O Ministério da Fazenda e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) anunciaram nesta sexta-feira (24) que as autoridades reguladoras chinesas aprovaram a listagem de fundos de índice (ETFs) para investimento em quotas de ETFs do Ibovespa nas bolsas de Xangai e Shenzhen, dentro do Programa Conexão de Fundos de Índice Brasil–China (ETF Connect).
O ETF Connect cria um mecanismo de listagem recíproca de ETFs entre a B3 e as bolsas chinesas, fortalecendo o vínculo financeiro entre os dois países.
A China já conta com 18 ETFs lançados por meio de programas de integração com outros mercados, incluindo Japão, Singapura e Hong Kong. Com o acordo atual, o Brasil passa a ser o primeiro país fora da Ásia a estabelecer uma parceria desse tipo, reforçando a relevância do mercado brasileiro no cenário financeiro internacional.
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A secretária de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, embaixadora Tatiana Rosito, destacou a importância da medida:
“O ETF Connect representa um marco nas nossas relações financeiras, ao permitir uma maior interligação entre os mercados e as bolsas de valores dos dois países. Esse esforço abre caminho para que o setor privado aproveite as imensas oportunidades existentes em ambos os mercados, em um ambiente de estabilidade regulatória, confiança mútua e previsibilidade econômica.”
Segundo a embaixadora, promover a aproximação de investidores dos dois países e de seus mercados é fundamental para ampliar o conhecimento mútuo, além de corrigir assimetrias de informação e fomentar oportunidades de investimento.
Cooperação com a China e avanço dos ETFs no Brasil
Lançado oficialmente em 26 de maio de 2025, o programa começou com os primeiros fundos da Bradesco Asset e, posteriormente, da Itaú Asset, referenciados nos índices chineses CSI 300 e ChiNext, listados na B3.
Agora, a iniciativa entra em uma nova fase, com a listagem, pelas gestoras chinesas EFunds, China Universal e China Asset Management, de ETFs referenciados no índice brasileiro Ibovespa B3.
A recente autorização faz parte de um conjunto de ações do governo brasileiro, por meio da Secretaria de Assuntos Internacionais (Sain) do Ministério da Fazenda e da CVM — voltadas à integração dos mercados de capitais entre o Brasil e a China.
O tema foi debatido com autoridades chinesas durante a 11ª Reunião da Subcomissão Econômico-Financeira da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (Cosban), realizada em 17 de setembro de 2025, copresidida pela embaixadora Tatiana Rosito e pelo vice-ministro de Finanças da China, Liao Min.
Segundo Boletim da B3, o patrimônio dos fundos de índice (ETFs) subiu de R$ 65,14 bilhões em agosto para R$ 69,08 bilhões em setembro, enquanto o volume mensal de negociações permaneceu estável, em torno de R$ 1,2 bilhão.
Do total, R$ 38 bilhões estão aplicados por investidores institucionais, enquanto R$ 24 bilhões pertencem a pessoas físicas.
Entre os segmentos, os ETFs de renda variável internacional concentram a maior parte do patrimônio, com R$ 27,12 bilhões, seguidos pelos de renda variável local (R$ 25,46 bilhões) e de renda fixa local (R$ 16,32 bilhões).
ETFs chineses podem recuperar volume de negociações na B3
Apesar dos recentes recordes sucessivos, o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores brasileira, atualmente figura o menor volume de negócios em seis anos, patamar alcançado em 11 de setembro deste ano.
O cenário, quando analisado de perto, parece ainda pior, com escassez de IPOs e a retirada massiva de empresas da B3 nos últimos anos. No entanto, há expectativas de reversão desse quadro a partir da listagem dos ETFs do Ibovespa no mercado chinês.
Em análise exclusiva ao Monitor do Mercado, André Vasconcellos, diretor estatutário de Estratégia, Planejamento e Relações com Investidores da Fictor Alimentos S.A (B3: FICT3), pontua que esse movimento tem potencial para revitalizar o volume de negócios no Ibovespa e reativar o interesse por listagens domésticas.
“Ao permitir que investidores chineses acessem o índice brasileiro em Xangai e Shenzhen, o programa amplia a base global de compradores de ativos brasileiros — e onde há demanda nova, há liquidez. Essa nova ponte pode trazer oxigênio para o mercado secundário, reduzir spreads, melhorar precificação e, com o tempo, revalorizar o equity brasileiro. Liquidez gera atratividade, e atratividade gera novas ofertas”, analisa.
