A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, afirmou, nesta quinta-feira, que a inflação na zona do euro vai continuar indesejavelmente alta durante “algum tempo”. Em junho, a taxa anual do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) do bloco atingiu nível recorde de 8,6%.
Em coletiva de imprensa após a decisão do BCE de subir juros em 50 pontos-base, Lagarde explicou que a maior parte dos componentes do núcleo inflacionário subiu. Segundo ela, os preços globais de energia devem permanecer elevados no curto prazo, o que agrava o quadro geral.
Lagarde adiantou que a economia da zona do euro está em desaceleração, em meio à pressão exercida pela guerra na Ucrânia.Para a dirigente, um prolongamento do conflito é um “risco significativo” à atividade econômica na região, sobretudo se houver racionamento de energia diante da redução do fornecimento de gás da Rússia.
“A guerra também pode pressionar a confiança e agravar gargalos de oferta, ao mesmo tempo em que os custos de energia e alimentos podem ficar persistentemente mais altos do que o esperado”, disse ela, que chamou atenção para perspectiva de enfraquecimento do crescimento global.
A dirigente também citou persistentes gargalos na cadeia produtiva e o enfraquecimento do euro como responsáveis pela tendência. “Mas olhando mais à frente, na ausência de novas rupturas, os custos de energia devem se estabilizar e os gargalos de oferta devem diminuir, o que, juntamente com a normalização da política em curso, deve apoiar o retorno da inflação à nossa meta”, assegurou. Ela acrescentou que o mercado de trabalho permanece forte e que, apesar de um aceleração gradual nos últimos meses, o crescimento dos salários segue “contido”.
Apesar do cenário desfavorável, o BCE não não espera uma recessão em 2022 nem em 2023. Porém, Lagarde admitiu que o contexto é de grande incerteza, um sinal de que esta perspectiva pode mudar.
“Olhamos para a nossa projeção até junho, e para a mais recente previsão da Comissão Europeia da semana passada, e no cenário base não há recessão nem neste nem no próximo ano. Mas há nuvens no horizonte? Claro que há”, afirmou.
Respondendo a perguntas de jornalistas, a dirigente aproveitou para dar mais detalhes sobre a nova ferramenta antifragmentação do BCE, chamada de Instrumento de Proteção da Transmissão (TPI, na sigla em inglês). Anunciado nesta quinta-feira, o mecanismo visa atenuar as divergências nos custos de empréstimos soberanos entre os países da zona do euro.
Segundo a presidente do BCE, todos os países da zona do euro são elegíveis para o TPI, mas terão que seguir regras fiscais da União Europeia e ter trajetória de dívida sustentável. Ela ainda afirmou que o instrumento permitiu que o BCE subisse juros de maneira mais agressiva, em 50 pontos-base.
Para Lagarde, as medidas adotadas pela instituição são consistentes com o compromisso por estabilidade de preços.
Larissa Bernardes / Agência CMA
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