O período que se segue à perda de um ente querido é de profunda dor, confusão e vulnerabilidade. Infelizmente, existem criminosos que enxergam essa fragilidade como uma oportunidade para aplicar alguns dos golpes mais cruéis que existem, se passando por autoridades para extorquir dinheiro de famílias enlutadas.
Este guia detalha 3 dessas fraudes e oferece orientação para lidar com a burocracia de forma segura em um momento tão difícil.
A fragilidade do luto: por que este é um momento de alto risco?
Os golpistas focam em famílias enlutadas porque sabem que o luto afeta diretamente a capacidade de tomada de decisão. O esgotamento emocional e o estresse diminuem o pensamento crítico, tornando as pessoas mais propensas a acreditar em quem se apresenta como uma figura de autoridade oferecendo “ajuda”.
O desconhecimento sobre os processos burocráticos que se seguem a um falecimento, como o inventário e o resgate de seguros, cria uma lacuna de informação que os criminosos exploram com facilidade. Além disso, os golpistas frequentemente monitoram notas de falecimento em jornais ou redes sociais para obter os nomes do falecido e de seus familiares, tornando a abordagem ainda mais convincente.
As 3 fraudes mais cruéis que se aproveitam da perda

Os golpes são desenhados para explorar a desinformação e a urgência que a família sente para resolver as pendências.
1. O golpe do falso cartório e da taxa de inventário
Nesta fraude, um criminoso liga para um familiar próximo, se passando por um funcionário de um cartório. Ele afirma que, para dar início ao processo de inventário ou para a liberação final da certidão de óbito, é preciso pagar uma “taxa de urgência” ou um “imposto pendente”. O golpista pressiona a vítima, dizendo que, sem o pagamento imediato via Pix, o processo ficará bloqueado por meses.
2. O golpe da falsa seguradora e do seguro de vida
O golpista, fingindo ser um agente de uma grande seguradora, entra em contato com o viúvo(a) ou filho(a) do falecido. Ele informa sobre a existência de uma apólice de seguro de vida ou um plano de previdência privada desconhecido, com um valor alto a ser resgatado. Para “liberar os fundos”, no entanto, ele alega que a família precisa primeiro arcar com os custos de uma “taxa administrativa” ou de um “imposto de transmissão”, que deve ser pago adiantadamente.
3. O golpe do falso inventariante ou advogado
Uma tática de engenharia social mais elaborada. Um criminoso se apresenta como um “inventariante judicial” nomeado pela justiça ou como um “advogado da família” que teria sido contratado secretamente pelo falecido. Para ganhar confiança, ele pode mencionar a existência de um testamento ou de bens desconhecidos. Em seguida, solicita um depósito para cobrir “custos iniciais do processo” e “taxas judiciais” para dar andamento ao inventário.
Guia de proteção em momentos difíceis: como lidar com a burocracia sem cair em golpes
Lidar com questões financeiras e legais durante o luto é extremamente desgastante. Estabelecer um protocolo de segurança pode proteger o patrimônio da família e evitar mais sofrimento.
- Adote uma “pausa de luto” para decisões financeiras: Combine em família que nenhuma decisão financeira importante será tomada sob pressão nos primeiros dias ou semanas. Nenhum processo burocrático legítimo exige uma ação em questão de horas. Dê tempo para que as emoções se assentem.
- Nunca pague taxas ou impostos para contas de pessoas físicas: Custos de inventário, taxas de cartório e impostos (como o ITCMD) são pagos através de guias de recolhimento oficiais, emitidas por órgãos do governo ou pelo próprio cartório. O beneficiário do pagamento será sempre uma entidade governamental (com CNPJ), nunca uma conta Pix de um indivíduo.
- Contrate um advogado de confiança: A forma mais segura de conduzir um inventário e outras questões legais é com o auxílio de um advogado de confiança da família ou, se for o caso, da Defensoria Pública. Ele será o intermediário oficial e saberá identificar qualquer tentativa de fraude.
- Sempre inicie o contato com as instituições: Não confie em quem te liga. Se precisar falar com uma seguradora, banco ou cartório, procure você mesmo os números de telefone nos sites ou documentos oficiais e seja você a iniciar a chamada.
- Centralize a comunicação em um único familiar: É recomendável que um membro da família que esteja emocionalmente mais estável fique responsável por ser o ponto de contato para todas as questões burocrácias. Isso evita que golpistas tentem confundir diferentes parentes com informações desencontradas.
Mantenha-se seguro e informado
Lidar com a burocracia após a perda de alguém é um fardo pesado. A crueldade dos golpistas que se aproveitam desse momento não conhece limites. Buscar apoio jurídico qualificado e adotar uma postura de desconfiança total a qualquer pedido de pagamento informal e urgente são os passos mais importantes para proteger o patrimônio e a paz da sua família nesse momento tão delicado.