O preço do café moído caiu 1,01% em julho, cedendo pela primeira vez desde dezembro de 2023, período em que acumulou avanço de 99,46%, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira (12).
Apesar dessa queda nos preços, o café ainda registra alta acumulada de 41,46% neste ano e de 70,51% nos últimos 12 meses, a maior entre todos os itens acompanhados pelo IBGE no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
De acordo com os números do IPCA, o preço do café moído disparou 77,88% em 12 meses até junho. Essa alta desacelerou de 4,59% em maio para 0,56% em junho.
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Segundo a Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic), a forte alta nos últimos 18 meses foi provocada por eventos climáticos que prejudicaram a safra e pelo aumento da demanda global, especialmente da China, que intensificou o consumo da bebida.
Dados do Visão Agro sobre o preço do café
O Itaú BBA aponta em seu relatório Visão Agro que a boa safra de robusta tende a favorecer a recomposição dos blends, com maior participação desse tipo de grão, movimento limitado nos últimos dois anos, quando houve quebras de safra no Brasil e no Vietnã.
Com expectativa de maior disponibilidade global em 2025/26, a disputa pela matéria-prima entre exportadores, torrefações e a indústria de café solúvel tende a diminuir.
Ainda assim, o banco alerta para possíveis impactos da legislação europeia antidesmatamento (EUDR), que pode levar importadores a antecipar compras, como já ocorreu no ano anterior.
O relatório destaca ainda que a recuperação da demanda interna deve ser gradual e que a alta acumulada nos últimos anos fez parte dos consumidores migrar para cafés de menor valor agregado, tendência que pode continuar mesmo com a recente queda de preços.
O Itaú BBA também chama atenção para a volatilidade cambial. Mesmo que os preços internacionais recuem, uma eventual desvalorização do real pode reduzir ou anular o efeito dessa queda para empresas com custos dolarizados, exposição ao mercado externo ou dívidas em moeda estrangeira.
Segundo estimativa do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), a produção brasileira na safra 2025/26 deve alcançar 40,9 milhões de sacas de café arábica e 24 milhões de sacas de robusta. Em relação ao ciclo anterior, a produção de arábica tende a cair 6,4%, enquanto a de robusta deve crescer 14,8%.
Inflação de julho pressiona preço dos alimentos
O IPCA registrou alta de 0,26% em julho, próximo à variação de junho (0,24%). Os preços dos alimentos recuaram pelo segundo mês consecutivo; em junho, a variação foi de -0,18%.
No acumulado de 12 meses, a inflação oficial ficou em 5,23%, abaixo dos 5,35% registrados no período anterior. Apesar da desaceleração, a taxa segue acima do teto da meta contínua, que é de 4,5% (3% de meta central com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos).
O índice de difusão, que mede o percentual de itens que apresentaram alta no mês, ficou em 50%, o menor patamar em um ano. Segundo o Boletim Focus do Banco Central, a expectativa para a inflação de 2025 é de 5,05%.
Tarifaço ainda não impactou preços do café
Segundo o gerente da pesquisa do IBGE, Fernando Gonçalves, a queda de preços do café em julho está ligada à safra, e não ao aumento de tarifas imposto pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros.
“São números de julho”, afirmou Gonçalves, lembrando que a cobrança de 50% sobre produtos brasileiros que entram nos Estados Unidos, entre eles o café, só começou no último dia 6.
“[Em julho], já estava começando a colheita, uma oferta maior no campo. Pode ser efeito dessa maior oferta”. Ele explica que, com mais café disponível, a pressão da demanda diminui e os preços tendem a cair.
Esse mesmo efeito pode se repetir caso produtores não encontrem novos compradores fora dos Estados Unidos, já que as tarifas encarecem o produto e podem reduzir o interesse dos importadores americanos. “Tendo uma oferta maior do produto, a tendência é redução de preços”, disse Gonçalves.
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O relatório do Itaú BBA lembra que os Estados Unidos são o maior consumidor mundial de café, com cerca de 25 milhões de sacas por ano, principalmente de café arábica. Nesse mercado, o Brasil lidera a produção global da variedade, com 42% de participação, seguido por Colômbia (13%) e Etiópia (12%). Os demais fornecedores têm participação significativamente menor.
O banco avalia que substituir o Brasil no fornecimento não é simples, devido à baixa capacidade dos outros países produtores. Mesmo que parte da demanda americana seja atendida por outras origens no curto prazo, o impacto seria inflacionário e poderia reduzir o consumo.