Para a Fitch Ratings o nível elevado da taxa básica de juros (Selic) é o principal fator de preocupação no curto prazo para a economia brasileira, enquanto a ameaça de tarifas de 50% por parte do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, terá impacto limitado sobre o perfil de crédito das empresas expostas ao mercado americano.
Em entrevista ao Valor Econômico, Fernanda Rezende, Diretora Sênior de Corporate para a América Latina na Fitch, diz que a permanência da Selic em patamares elevados pressiona a geração de caixa das empresas.
Em junho, o Banco Central elevou a taxa para 15%, um aumento de 4,5 pontos percentuais no ano, como forma de conter a inflação. A expectativa da agência é de que os cortes comecem apenas no início de 2026, com a Selic encerrando o próximo ano em 12%.
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Juros altos, liquidez e volatilidade eleitoral
Apesar do cenário de juros altos, a liquidez das empresas segue robusta. A Fitch aponta, no entanto, que o ano eleitoral de 2026 pode aumentar a volatilidade, levando companhias a antecipar o refinanciamento de dívidas.
Cerca de 23% das dívidas domésticas das empresas analisadas vencem entre 2025 e 2026. No caso das dívidas externas, os vencimentos até o fim de 2026 somam aproximadamente US$ 3 bilhões.
Tarifa deve impactar empresas mais expostas aos EUA
A Fitch analisou 14 companhias com exposição ao mercado americano entre 3% e 50%. Empresas com menor exposição (entre 3% e 10%) incluem Minerva, Raízen, Petrobras, Dexco, Tupy, Vale, CSN, Usiminas e Portobello.
Na faixa intermediária (11% a 30%) estão Eldorado Celulose, Suzano e Prio. A Embraer é a mais exposta, com participação de 31% a 50% no mercado dos EUA.
Segundo a Fitch, o impacto das tarifas dependerá também da estrutura da dívida de cada empresa. No setor de celulose, a Suzano, com maior parte da dívida em dólar, é menos afetada pelos juros domésticos. Já a Eldorado, com dívida em reais, está mais vulnerável ao custo do crédito no Brasil.
Empresas ajustam dividendos para compensar caixa
De acordo com o relatório da Fitch, as empresas têm adotado uma postura mais conservadora em relação à alocação de capital, reduzindo ou adiando investimentos e diminuindo o pagamento de dividendos para compensar o maior consumo de caixa.
A mediana da alavancagem das companhias analisadas, medida pela relação entre dívida líquida e Ebitda, deve se manter estável, em 2,5 vezes neste ano, frente a 2,6 vezes em 2024.
No entanto, a queda nos preços de commodities como celulose, petróleo e minério de ferro pressiona a geração de caixa, o que pode atrasar o ritmo de desalavancagem caso o cenário persista.
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Além dos juros, dívida é entrave para grau de investimento
Segundo Todd Martinez, cochefe de títulos soberanos da América Latina na Fitch, no cenário fiscal, o Brasil deve ser o país mais endividado entre os grandes emergentes nos próximos anos.
A agência projeta que a dívida pública brasileira alcançará 79,3% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2025 e continuará crescendo a uma média de 3 pontos percentuais ao ano.
A falta de consenso entre Executivo e Congresso para avançar em medidas fiscais impede que o Brasil recupere o grau de investimento, perdido há uma década. A Fitch acredita que a janela política para enfrentar o problema só deve se abrir após as eleições de 2026.