Ao caminhar pela seção de hortifrúti de um supermercado ou feira, a diferença de preços entre os alimentos orgânicos e os convencionais salta aos olhos. De um lado, produtos cultivados com o auxílio de insumos sintéticos, geralmente mais baratos. Do outro, os itens com selo de certificação orgânica, visivelmente mais caros, criando o que muitos consumidores percebem como um verdadeiro “abismo” de valores.
Essa disparidade gera um dilema constante: vale a pena investir mais por um alimento produzido sem agrotóxicos e com práticas mais sustentáveis? Entender os motivos por trás dessa diferença é o primeiro passo para fazer uma escolha informada, que se alinhe tanto com o seu orçamento quanto com seus valores pessoais de saúde e sustentabilidade.
Por que existe um “abismo” de preços entre orgânicos e convencionais?

A diferença de preço não é arbitrária, mas sim um reflexo direto dos custos e desafios da produção orgânica. A agricultura convencional utiliza fertilizantes químicos e agrotóxicos que aceleram o crescimento e protegem as plantas de pragas em larga escala, resultando em maior produtividade por hectare. Isso dilui os custos e torna o produto final mais barato.
A agricultura orgânica, por sua vez, depende de métodos naturais e mão de obra mais intensiva. O controle de pragas é feito biologicamente e a adubação com compostagem, processos mais lentos e trabalhosos. A produtividade tende a ser menor, e a produção, mais suscetível a perdas, elevando o custo unitário de cada alimento colhido.
Qual é, em média, a diferença de valor na prática?
Na prática, o preço de um alimento orgânico pode variar significativamente em relação ao seu equivalente convencional. A diferença pode começar em torno de 30% e, em alguns casos, ultrapassar os 100%, ou seja, custar mais que o dobro. Essa variação depende muito do tipo de produto, da época do ano e do local de compra.
Itens que exigem mais cuidado no cultivo ou que são mais delicados, como morangos e tomates, costumam ter uma diferença de preço maior. Já raízes e tubérculos, como batata e cenoura, podem, por vezes, apresentar um “abismo” menor, tornando a troca mais acessível para o consumidor.
O custo da certificação orgânica realmente pesa tanto no preço?
Sim, a certificação é um fator de custo relevante, especialmente para o pequeno produtor. Para um alimento ser oficialmente vendido como orgânico no Brasil, o produtor precisa seguir uma legislação específica e passar por auditorias periódicas realizadas por uma empresa certificadora. Esse processo garante que as normas de produção estão sendo cumpridas.
Todo esse processo de auditoria, análise de solo e documentação tem um custo fixo que é repassado para o preço do produto. Em uma produção de grande escala, esse valor se dilui, mas para o agricultor familiar, que compõe a maior parte da produção orgânica nacional, esse custo fixo tem um peso considerável.
Existem orgânicos com preços mais próximos aos convencionais?
Apesar da fama de serem caros, é possível encontrar alimentos orgânicos com preços mais competitivos. O segredo está em comprar produtos da estação e, sempre que possível, diretamente de quem produz, como em feiras de agricultores ou através de grupos de consumo.
Comprar direto do produtor elimina intermediários, como distribuidores e supermercados, que adicionam suas margens de lucro ao produto. Essa prática não apenas barateia o custo, como também apoia a agricultura familiar local.
Alimentos com menor variação de preço
- Frutas da estação: Quando a oferta é alta, os preços tendem a ser mais baixos e próximos dos convencionais.
- Raízes e tubérculos: Itens como batata, cenoura, aipim (mandioca) e beterraba geralmente apresentam um custo mais acessível.
- Verduras folhosas: Alface, couve e rúcula, especialmente em feiras, podem ter uma diferença de preço menor.
Como a escala de produção afeta o preço final do alimento orgânico?
A escala é um dos fatores mais determinantes no preço. A agricultura convencional opera em um modelo de larga escala, com vastas monoculturas e alto nível de mecanização, o que gera uma enorme eficiência de volume. Essa “economia de escala” é o que permite preços tão competitivos no varejo.
A produção orgânica, em sua maioria, é feita em propriedades menores, que praticam a rotação de culturas e a policultura para manter a saúde do solo. Embora seja um modelo muito mais sustentável, ele não atinge a mesma eficiência de volume, o que naturalmente eleva o custo por unidade produzida.
É possível consumir orgânicos sem estourar o orçamento familiar?
Sim, com estratégia e planejamento. Não é preciso comprar 100% dos seus alimentos na versão orgânica para colher benefícios. Uma abordagem comum é priorizar a compra de orgânicos para os alimentos que, no cultivo convencional, tendem a absorver mais agrotóxicos.
Outras dicas incluem participar de “clubes de assinatura” ou CSAs (Comunidade que Sustenta a Agricultura), onde você paga um valor mensal e recebe uma cesta de produtos da estação. Além disso, cultivar temperos básicos e algumas hortaliças em casa, mesmo em apartamentos, pode reduzir custos e garantir alimentos frescos e sem veneno sempre à mão.