Considerada a maior operação já realizada contra o crime organizado no Brasil, a Operação Carbono Oculto, executada de forma conjunta pela Receita Federal, Polícia Federal e Ministério Público, nesta quinta-feira (28), revela um risco oculto para os investidores das empresas envolvidas.
A investigação da Polícia Federal apura um esquema bilionário de fraudes no setor de combustíveis e lavagem de dinheiro envolvendo o Primeiro Comando da Capital (PCC).
A Receita também apontou cerca de 40 fundos de investimento, muitos ligados à região da Faria Lima, que podem ter sido usados para ocultação patrimonial, somando aproximadamente R$ 30 bilhões em ativos.
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Para Eduardo Silva, presidente do Instituto Empresa, o caso evidencia que há “algum nível de contaminação do mercado financeiro com o crime organizado”.
Ele destacou a contradição entre os discursos do mercado sobre responsabilidade social e a realidade prática. “O verdadeiro compromisso com ESG não está apenas em relatórios ou slogans, mas na adoção de sistemas sólidos de governança e transparência capazes de blindar empresas contra a corrupção sistêmica”, afirmou.
Silva observa que o problema é estrutural, principalmente no mercado de fundos. Segundo ele, falta transparência nas operações e existem conflitos de interesse que afetam a tomada de decisão do investidor comum.
Operação Carbono Oculto e a fiscalização reativa
Apesar da existência de normas da CVM e da Anbima para divulgação de informações, Silva aponta que a fiscalização costuma ser reativa, atuando apenas após o início das fraudes. Nesse cenário, a diligência prévia do investidor torna-se essencial.
“O investidor precisa entender que, ao aplicar em fundos, ele está terceirizando decisões a um gestor. É crucial saber quem são essas pessoas, qual o histórico delas, como elas ganham dinheiro e quais incentivos podem estar enviesando suas decisões”, destacou.
Impacto da Operação Carbono Oculto para os investidores
Silva também alertou que o bloqueio de bens imposto pela Justiça pode atingir fundos de uma mesma gestora, prejudicando investidores que não tinham ligação com as irregularidades.
“Para além disso, gestoras assumem compromissos explícitos de conformidade. O investidor acreditou investir por meio de gestora que ajudaria a desenvolver o país. Nem sempre parece ser o caso”, afirmou.
Núcleo de combate ao crime organizado
Durante coletiva de imprensa, o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, anunciou a criação de um núcleo de combate ao crime organizado, com a participação de diversas entidades.
“Na primeira reunião, decidiu-se focar no setor de combustíveis. Futuramente, atacaremos outros problemas, de forma setorizada”, declarou o ministro. Ele ressaltou que a operação identificou o uso de fundos de investimento para ocultar patrimônios ilícitos.
A Justiça autorizou o sequestro desses fundos e o bloqueio de até R$ 1,2 bilhão, além da quebra de sigilos bancários e fiscais.
Como funcionava o esquema
Segundo as investigações, o PCC utilizava fintechs de pagamento para movimentar valores fora do sistema bancário tradicional. Em seguida, os recursos eram direcionados para fundos de investimento, em grande parte fundos fechados com apenas um cotista, geralmente outro fundo, o que criava camadas sucessivas de ocultação.
Na prática, os fundos, a maioria localizada na Faria Lima, funcionavam como veículos de lavagem de dinheiro. Eles recebiam aportes de origem ilícita e reinvestiam em ativos reais, dificultando o rastreamento da origem dos valores.
Entre os alvos da investigação estão:
- a fintech BK Bank, suspeita de movimentar R$ 17,7 bilhões em operações irregulares
- a gestora Reag Investimentos, listada na B3
- o grupo Aster/Copape, controlador de usinas, distribuidoras e redes de postos de combustíveis
Entre os ativos adquiridos com os recursos estão usinas de álcool, imóveis, fazendas e terminais portuários.
Cerca de 1.400 agentes cumpriram mandados de busca e apreensão contra 350 alvos em dez estados nesta quinta-feira. As investigações mostram que as práticas ilícitas chegaram ao “coração” do mercado financeiro, na região da Faria Lima, em São Paulo.
Medidas judiciais determinaram o bloqueio de bens de administradoras de fundos, transportadoras, refinarias e quatro usinas de álcool.