“Para ganhar o desconto, preciso do seu CPF”. Você ouve essa frase em praticamente todas as farmácias do Brasil. Mas já parou para pensar por que essa informação é tão solicitada e, mais importante, se você é obrigado a fornecê-la?
A resposta para essas perguntas está na Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), que estabelece regras claras sobre como as empresas devem tratar nossas informações. Este artigo vai explicar seus direitos e os deveres das farmácias ao lidar com seus dados.
Lembre-se que este é um guia com as regras gerais. Para qualquer problema ou suspeita de abuso, a orientação de órgãos de defesa do consumidor ou de um profissional da área jurídica é o caminho mais seguro.
Por que as farmácias pedem tanto o meu CPF?

Na grande maioria das vezes, o motivo principal para a solicitação do seu CPF é atrelar sua compra a um programa de fidelidade ou clube de descontos. O número funciona como uma identificação única para registrar seu histórico e aplicar os benefícios.
Existe uma segunda situação, bem mais específica: a compra de medicamentos de uso controlado (como os de tarja preta ou vermelha com retenção de receita). Nesses casos, a legislação sanitária exige a identificação do comprador, e o CPF é usado para esse controle legal.
Fora dessas situações, para a compra de um item comum sem desconto, a farmácia não tem motivo para exigir seu CPF. A decisão de fornecê-lo em troca de um benefício é totalmente sua.
O que a LGPD diz sobre essa coleta de dados?
A LGPD protege todos os seus dados pessoais, e as farmácias lidam com informações especialmente sensíveis. Além de dados comuns (nome, CPF), seu histórico de compras pode revelar muito sobre sua saúde, sendo considerado um dado pessoal sensível, que exige proteção redobrada.
A lei se baseia em princípios claros. O principal deles é o Consentimento: para coletar seus dados, a farmácia precisa da sua autorização, que deve ser livre, informada e inequívoca. O atendente deve ser capaz de explicar de forma simples por que está pedindo seu CPF.
Além disso, a coleta deve seguir a Finalidade (o propósito deve ser legítimo, como o desconto) e a Necessidade (só podem pedir os dados estritamente necessários para aquele fim). Todas essas regras estão na Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) – Lei nº 13.709/2018.
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Quais são meus direitos ao informar meus dados na farmácia?
A LGPD colocou o poder nas mãos do cidadão. Você não é um mero espectador; você é o titular dos seus dados e tem direitos claros ao ser questionado no balcão da farmácia.
Conhecer seus direitos é a melhor forma de se proteger. Os principais são:
- Direito de perguntar: Você pode e deve perguntar “Para quê?”. O funcionário deve explicar a finalidade da coleta de forma clara.
- Direito de recusar: Você não é obrigado a fornecer seu CPF para uma compra simples. A única consequência é não ter acesso ao desconto atrelado a ele.
- Direito à transparência: A farmácia deve informar como seus dados serão usados, por quanto tempo serão armazenados e se serão compartilhados com outras empresas (como laboratórios ou seguradoras).
- Direito de acesso e exclusão: Você pode solicitar uma cópia de todos os dados que a farmácia tem sobre você e, a qualquer momento, pedir a exclusão deles do sistema.
Quais são os riscos e os erros a evitar?
O maior risco é a criação de um perfil detalhado da sua saúde sem o seu consentimento explícito. Essas informações são extremamente valiosas e podem ser usadas para fins que vão além do desconto, como marketing direcionado ou, em casos de mau uso ou vazamento, para práticas discriminatórias.
Outro risco sempre presente é o de vazamento de dados. Quanto mais empresas possuem suas informações, maior a chance de elas serem expostas em um incidente de segurança.
Para não correr riscos, evite estes erros comuns:
- Fornecer o CPF por hábito, sem questionar a finalidade.
- Acreditar que é obrigatório informar seus dados para qualquer tipo de compra.
- Não ler os termos de adesão dos programas de fidelidade, que explicam como os dados serão tratados.
- Esquecer que você tem o direito de pedir a exclusão dos seus dados a qualquer momento.
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Como posso me proteger e agir se suspeitar de abuso?
A sua principal ferramenta de proteção é a informação. Seja seletivo e consciente sobre onde e por que você compartilha seus dados pessoais.
- Questione sempre: A simples pergunta “Para que será usado meu CPF?” já demonstra que você conhece seus direitos e força a empresa a ser transparente.
- Forneça o mínimo necessário: Se o desconto é bom e a empresa é de confiança, forneça apenas o dado solicitado (CPF), sem dar informações adicionais que não sejam necessárias.
- Denuncie práticas abusivas: Se a farmácia se recusar a vender um produto (que não seja de uso controlado) sem o seu CPF ou não for transparente sobre o uso dos dados, você pode e deve reclamar. Os canais para isso são o Procon da sua cidade (como o Procon-SP) e a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD).