O Federal Reserve (Fed) decidiu cortar a taxa básica de juros dos EUA em 0,25 ponto percentual (p.p.), para o intervalo de 3,75% a 4% ao ano. O resultado do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) foi divulgado na tarde desta quarta-feira (29).
A decisão, no entanto, não foi unânime. Stephen Miran, indicado pelo presidente Donald Trump, votou a favor de um corte maior, de 0,5 p.p., enquanto Jeffrey Schmid, do Fed Kansas, que votou pela manutenção dos juros.
Este foi o segundo corte consecutivo nos juros, que dá continuidade ao ciclo de afrouxamento monetário na maior economia do mundo. A última reunião marcou a primeira queda nos juros durante o segundo mandato de Donald Trump — feita após cinco manutenções seguidas.
Segundo o relatório, a economia continua em expansão moderada, com sinais de enfraquecimento no mercado de trabalho. O crescimento do emprego desacelerou em 2025, e a taxa de desemprego subiu levemente, embora permaneça em níveis historicamente baixos. A inflação voltou a subir nos últimos meses e continua acima da meta de 2% ao ano.
Além disso, foi anunciado que a redução das participações em títulos — processo conhecido como quantitative tightening, ou aperto quantitativo — será encerrada em 1º de dezembro. Esse movimento marca o fim da fase de redução do balanço do banco central, iniciada para conter pressões inflacionárias após a pandemia.
Para Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, o movimento levanta uma questão para 2026: se o Fed voltará a expandir seu balanço em um cenário de inflação ainda elevada e mercado de trabalho lateralizado. Caso isso ocorra, o dólar pode se enfraquecer ainda mais frente a outras moedas.
Reação dos mercados
Após a divulgação, as bolsas de Nova York sobem, à espera do discurso de Jerome Powell, presidente do Fed. Às 15h15 (horário de Brasília), o Dow Jones sobe 0,32%, S&P 500 avança 0,17% e Nasdaq tem alta de 0,54%.
No Brasil, o Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, opera em alta de 0,97%, aos 148.866,31 pontos. O dólar cai 0,22% frente ao real.
No mercado cripto, as tensões seguem, com os investidores analisando os próximos passos do Fed, após Powell afirmar que os cortes serão graduais.
Na visão de Sarah Uska, analista de criptoativos do Bitybank, “o cenário global também contribui para o tom de incerteza, com as tensões geopolíticas entre EUA e China […] Os dados on-chain (registrados na blockchain) reforçam isso, após a queda nas reservas de bitcoin mantidas em exchanges nos últimos dias”.
Ela aponta, que, a combinação entre o tom do comunicado do Fed e o comportamento dos fluxos on-chain será determinante para definir se o movimento atual do Bitcoin evolui para uma recuperação consistente ou se permanece limitado a reações pontuais de curto prazo.
Manutenção dos juros nos EUA era esperada
Durante a sessão, às 12h45 (horário de brasília), quase 98% dos analistas apostavam em um novo corte na taxa de juros dos EUA, segundo o monitoramento do CME Group (imagem abaixo).
Para a próxima reunião, que acontecerá em 10 de dezembro, as apostas são de outro corte na taxa (85,2%), que levaria a taxa para o intervalo de 3,5% a 3,75% ao ano, enquanto 14,6% enxergam a possibilidade manutenção.
Trump x Powell
A tomada de decisão sobre os juros é o principal motivo da briga entre o presidente do banco central americano e o presidente do país. Trump vem há tempos criticando o mandato de Powell, dizendo abertamente que ele está “demorando muito” para cortar a taxa de juros. O conflito, inclusive, fez Trump apelidar Powell de: Jerome “Too Late” Powell (atrasado, em inglês).
Durante o Simpósio de Jackson Hole, Powell mencionou as políticas de Trump (como a taxação de produtos estrangeiros) como prejudiciais à inflação, comentando que há uma grande incerteza sobre quando todas essas políticas se acalmarão e quais serão seus efeitos duradouros na economia.
“Os efeitos das tarifas nos preços aos consumidores estão claramente visíveis. Nós esperamos que esses efeitos se acumulem nos próximos meses, com o aumento das incertezas”, afirmou.
Questionado pela imprensa sobre uma possível demissão de Powell, o presidente dos EUA recuou, mas manteve as críticas à atual política monetária.
Trump, no entanto, delegou a Scott Bessent, secretário do Tesouro americano, que entrevistasse uma série de candidatos ao cargo, praticamente descartando uma renovação do mandato do atual presidente, que deixa o posto somente em 2026.
Por que os juros dos EUA subiram tanto nos últimos anos?
Com a pandemia da Covid-19 e a guerra entre Ucrânia e Rússia, a inflação dos Estados Unidos subiu exponencialmente, chegando a atingir a maior inflação em 40 anos em 2022 (9,1%).
A taxa básica de juros serve para desacelerar a economia, assim controlando a inflação. Ou seja, conforme a inflação subiu, os juros nos EUA subiam.
Em maio de 2023, depois de 10 altas consecutivas, o Fed parece ter encontrado um intervalo estável para controlar a inflação (entre 5,25% e 5,5% ao ano). Os juros só começaram a cair em setembro de 2024, quando tivemos o primeiro corte desde 2020.
