A corretora de criptomoedas Binance continuou negociando criptomoedas no Irã depois da imposição de sanções, é o que afirma a agência Reuters, em reportagem publicada nesta segunda-feira (11). A companhia é acusada de não adotar políticas que previnam ao crime de lavagem de dinheiro e financiamento ao terrorismo.
Na notícia, sete traders ouvidos pela agência garantem que os negócios com iranianos não foram interrompidos em 2018, como afirmava a exchange.
Em 2018, os Estados Unidos restabeleceram sanções ao Irã, após afirmar que o país não estava cumprindo os requisitos do acordo nuclear, chamado de Tratado de Não Proliferação Nuclear.
Teoricamente, a empresa não é diretamente afetada com esta decisão, já que todas as suas operações (com exceção das americanas) estão localizadas nas Ilhas Cayman, onde a sanção não possui força de lei. As operações dos Estados Unidos são feitas por outra empresa do grupo, a Binance.US.
Entretanto, as Ilhas Cayman são membros do GAFI/FATF (Grupo de Ação Financeira contra a Lavagem de Dinheiro e o Financiamento do Terrorismo), orgão internacional que pode fazer recomendações e sanções à países.
Em fevereiro de 2020, o grupo sancionou o Irã por não adotar políticas que previnam ao crime de lavagem de dinheiro e financiamento ao terrorismo. Entretanto, como foi apurado pela Reuters, as negociações com o país só pararam em setembro do ano passado, mais de um ano depois da decisão do órgão.
Esta não é a primeira vez que a empresa é acusada de apoiar atividades criminosas. Em junho deste ano, diversas notícias circularam afirmando que a exchange se tornou um hub para hackers, fraudes e traficantes de drogas.
Mas muito antes disso, em 2020 o GAFI já havia publicado um relatório criticando a política de uma corretora de cripto para fugir de regulamentações, trocando constantemente de matriz.
“Antes da implementação de uma política para proibir a operação da VASP na Jurisdição A na Ásia em 2017, uma VASP (troca) estabelecida na Jurisdição A transferiu sua operação para a Jurisdição B na mesma região. Em 2018, a Jurisdição B intensificou seu regime legal ABC / CFT sobre VAs após invasões significativas de alguns VASPs (bolsas) importantes. Em março de 2018, o VASP anunciou suas intenções de realocar sua sede para a Jurisdição C na Europa (uma jurisdição que ainda não havia introduzido um regime ABC / CFT abrangente em relação aos VAs e VASPs na época). Posteriormente, em novembro de 2018, a Jurisdição C introduziu determinados regulamentos sobre VASPs e, em fevereiro de 2020, confirmou que nenhuma autorização foi concedida ao VASP correspondente para operar. Relatórios mais recentes em 2020 indicaram que o VASP já havia realocado seu registro e status de domicílio para a Jurisdição D na África.”, escreveu o GAFI em relatório.
Quem também trocou de sede no período citado pela instituição foi a própria Binance, que após circular entre China, Japão e Malta, finalmente se fixou nas Ilhas Cayman.
Fuga das restrições
A não necessidade de verificação de identidade para operar contas na Binance, bem como o uso de VPN, mecanismo que criptografa e esconde seus dados na internet, acaba por dificultar o rastreamento de possíveis terroristas.
Um trader ouvido pela reportagem, Asal Alizade, contou que a Binance era a melhor opção para ocultar operações. “Não precisava de verificação de identidade, então todos nós usavamos”, afirmou Alizade.
O CEO da Companhia, Changpeng Zhao, também declarou em seu twitter o apoio as VPNs: “uma necessidade, não opcional”. O CEO apagou o tweet no final de 2020, mas a visão institucional da Binance não mudou.
Em julho de 2021, a Binance publicou um “Guia para iniciantes em VPNs”, que não só dá o passo a passo da conexão privada mas bem como afirma que “Você pode usar uma VPN para acessar sites bloqueados em seu país”.
Imagem: Divulgação / Binance