A OKX, uma das principais plataformas globais de criptomoedas e empresa de tecnologia web3, lançou na última quinta-feira (6) uma conta digital em dólar lastreada em stablecoins, com cartão internacional de débito sem IOF, taxas ou spread cambial.
O Brasil é o primeiro país a receber o serviço, em um movimento que coloca as stablecoins no centro das transações financeiras de uso cotidiano.
Guilherme Sacamone, CEO da OKX Brasil, afirma que o produto foi desenhado levando em conta duas características do país: a alta adoção de pagamentos digitais e o impacto do IOF e do spread cambial no consumo internacional.
“A intersecção entre corretoras locais, que atendem bem, mas têm portfólio limitado, e grandes corretoras globais, que não conseguem se adaptar ao mercado brasileiro, abriu uma oportunidade. O Pay é um reflexo disso”, diz Sacamone.
A iniciativa ocorre em um momento de maior discussão regulatória sobre criptoativos no país, incluindo regras anunciadas pelo Banco Central (BC) para prestadoras de serviços de ativos virtuais, que entrarão em vigor a partir de fevereiro de 2026.
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Conta digital com rendimento automático em stablecoins
A conta, nomeada OKX Pay, permite converter de forma instantânea reais em stablecoins como USDT, USDC e USDG diretamente via Pix. A partir do depósito, o saldo passa a render automaticamente, sem necessidade de aplicação em produtos específicos.
Para valores de até US$ 10 mil, o rendimento é de 10% ao ano. Acima desse limite, a taxa passa para 5% ao ano. Os juros são calculados diariamente e pagos semanalmente em stablecoins, com possibilidade de movimentação dos fundos a qualquer momento.
Sacamone reforça que o rendimento é automático: “O fundo caiu, ele está rendendo 10% ao ano. E o melhor, esses rendimentos são pagos semanalmente, em dólar digital, seja no Brasil ou no mundo inteiro. É uma carteira Web3 de custódia própria,” ressalta.
A OKX destaca ainda que a solução funciona de forma separada de sua corretora tradicional: “Um usuário que só está interessado em dolarizar vai poder fazer um PIX diretamente para essa conta sem operar negociação. A partir daí, ele pode usar os fundos como quiser”.
Cartão internacional sem IOF
O OKX Card, emitido pela Mastercard, permite utilizar o saldo em stablecoins em compras no Brasil ou no exterior, sem conversão cambial adicional.
“A gente trabalhou muito nesse cartão para chegar a uma condição em que não vai haver nenhum tipo de taxa de conversão. Não vai haver IOF, não vai ter anuidade. É um cartão em dólar que pode ser usado no Brasil, na Europa, onde quiser.”
Durante o lançamento, Sacamone destacou a importância de proporcionar a melhor experiência ao cliente, motivo pelo qual a operação de transferência é similar ao Pix tradicional no Brasil.
Sacamone explica que a oferta dos produtos lançados responde ao comportamento de quem busca dolarização: “Hoje em dia, quem quer dolarizar quer três coisas: ter certeza que o dólar que compra vai gerar rendimento; conseguir fazer transferências sem burocracia; e conseguir fazer pagamentos a nível global gastando menos. E tudo isso precisa estar suportado por uma solução de segurança robusta.”
Diante do uso crescente de stablecoins, ele contextualiza que no ano passado foram liquidados mais de US$ 27 trilhões em pagamentos utilizando stablecoins. “Isso é mais do que Visa e Mastercard juntas”, pontua.
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O que Natalia Arcuri diz sobre investimento em stablecoins
A criadora da Me Poupe!, Natalia Arcuri, declarou durante o evento de lançamento que a busca por alternativas de proteção cambial se torna mais relevante à medida que o real segue perdendo valor frente ao dólar.
Segundo ela, dolarizar parte do patrimônio pode atuar como uma forma de manutenção de poder de compra no longo prazo.
“O real segue perdendo valor frente ao dólar e esse é um motivo porque é importante a gente regularizar pelo menos uma parte desse patrimônio, ou aquilo que a gente poupa todos os meses. Não só para proteger uma parte do nosso patrimônio, para que ele continue crescendo junto com o dólar, até porque, por mais que a gente não veja o dólar no nosso dia a dia, o combustível… todas as commodities são dolarizadas.”
