O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, falou, em entrevista ao GLOBO nesta terça-feira (20), que quem está prevendo uma alta para a taxa básica de juros (Selic) este ano é o mercado, não os economistas.
Antes da entrevista, no Macro Day 2024, do banco BTG Pactual, ele reafirmou o compromisso do BC em levar a inflação à meta, mesmo que fosse necessário aumentar a taxa de juros. No entanto, reforçou após o evento que não falou sobre uma alta.
Para Campos Neto, é preciso observar o cenário e manter a calma em momentos de volatilidade. “A economia está forte, parte do mercado de trabalho está forte, a inflação em 12 meses bateu 4,5%, mas vai cair um pouco, e os próximos números vão ser melhores”, explicou.
Ao ser questionado sobre uma manutenção prolongada ou uma alta na Selic, falou que há opiniões divergentes dentro do Comitê de Política Monetária (Copom) e que a decisão será tomada na próxima reunião, em setembro.
Corte de juros nos Estados Unidos
Sobre a situação internacional, disse que melhorou muito nas últimas semanas, com o fantasma de uma recessão sumindo, e que agora a percepção é de que haverá desaceleração organizada nos Estados Unidos.
“Se há uma desaceleração econômica nos mercados globais, os governos terão menos espaço fiscal para atuar e os bancos centrais terão uma barra mais alta para socorrer os mercados”, falou, durante o Macro Day.
Câmbio
Campos Neto também revelou que o Banco Central esteve muito perto de intervir no câmbio quando ele esteve muito alto. No dia da reunião do Copom, dia 31 de julho, o dólar atingiu R$ 5,74, máxima do ano e maior alta dos últimos dois anos.
Segundo ele, o comitê olhava a liquidez no câmbio e achava que não havia disfuncionalidade no mercado. Olhando outras variáveis, achavam melhor não intervir. Olhando a desvalorização rápida entre as moedas, pensavam em tomar uma atitude. Então, com esse debate e incerteza, o BC resolveu esperar.
“Mas se mostrou uma decisão bastante boa não intervir: o câmbio voltou, a taxa de juros longa voltou”, completou. A interpretação foi de que era uma coisa passageira e que intervir poderia passar a percepção errada.
O problema da intervenção, segundo Campos Neto, é que o Banco Central não consegue intervir em todos os mercados. E, normalmente, os investidores que estão buscando proteção “fogem para a taxa de juros longa, que é muito mais disruptiva, porque o Tesouro não tem como recomprar, tem que se financiar”.
Sucessão da presidência do BC
Perguntado sobre a transição do cargo, o presidente do BC falou que está sendo suave, ressaltando a união do comitê: “Não lembro de ter tido espírito de equipe tão grande entre todos nós”.
Ele disse que, mesmo se comprometendo a cumprir seu mandato até o último dia, sugeriu que a nomeação fosse antecipada para ajudar na transição e que não está muito preocupado com o poder, mas sim com a continuidade.
Campos Neto disse ser bem próximo de Gabriel Galípolo ou com Paulo Picchetti, prováveis indicados por Lula, elogiando ambos por serem muito técnicos. Também afastou qualquer especulação sobre brigas.
“O meu conselho (para o novo presidente do Banco Central) é que ele seja firme, seja técnico, seja íntegro e saiba dizer não. É normal ter crítica ao Banco Central, é normal ter crítica a juros, ainda mais o Brasil que tem um histórico de juros altos”.
O que fará Campos Neto depois do mandato?
Ao falar sobre seu futuro fora do Banco Central, Campos Neto disse estar mirando apenas no setor privado. “Não quero estar no mundo público, eu quero estar no mundo privado. Provavelmente eu vou fazer alguma coisa que mistura tecnologia e finanças, que é o que tem me interessado”, finalizou.