A Kepler Weber (KEPL3) vive um momento de transformação, diversificando suas fontes de receita, reduzindo a dependência do plano safra e mirando oportunidades tanto no Brasil quanto no exterior.
As estratégias e resultados da empresa são destrinchadas pelo CFO e Diretor de Relações com Investidores (RI) da companhia, Renato Arroyo, no podcast do Canal Valores, publicado nesta quinta-feira (10). Veja o vídeo abaixo.
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Hoje, somente um terço da receita da Kepler Weber vem diretamente de fazendas, e a estratégia é clara: expandir com foco em agroindústrias, portos e terminais, reposição de peças e, principalmente, negócios internacionais.
“São menos projetos, mas muito mais concentrados, com alto valor agregado. É uma lógica diferente da pulverização que ocorre nas fazendas”, diz Arroyo ao host do canal Valores, Renato Fazzolino.
Segundo ele, os projetos no setor de portos e terminais têm valores significativamente superiores aos das fazendas. Enquanto o ticket médio nas fazendas gira entre R$ 4 milhões e R$ 6 milhões, nos portos e terminais os projetos variam de R$ 50 a R$ 100 milhões.
Veja o novo episódio do podcast do Canal Valores:
Internacionalização em ritmo acelerado
Os negócios internacionais, que cresceram 78% em 2023 e geraram R$ 200 milhões em receita, mostram potencial ainda maior. A Kepler já exporta para 53 países, com destaque para Paraguai, Uruguai, Colômbia, Bolívia e Venezuela. A grande aposta agora é a Argentina.
“Depois de quatro ou cinco anos sem vender para a Argentina, voltamos a registrar negócios em 2024. O país representa quase metade da produção de grãos do Brasil e tem enorme potencial de crescimento”, diz Arroyo.
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A expectativa da companhia é de um aumento nas vendas impulsionada pela valorização do peso argentino e melhora no poder de compra local.
África mostra mercado promissor
A empresa também já realizou vendas para Angola e Congo, e enxerga na África um mercado promissor. Com 60% da área agricultável do planeta, a região carece de infraestrutura de armazenagem.
“São países com desafios econômicos, mas com uma população jovem e em crescimento. Se as condições macroeconômicas melhorarem, há muito espaço para crescer”, avalia.
Plano safra e juros ainda impactam fazendas
Apesar da diversificação, o segmento de fazendas continua relevante, representando cerca de 32% da receita da empresa. No entanto, é o setor mais dependente de crédito e do plano safra — cerca de 40% das vendas para esse público são financiadas por meio do programa.
Atualmente, o Plano Safra oferece juros em torno de 8%, bem abaixo da Selic (14,75%). Mesmo assim, a liberação dos recursos tem sido lenta. “Dos R$ 7 bilhões previstos para o programa de armazenagem (PCA), só cerca de R$ 2 bilhões foram efetivamente liberados”, afirma o diretor de RI.
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Déficit de silos pressiona preços de grãos
Na entrevista, o CFO da Kepler Weber também explicou como o déficit de silos pressiona o preço de grãos e a renda do produtor. Segundo ele, o Brasil enfrenta um gargalo crítico na armazenagem da produção agrícola, com o país tendo capacidade de estocar somente 65% do volume que colhe, gerando um déficit de 35%.
Com capacidade limitada de armazenamento, produtores são forçados a escoar os grãos rapidamente após a colheita, sem poder esperar o melhor momento para vender. Isso limita o poder de negociação e reduz as margens de lucro.
Além disso, a concentração da oferta em curtos períodos gera picos de demanda por transporte, pressionando os preços dos fretes rodoviários.
A dificuldade em regular a oferta ao longo do tempo, por meio de armazenagem adequada, também contribui para a volatilidade dos preços dos alimentos.