A divulgação de um documento falso pela Construtora PDG Realty (PDGR3) — noticiada em primeira mão pelo Monitor do Mercado na manhã desta sexta-feira (21) — foi feita imediatamente após uma chamativa explosão no volume de negociações das ações da companhia.
Durante o ano de 2025, até o último dia 14, a média de negociações dos papéis PDGR3 era de R$ 67 mil por dia. Com as ações cotadas R$ 0,01. Nos dias 17 e 18 deste mês, entretanto, antes da divulgação da suposta proposta de aquisição, o volume negociado escalou para R$ 2,22 milhões e R$ 3,19 milhões.
O fato relevante, com a “proposta de aquisição” da companhia falsamente atribuída à gigante chinesa Sun Hung Kai Properties (SHKP) foi divulgado no dia 19, fazendo o volume de negociações atingir o pico de R$ 9 milhões e o valor dos papéis chegar a até R$ 0,03, no dia seguinte. O aumento do preço dos papéis possivelmente triplicou o investimento de quem os comprou antes da divulgação.
O crescimento repentino e expressivo do volume de negociações do papel na Bolsa sugere que alguns investidores já estavam se posicionando para lucrar com a suposta oferta antes mesmo de ela ser tornada pública, ampliando as suspeitas de manipulação de mercado, segundo investidores ouvidos pelo Monitor.

Proposta com e-mail e CEO inexistentes
A proposta de aquisição divulgada em fato relevante pela PDG Realty no último dia 19 era assinada por “Chen Wei, Diretor de Fusões e Aquisições (M&A)” da “Sun Hung Kai Global”, o que seria um braço da Sun Hung Kai Properties (SHKP).
Acontece que a própria Sun Hung Kai Properties, procurada pelo Monitor do Mercado, negou qualquer envolvimento com a oferta e afirmou que não fez nenhuma proposta para comprar a incorporadora brasileira. Veja o comunicado abaixo:

PDG se cala diante de questionamento
Procurada pelo Monitor do Mercado, a PDG Realty afirmou que não tem qualquer posicionamento sobre o tema e disse apenas que, caso haja novas informações, elas serão comunicadas ao mercado. O silêncio da empresa diante das evidências aumenta ainda mais as incertezas sobre a real intenção por trás da divulgação da suposta proposta.
O questionamento feito pela redação à assessoria de imprensa da PDG foi o seguinte: “O e-mail do signatário da proposta e o site a ele relacionado não existem, além de não haver qualquer comunicado oficial sobre o tema no site da SHKP. Diante disso, poderia me confirmar a origem oficial dessa proposta? A PDG recebeu esse e-mail por outro endereço?”
Agora, com a resposta oficial da SHKP e as informações sobre o aumento de negociações antes da divulgação, o questionamento é ainda mais relevante.
Manipulação de mercado e possíveis sanções pela CVM
A divulgação de informações enganosas para influenciar o mercado financeiro é considerada uma infração grave e pode configurar crime contra o sistema financeiro, sujeitando os envolvidos a penalidades rigorosas. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM), responsável pela fiscalização e regulação do mercado de capitais no Brasil, pode abrir uma investigação para apurar se houve manipulação intencional do preço das ações da PDG Realty.
Caso seja comprovado que a divulgação do fato relevante contendo a proposta falsa teve o objetivo de inflar artificialmente o valor dos papéis, os responsáveis podem ser punidos com multas substanciais, restrições para atuar no mercado e até sanções mais severas, dependendo da gravidade do impacto sobre os investidores. Além da CVM, o caso também pode atrair a atenção do Ministério Público e de outras autoridades, o que ampliaria o escopo da investigação para possíveis crimes contra o sistema financeiro e contra a economia popular.
Novo CEO e diretor de RI sob escrutínio
A PDG Realty enfrenta essas suspeitas de manipulação de mercado em um momento sensível de sua gestão, logo após uma mudança na sua liderança. No dia 30 de janeiro, Maurício Tiso de Souza foi nomeado como novo CEO da empresa, acumulando também a posição de diretor de Relações com Investidores (RI). Sua função inclui, entre outras responsabilidades, garantir a transparência das informações divulgadas ao mercado e assegurar que os acionistas e investidores tenham acesso a dados confiáveis sobre a companhia. No entanto, a divulgação do fato relevante contendo uma proposta de compra que, conforme desmentido pela Sun Hung Kai Properties, nunca existiu, coloca sua atuação sob questionamento.
A função do diretor de RI é estratégica para a credibilidade de uma empresa listada em bolsa. A publicação de um fato relevante falso pode não apenas gerar oscilações artificiais no preço das ações, mas também afetar a reputação da companhia no longo prazo. Caso fique comprovado que a divulgação da proposta foi feita sem a devida checagem de autenticidade, a gestão da PDG pode ser responsabilizada pela disseminação de informações inverídicas ao mercado. O silêncio da empresa diante dos questionamentos reforça as incertezas sobre sua governança e aumenta a pressão para que a nova administração preste esclarecimentos e adote medidas que garantam maior transparência na comunicação com investidores.