Para o executivo, essa exposição internacional pode ainda servir de inspiração para que mais companhias busquem por uma estrutura societária sólida, controles internos e transparência para se posicionar diante do investidor global.
Do outro lado, para os investidores brasileiros, cria-se um ambiente de maior liquidez, capaz de reduzir o custo de capital, estimular novas listagens ou reduzir o histórico recente de companhias fechando capital, segundo o executivo.
“Se a China leva o Ibovespa para suas bolsas, é porque o Brasil tem história para contar. Cabe a nós transformar essa visibilidade em liquidez e essa liquidez em novas histórias de capital aberto”, completa.
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Impactos esperados para empresas brasileiras
Vasconcellos avalia que os impactos para as empresas listadas na B3 devem ser profundos e positivos, uma vez que as empresas brasileiras ganharão visibilidade internacional, exposição a novos fluxos de capital e a chance de disputar espaço com players globais.
Segundo o executivo, esse novo cenário exige mais transparência, consistência e narrativa institucional madura, mas também abre uma janela histórica de oportunidades:
“Estamos saindo de uma lógica defensiva, de sobrevivência em ambiente de juros altos, para uma lógica de competição por credibilidade internacional. O investidor global busca coerência entre propósito, governança e resultado e o ETF Connect eleva o padrão de quem quer ser protagonista nessa nova fase. As empresas que enxergarem o capital estrangeiro não como risco, mas como parceria estratégica, serão as que mais se beneficiarão dessa integração”, analisa.
Desafios regulatórios e jurídicos
A diretora da CVM, Marina Copola, ressalta, sobretudo, o avanço no mercado de capitais brasileiro, a partir da listagem dos ETFs do Ibovespa nos mercados chineses. Segundo ela, o programa tem se mostrado um sucesso, não apenas enquanto porta de entrada para investidores nos mercados de capitais, mas também pelo seu caráter simbólico.
“Atualmente, há três produtos negociados no Brasil que refletem índices chineses, o que representa não apenas uma ampliação das opções de diversificação para investidores brasileiros, mas também uma via concreta de aproximação com o mercado de capitais chinês”, salienta.
Vasconcellos, enxerga o movimento como uma conquista estrutural para o mercado de capitais brasileiro e sinalização de maturidade regulatória.
“Pela primeira vez, o investidor chinês poderá acessar o Ibovespa diretamente em Xangai e Shenzhen. Isso significa que o Brasil deixou de ser apenas destino de capital: agora é também origem de valor. Esse movimento internacionaliza a nossa governança, amplia a liquidez potencial e projeta a imagem de um país que aprendeu a competir no padrão global. O ETF Connect não é apenas um espelho financeiro, é um selo de confiança que o mercado global confere ao Brasil.”
Por outro lado, o executivo também comenta os desafios de harmonização regulatória entre Brasil e China: “O principal desafio é transformar a complexidade regulatória em vantagem competitiva. Harmonizar regras entre Brasil e China exigirá coordenação institucional, mas o Brasil chega preparado, com uma CVM sólida, uma B3 moderna e um ecossistema que aprendeu a operar sob governança rigorosa.”
ETFs chineses enaltecem imagem do Brasil no exterior
Vasconcellos, classifica o ETF Connect como um acelerador de transformações. “Ele cria valor para o país, ao reforçar a imagem do Brasil como plataforma global de investimentos. Agora não exportamos apenas commodities, mas governança, diversidade setorial e oportunidades de longo prazo”.
Ele avalia ainda que ao ampliar a base de investidores e estimular uma nova cultura de performance sustentável, a presença do olhar chinês pode acelerar o amadurecimento do mercado de capitais brasileiro e ampliar a competitividade internacional.
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Apesar das oportunidades, Vasconcellos alerta que há riscos que precisam ser monitorados. O maior deles seria de cunho cultural: “não podemos tratar essa integração como um evento, mas como uma transição permanente. A volatilidade cambial, as diferenças regulatórias e os ajustes de governança fazem parte do aprendizado de quem decide jogar na liga global”.