Arcuri destacou que o uso de stablecoins tem crescido por oferecer vantagens como ausência de IOF e taxas mais competitivas do que as bancárias tradicionais no câmbio:
“Ao investir em stablecoins, não tem IOF e a tributação também é mais interessante. Na hora que vai comprar o dólar no mercado de câmbio, você paga o dólar mais caro e um spread altíssimo e aí vem uma inovação através da blockchain, que consegue garantir o acompanhamento de uma moeda real, porém numa estrutura digital. Isso que é a stablecoin”, explica.
Ela ressaltou ainda que a tecnologia por trás do blockchain apresenta um modelo de validação descentralizado, o que torna as transações mais enxutas.
“Para mim, a grande magia por trás das cryptocurrencies e do blockchain é que você tem um sistema operacional, seja de pessoas seja de máquinas, mas que valida aquela operação sem a necessidade de um banco central. Então, para mim, criptomoedas, criptoativos, ativos têm a ver com confiança. E tem uma outra questão também que é tornar as transações mais leves e baratas, e mais simples também, é sobre ter mais leveza nas nossas operações.”
Stablecoins para quem está começando
Em entrevista exclusiva ao Monitor do Mercado, Natalia Arcuri explicou como pessoas que estão começando no mundo dos investimentos podem negociar stablecoins: “A gente tem dois grandes usos de um produto: não só o Pay, mas o cartão. A stablecoin já vem com uma solução que facilita o acesso de pessoas leigas que vão chegar numa exchange e não vão saber nem o que buscar lá dentro.”
Ao falar com o investidor jovem que está dando os primeiros passos, ela reforçou a importância da reserva de emergência antes da dolarização:
“O ideal é você ter uma reserva de emergência no CDB, 100% CDI ou no Tesouro Selic, seria o meu primeiro passo. E aí, quem está começando e quer muito colocar grana em dólar digital, stablecoins, é colocar um pouco todo mês. Fazer bom preço médio e ter a disciplina de manter isso ao longo do tempo”, recomendou.
Como funcionam as stablecoins:
Uma stablecoin é emitida por empresas privadas, mas lastreada em reservas reais, o que garante seu valor estável. Essa característica as diferencia das criptomoedas voláteis, como o Bitcoin, cujo preço oscila conforme a oferta e demanda de mercado.
A tecnologia blockchain, base desse modelo, permite transferências quase instantâneas, disponíveis 24 horas por dia, com taxas menores que as operações cambiais tradicionais.
Regulação do Banco Central impacta mercado de stablecoins
O Banco Central (BC) anunciou nesta segunda-feira (10) a regulamentação que passa a orientar a operação de prestadoras de serviços de ativos virtuais no Brasil. A medida atinge diretamente o mercado de stablecoins e define como essas empresas devem atuar no país. A norma entra em vigor em fevereiro de 2026.
Com a mudança, as prestadoras de serviços de ativos virtuais (PSAVs), ou VASPs, na sigla em inglês, passam a depender de autorização do BC para funcionar.
Segundo o diretor de Regulação da autarquia, Gilneu Vivan, as mudanças devem proporcionar mais segurança para quem investe em criptoativos nos Brasil: “Essas empresas passam a estar sob autorização do Banco Central, sujeitas a todo nosso processo de supervisão e acompanhamento”, explicou.
A regulamentação define que atividades envolvendo ativos virtuais referenciados em moeda fiduciária, as stablecoins, serão tratadas como operações do mercado de câmbio e capitais internacionais.
Durante a consulta pública nº 111, o BC chegou a propor a proibição de transferências de criptomoedas de corretoras para carteiras de autocustódia (wallets), nas quais o usuário controla diretamente as chaves privadas.
Na versão final, a autarquia recuou da proibição e adotou um modelo de rastreabilidade. As PSAVs deverão identificar os proprietários de carteiras autocustodiadas e verificar origem e destino dos ativos sempre que houver movimentação para essas carteiras.
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Sobre o debate regulatório em andamento, Sacamone afirma: “Existe expectativa de mudanças no tratamento das stablecoins, mas acreditamos que a eficiência que vamos trazer via cripto não perde para o mercado tradicional.”
Já Natalia Arcuri avalia que a discussão global sobre stablecoins ainda depende da postura dos governos e dos bancos centrais: “Ou os governos vão ser mais amigos das stablecoins e das cripto, entendendo que isso faz parte, inclusive, de uma evolução financeira e que isso traz inovação e crescimento para o país, ou vão enxergar como concorrentes e tentar travar e criar barreiras”, pontuou.
