A Receita Federal, a Polícia Federal, o Ministério Público e outros órgãos deflagraram nesta quinta-feira (28) a Operação Carbono Oculto, mirando um esquema de fraudes e lavagem de dinheiro bilionário envolvendo o PCC no setor de combustíveis que chegou até o “coração” do mercado financeiro, na Faria Lima, em São Paulo.
A operação contra o Primeiro Comando da Capital (PCC) é considerada a maior já realizada contra o crime organizado no Brasil. Cerca de 1.400 agentes cumprem mandados de busca e apreensão contra 350 alvos em dez estados.
- Enquanto você lê esta notícia, outros investidores seguem uma estratégia validada — veja como automatizar suas operações também.
Entre os investigados, está a Reag Investimentos, gestora independente registrada na CVM e associada à Anbima, que administra fundos multimercado e imobiliários. A empresa é suspeita de auxiliar na blindagem patrimonial por meio de fundos que movimentaram bilhões de reais.
Por meio de fato relevante publicado nesta manhã e assinado pelo diretor-presidente e de Relações com Investidores, Dario Tanure — sem ligação com a família do megainvestidor Nelson Tanure —, a Reag afirmou estar colaborando integralmente com as autoridades e fornecendo informações e documentos.
Fundos usados para blindar patrimônio do PCC
As investigações apontam que a organização criminosa utilizava fintechs de pagamento para movimentar valores fora do sistema bancário tradicional.
Os recursos, depois, eram direcionados a fundos de investimento, em grande parte fundos fechados com um único cotista, frequentemente outro fundo, criando sucessivas camadas de ocultação.
A Receita Federal identificou pelo menos 40 fundos ligados ao grupo criminoso, com patrimônio de cerca de R$ 30 bilhões. Entre os ativos adquiridos estavam usinas de álcool, imóveis, fazendas e terminais portuários.
Na prática, os fundos — a maioria com sede na Faria Lima — funcionavam como veículos de lavagem de dinheiro: recebiam aportes de origem ilícita e reinvestiam em ativos reais, dificultando o rastreamento da origem dos recursos.
- Outros investidores já estão copiando uma estratégia que rendeu R$ 113 mil — saiba como ativar agora o Copy Invest.
Reag sob investigação
De acordo com documentos obtidos nas fases anteriores das apurações, a Reag atuava na operação administrando o Location Fundo de Investimentos e Participações Multiestratégia, que teria recebido aportes milionários incompatíveis com o patrimônio declarado de seus cotistas.
Conversas interceptadas indicam que executivos da gestora ajudaram a ocultar os verdadeiros beneficiários do fundo.
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) já havia realizado inspeção na Reag em novembro de 2024, coletando documentos sobre os controles internos da empresa e sua política de prevenção à lavagem de dinheiro. Os dados dessa apuração foram compartilhados com o Ministério Público e agora reforçam a investigação.
Impacto na Faria Lima
A operação teve como alvo 42 empresas, corretoras e fundos em endereços da Avenida Faria Lima, principal centro financeiro do país. Os investigadores buscam provas de movimentações suspeitas que teriam envolvido R$ 17,7 bilhões apenas em uma das fintechs ligadas ao esquema.
Além da Faria Lima, foram bloqueados bens em diversos estados, incluindo quatro usinas de álcool, redes de postos de combustíveis e administradoras de fundos. O valor total de tributos federais e estaduais sonegados chega a R$ 9 bilhões, segundo estimativas preliminares da Receita.
- Você já pode replicar as operações de um dos maiores especialistas do agro no mercado financeiro — veja como começar em poucos cliques.
BK Bank operava como “banco paralelo” do PCC
No centro do esquema, está o BK Bank, que funcionava como uma espécie de “banco paralelo” do PCC e principal suspeita de movimentar os R$ 17,7 bilhões entre 2020 e 2024.
Ao contrário de bancos tradicionais, fintechs desse tipo operam com menos exigências regulatórias, o que permitia que recursos ilícitos circulassem sem fiscalização adequada.
O BK Bank usava contas chamadas de “bolsão”, em que o dinheiro de todos os clientes transitava de forma conjunta, dificultando a identificação de cada operação individual.
A instituição também recebia depósitos em espécie — mais de 10,9 mil aportes em dinheiro vivo, somando R$ 61 milhões em apenas dois anos — algo considerado atípico para uma empresa desse porte. Essas transações eram usadas para abastecer distribuidoras de combustíveis e fundos de investimento ligados ao esquema.
- Chega de operar no escuro: conheça a ferramenta que automatiza seus investimentos — acesse agora e fale com nosso time no WhatsApp.
Postos de combustíveis como canais de lavagem
Um dos pilares do esquema estava na rede de postos de combustíveis controlados direta ou indiretamente pela organização criminosa. A Receita identificou mais de 1.000 postos em dez estados com movimentações irregulares.
Havia dois tipos principais de fraude:
- Postos ativos: ahas de cartão e direcionavam os valores para contas bancárias da rede criminosa. Entre 2020 e 2024, esses estabelecimentos movimentaram R$ 52 bilhões, mas declararam recolhimento de impostos muito abaixo do devido. Só em autuações, a Receita já cobra R$ 891 milhões.
- Postos de fachada: cerca de 140 unidades não tiveram operação real nesse período, mas emitiram R$ 2 bilhões em notas fiscais frias de combustíveis. A função era dar aparência de legalidade a valores ilícitos e justificar movimentações em distribuidoras ligadas ao grupo.
Esses postos ainda eram usados para adulterar combustíveis, misturando metanol importado irregularmente à gasolina. A prática aumentava as margens de lucro e sustentava parte do esquema de sonegação.