O salário mínimo atual, equivalente a cerca de US$ 285, permanece 12,3% abaixo do pico registrado em 2011, quando o valor chegou próximo de US$ 325, segundo dados da carta pública do Conselho Regional de Economia do Estado de São Paulo (Corecon-SP), que destaca o chamado “dilema histórico brasileiro”: descompasso entre crescimento econômico e condições dignas de trabalho.
No texto, a entidade afirma que o Brasil atravessa uma fase de crescimento econômico enquanto registra sinais persistentes de fragilidade no mercado de trabalho, além do avanço da informalidade e perda de segurança mesmo em vínculos formais, fatores que podem influenciar renda, consumo e projeções de produtividade nos próximos anos.
Para a entidade, esse dado indica que o avanço da economia não tem sido acompanhado pela mesma recuperação do rendimento básico.
“É indispensável que haja responsabilidade orçamentária para sustentar a recuperação do poder de compra do salário-mínimo; não se trata de defender a imprudência fiscal. No entanto, sob essa mesma lógica, é insustentável a ideia de que o crescimento econômico de longo prazo do Brasil dependa de restringir a melhoria das condições de vida dos mais pobres.”, afirma o texto.
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Oferta de trabalho menor e avanço da informalidade
Segundo o Corecon-SP, grande parte das vagas criadas está concentrada em setores de baixa produtividade e baixa remuneração.
O conselho também chama atenção para a queda da taxa de participação, indicador que mede quantas pessoas estão trabalhando ou procurando emprego. Atualmente, quase quatro em cada dez trabalhadores atuam na informalidade.
Precarização atinge também vínculos formais
A carta pública do Corecon-SP aponta ainda que a precarização não se limita mais à ausência de carteira assinada. A “uberização” estaria transformando vínculos formais em ocupações sem estabilidade, sem proteção previdenciária e com renda variável.
O texto cita o conceito de “precariado”, formulado pelo economista britânico Guy Standing, caracterizado pela perda das sete bases da segurança laboral: emprego, renda, vínculo, proteção sindical, qualificação contínua, previsibilidade e condições adequadas de trabalho.
Entre outros pontos, a entidade defende regulamentação das plataformas digitais para evitar que a modernização tecnológica amplie desigualdades no mercado de trabalho.
Desemprego está relacionado à redução da busca por trabalho
Um estudo macroeconômico do Banco Daycoval aponta que parte da queda recente do desemprego no país está relacionada à redução da busca por trabalho. Entre os motivos predominantes estão saúde e incapacidade, responsabilidades familiares e estudo.
Expurgando esses fatores, a taxa de desemprego atual seria de 7,6%, nível semelhante ao registrado em 2019, segundo a análise.
Menos oferta de trabalho reduz desemprego oficial
De 2019 a 2025, segundo o estudo, uma parcela relevante da diminuição do desemprego ocorreu não por aumento de vagas, mas pela queda da participação na força de trabalho.
A pesquisa revela:
- alta demanda por trabalho até o início de 2024
- escassez de mão de obra no fim de 2024 e início de 2025
- setores que já registraram queda de demanda em agosto de 2025
Pelo cálculo do Fed Atlanta, os componentes comportamentais, como motivos pessoais que afastam trabalhadores do mercado, reduziram a taxa de desemprego em 1,8 ponto percentual no período.
Já fatores demográficos aumentaram o desemprego em 0,2 ponto, resultando em impacto total de -1,6 ponto.
Três motivos explicam quase todo o efeito: saúde/incapacidade (-1,2 p.p.), responsabilidades familiares (-0,8 p.p.) e estudo (-0,7 p.p.). O grupo “quer emprego, mas não procura” elevou o desemprego em 1,3 p.p.
Segundo o Daycoval, esses movimentos se intensificaram a partir do quarto trimestre de 2022, período que coincide com o aumento de benefícios sociais, como BPC e Bolsa Família. O estudo destaca que essa simultaneidade não implica relação causal, mas sugere mudança estrutural na oferta de trabalho.
Desemprego ajustado altera projeções macroeconômicas
Com a taxa oficial de 5,74% no terceiro trimestre de 2025, o ajuste comportamental elevaria o índice para 7,57%.
Com esse parâmetro, o estudo estima:
- Inflação de serviços: 5,8% em 2025 e 4,9% em 2026;
- PIB: crescimento de 2,0% em 2025 e 1,6% em 2026.
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Corecon-SP pede nova estratégia nacional
Por fim, a carta pública do Corecon-SP sugere integrar política monetária, política industrial, investimento público e proteção social em uma estratégia de desenvolvimento que coloque o trabalho no centro das decisões econômicas.
A carta conclui: “o Brasil enfrenta um paradoxo: cresce, mas ainda não é capaz de garantir segurança ao trabalhador. Reconstruir as bases laborais é reconstruir o desenvolvimento.”









