A criação de um pacto nacional entre o governo e a sociedade é o caminho para superar a radicalização política e garantir condições de crescimento econômico no Brasil, segundo o ex-presidente Michel Temer.
A declaração ocorreu durante o AGF Day, evento destinado a investidores pessoa física, que aconteceu em São Paulo, nesta quinta-feira (18).
Na exposição do painel “Brasil em debate: política, economia e mercado”, Temer relacionou a instabilidade política e institucional à perda de credibilidade, fator que, segundo ele, pode reduzir investimentos no país.
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“O eleitorado brasileiro quer saber qual é o projeto do país, mas hoje não existe projeto. O que vemos é apenas A contra B. Isso não é civilizado politicamente. Insisto na necessidade de criar um programa, como fizemos no meu governo, que traga segurança e atraia investimentos.”
Temer critica falta de diálogo e tributação de dividendos
Para Temer, o Brasil também sofre com a ausência de diálogo interno e citou como exemplo a votação sobre o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
“O Executivo editou o decreto, a Câmara suspendeu, o presidente recorreu ao Judiciário e o tribunal desfez a decisão legislativa. Esse conflito nasce da falta de diálogo. Democracia vive do diálogo e também da contestação”, ressaltou.
O ex-presidente também manifestou preocupação com a proposta de isentar o imposto de renda para ganhos de R$ 5 mil e compensar com uma tributação sobre lucros e dividendos.
“Ao onerar os investimentos, desestimulamos quem cria emprego e produz. Além disso, não se pode eliminar uma receita sem indicar a fonte de compensação. O melhor caminho é reduzir gastos públicos”, disse.
Crises políticas e perda de confiança no governo
“Vivemos muitas crises ao longo do tempo: sociais, políticas e econômicas, e superamos todas elas. No presente momento, não vejo uma polarização, mas uma radicalização, o que preocupa muitos setores. Polarização, para mim, é quando há debate de ideias e conceitos. Isso é democracia. A oposição é importante porque fiscaliza, contraria e ajuda a programar o governo. Mas hoje o que temos são brasileiros contra brasileiros e, às vezes, até instituições contra instituições.”
Segundo Temer, atualmente a maioria das pessoas reconhece que sua vida melhorou, mas tem medo do futuro.
Temer relaciona ainda os impactos da gestão do governo Lula sobre a economia: “Não podemos ter preconceito contra capitais, sejam nacionais ou estrangeiros, pois eles vêm para ajudar o Brasil. O que precisamos é criar um ambiente de segurança, progresso e desenvolvimento, que mostre ao mundo que o país é confiável. Isso depende muito da classe política.”
Para ele, a economia não vai tão mal, mas é preciso distinguir economia de credibilidade. Temer pontua que a economia pode ir bem, mas, sem credibilidade nos instrumentos governamentais, tudo fica comprometido. “O Brasil tem potencial, mas precisa reforçar a confiança”, finaliza.
Relações do Brasil com os EUA
“Hoje há uma relação um pouco agressiva entre Estados Unidos e Brasil. Isso precisa mudar. No passado, as relações entre países eram institucionais e públicas; agora, elas são principalmente comerciais. A China é nosso maior parceiro e em seguida, vêm os Estados Unidos. A África compra 45% da nossa exportação de frango e também temos acordos tecnológicos com Israel. O Brasil precisa manter boas relações com todos os países, porque depende de exportações, importações e investimentos”, disse Temer.
“A relação com os Estados Unidos precisa de diálogo institucional, direto entre presidentes. Não é papel de comissões parlamentares resolver isso. É o presidente do Brasil conversando com o presidente dos Estados Unidos. Não vejo o presidente Lula ligando para negociar com Trump, mas deveria. Se não for atendido, liga de novo. É isso que transmite satisfação ao povo.”
Sobre críticas de Trump ao Supremo brasileiro, Temer afirmou: “Não cabe a um governo estrangeiro interferir em decisões de uma corte de outro país. Se eu recebo uma decisão judicial desfavorável, não posso mover ação contra a União. Da mesma forma, não se pode aceitar que outro governo questione o Judiciário brasileiro.”
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Temer critica cenário fiscal e antecipação do debate eleitoral
Temer diz que, hoje, o momento é oportuno para uma grande reforma administrativa, que se corte despesas em vez de penalizar a atividade econômica e enfatiza que a política fiscal precisa mudar, mas para isso é necessário um pacto entre sociedade e Congresso.
“Quando cheguei ao governo, havia 60.067 cargos vagos que poderiam ser preenchidos, mas preferi fazer uma reforma administrativa silenciosa por decreto.
“Infelizmente, o governo atual evita discutir corte de gastos e o Congresso, por razões políticas, não faz contraponto. Precisamos de um pacto pela reconstrução nacional, como ocorreu na Espanha com o Pacto de Moncloa, que deu resultados extraordinários”, diz.
Para ele, “Se o governo não funciona, deve ser trocado pelo voto. A situação está tão instável, que não pode piorar”, finaliza.