preocupação, refletindo o descontentamento com medidas recentes do governo.
Entre elas está o novo pacote de tarifas comerciais imposto pelo presidente Donald Trump, que incluiu aumentos sobre produtos importados da China, Canadá e México. A medida gerou críticas generalizadas:
- Parte da população teme que isso aumente os preços ao consumidor
- Há risco de recessão
- A volatilidade e imprevisibilidade das políticas têm afetado a confiança dos investidores
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Consumidor brasileiro avalia políticas de Trump
A pesquisa Ipsos-Ipec feita entre 3 e 7 de abril de 2025 com 2.000 pessoas em 131 municípios mostra que 50% dos brasileiros acreditam que as políticas comerciais de Trump prejudicam a economia do Brasil.
Entre os eleitores de Lula, o índice sobe para 58%. Mesmo entre os de Bolsonaro, 43% compartilham dessa opinião.
Quando a avaliação abrange todo o governo Trump, 49% dos brasileiros o consideram negativo para o Brasil, enquanto 29% avaliam positivamente. Os mais críticos são:
- Eleitores de Lula (61%)
- Moradores de capitais (57%)
“Essa percepção é ainda maior entre os que votaram em Lula, mas mesmo entre eleitores de Bolsonaro ela atinge maioria relativa”, destaca Márcia Cavallari, da Ipsos-Ipec.