A inflação brasileira, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), recuou 0,11% em agosto, após um avanço de 0,26% em julho, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira (10).
A deflação foi impulsionada, sobretudo, pela redução dos preços de energia elétrica residencial, seguida pelas quedas registradas nos grupos Habitação, Alimentação e bebidas e Transportes.
Este foi o primeiro resultado negativo desde agosto de 2024 (-0,02%) e a primeira deflação deste ano, além de registrar a queda mais intensa desde setembro de 2022 (-0,29%).
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IPCA segue acima da meta
No ano, o IPCA acumula alta de 3,15% e no acumulado de 12 meses, subiu 5,13%, acima do centro da meta inflacionária estabelecida pelo Banco Central (BC) de 3% para 2025.
O resultando também ficou fora da margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.
No fim de julho, o Banco Central manteve a Selic em 15% ao ano, interrompendo o ciclo de elevação dos juros, e indicou que a taxa deve permanecer nesse nível por um período “bastante prolongado”.
De acordo com Flávio Serrano, economista-chefe do Banco Bmg, o resultado reforçou que o alívio nos índices de preços tem sido promovido pelo comportamento benigno de alimentos e bens industriais, mas que a dinâmica da inflação de serviços segue pressionada e sendo um desafio para a queda dos juros.
“Esperamos que na semana que vem o Copom continue com um discurso conservador, reforçando o cenário de manutenção da taxa básica de juros por um período prolongado”, completa Serrano.
Grupos que puxaram a queda do IPCA de agosto
Dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados, cinco registraram variação negativa em agosto, com destaque para:
- Habitação (-0,90%): teve o menor resultado para um mês de agosto desde o Plano Real.
A principal influência veio da energia elétrica residencial (-4,21%), que incorporou o Bônus de Itaipu, creditado nas faturas de agosto, contribuindo com -0,17 ponto percentual (p.p.) no índice geral. - Alimentação e bebidas (-0,46%): com maior peso do IPCA, teve o terceiro mês seguido de queda, após -0,18% em junho e -0,27% em julho. Em agosto, a redução foi puxada pela alimentação no domicílio (-0,83%).
- Transportes (-0,27%): resultado foi influenciado pela queda nas passagens aéreas (-2,44%) e nos combustíveis (-0,89%). No mês, o gás veicular recuou 1,27%, a gasolina caiu 0,94% e o etanol, 0,82%, enquanto o óleo diesel subiu 0,16%.
Para o economista Maykon Douglas, a deflação tem sido lenta, com uma composição ainda ruim, refletindo fatores pontuais, como os preços de energia, que voltarão a subir em setembro, uma vez que o efeito do Bônus de Itaipu se dissipará.
Educação impulsiona preços ao consumidor
Entre os grupos que contribuíram para a manutenção da inflação, se destacam:
- Educação (0,75%): com a incorporação de reajustes nos cursos regulares (0,80%), com maior variação no ensino superior (1,26%) e ensino fundamental (0,65%). Os cursos diversos subiram 0,91%, impulsionados pelos cursos de idiomas (1,87%).
- Vestuário (0,72%): registrou aumento de preços em roupas masculinas (0,93%) e calçados e acessórios (0,69%).
- Saúde e cuidados pessoais (0,54%): destacam-se as altas nos itens de higiene pessoal (0,80%) e nos planos de saúde (0,50%).
- Despesas pessoais (0,40%): impacto do reajuste nos jogos de azar (3,60%), válido desde 9 de julho, além da queda de 4,02% em cinema, teatro e concerto, influenciada pela semana do cinema.
Douglas destaca que mesmo com a baixa dos preços de cinema em razão da Semana do Cinema, os preços de serviços subjacentes aceleraram de 6,15% para 6,25% na média anualizada e dessazonalizada dos últimos três meses. Na mesma métrica, os serviços intensivos em trabalho voltaram a acelerar após seis leituras consecutivas mais fracas.
O economista conclui que o aperto no mercado de trabalho parece ser o grande fator que impede uma desaceleração mais forte dos preços subjacentes.
Variação regional do IPCA
Nos índices regionais, Vitória apresentou a maior alta (0,23%), puxada pela energia elétrica residencial (7,02%) e pela taxa de água e esgoto (4,64%).
As menores variações foram registradas em Goiânia e Porto Alegre (-0,40%), devido às quedas na energia elétrica residencial (-7,77% e -6,68%) e na gasolina (-2,20% e -2,69%, respectivamente).
Preços ao consumidor recuam 0,21% em agosto
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), referência para reajustes salariais, caiu 0,21% em agosto. No acumulado de 2025, registrou alta de 3,08%.
Em 12 meses, o índice subiu 5,05%, abaixo dos 5,13% do IPCA e também inferior aos 5,13% registrados nos 12 meses imediatamente anteriores. Em agosto de 2024, o INPC havia recuado 0,14%.
Os preços dos produtos alimentícios passaram de -0,38% em julho para -0,54% em agosto, enquanto os não alimentícios variaram de alta de 0,41% em julho para queda de 0,10% em agosto.
Entre as regiões, Vitória registrou a maior alta (0,31%), puxada por energia elétrica residencial (7,11%) e pela taxa de água e esgoto (4,64%).
Já o Rio de Janeiro teve a maior queda (-0,53%), influenciada pela redução na energia elétrica residencial (-6,08%) e no preço do café moído (-4,93%).