O Fundo Verde do Clima (GCF), maior fundo internacional criado pela ONU para apoiar países em desenvolvimento no combate às mudanças climáticas, anunciou um aporte de US$ 70 milhões em um fundo da GEF Capital Partners, gestora brasileira com foco em sustentabilidade.
De acordo com publicação do Valor Econômico, a GEF é a primeira asset de private equity brasileira a receber recursos da iniciativa multilateral. O anúncio ocorreu na Coreia do Sul, onde fica a sede do Fundo Verde do Clima.
Com o apoio de investidores institucionais globais, a GEF pretende captar mais US$ 280 milhões e iniciar as operações do novo fundo no segundo semestre de 2026.
A operação marca a entrada do Brasil no seleto grupo de países que recebem investimentos diretos do fundo climático global.
Fundo Verde será investidor-âncora do novo fundo da GEF
Segundo Anibal Wadih, sócio fundador e corresponsável pelos investimentos na América Latina da GEF, o quarto fundo da gestora, que receberá os recursos do GCF, terá três setores-alvo principais:
- energia limpa, renovável e de armazenamento
- agricultura sustentável
- soluções urbanas, reciclagem, tratamento de água e saneamento
“O fato de termos o Fundo Verde do Clima como investidor-âncora vai ajudar a atrair outros investidores, e já temos investidores internacionais que vão acompanhar”, disse Wadih.
De acordo com o executivo, vários projetos já foram mapeados e apresentados à iniciativa da ONU, servindo como indicativos do impacto ambiental que o fundo busca atingir.
Os primeiros contatos entre a GEF e o GCF começaram em 2022, e o processo formal de adequação às exigências da iniciativa levou dois anos.
Wadih destacou que a gestora já tinha experiência com organismos multilaterais, como o Banco de Investimento Europeu (EIB) e a Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA), ambos investidores em fundos anteriores da GEF.
Ainda assim, o processo de credenciamento junto ao Fundo Verde foi mais rigoroso: “O rigor do fundo é acima da média do setor e levou a gestora para outro nível. Obter o selo de aprovação não foi fácil”, afirmou.
Foco em retorno sustentável
Atualmente, a maior parte dos investidores da GEF é composta por brasileiros, como family offices, fundos de pensão e institucionais.
Segundo Amanda El Ghossain, que participou do processo de adequação junto a Wadih, no Brasil ainda é comum não associar investimentos sustentáveis a retorno financeiro.
Ela destacou, porém, que os setores contemplados pelo novo fundo (energia limpa, agricultura sustentável e infraestrutura urbana) são justamente os de maior potencial de crescimento nos próximos anos.
A GEF Capital Partners possui escritórios em Washington, São Paulo e Mumbai e tem R$ 2 bilhões investidos no Brasil. Globalmente, administra US$ 2,2 bilhões em ativos.
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Fundo climático da ONU anuncia maior projeto da história na Jordânia
O Fundo Verde do Clima também aprovou seu maior compromisso financeiro até o momento, com US$ 295 milhões em doação e empréstimo para apoiar a construção de um projeto de dessalinização de água de US$ 6 bilhões na Jordânia, informou sua diretora-executiva, Mafalda Duarte.
O financiamento, que combina recursos diretos do GCF com aportes da Corporação Financeira Internacional (IFC) e de credores privados, marca um avanço na estratégia do fundo de estimular projetos de grande escala voltados à mitigação dos efeitos da crise climática.
“Isso transformará o país”, afirmou Duarte à Reuters, explicando que o Projeto de Dessalinização e Transporte de Água Aqaba-Amã é o maior investimento do fundo em um único projeto desde sua criação.
O projeto jordaniano é considerado um dos maiores do mundo em dessalinização e deverá atender quase metade da população da Jordânia, país que tem a segunda menor disponibilidade de água do planeta.
Os Estados Unidos, considerados aliados estratégicos da Jordânia, se comprometeram a aportar US$ 300 milhões em doações e US$ 1 bilhão em empréstimos. Outros países da região também devem contribuir financeiramente.
“O projeto é estratégico e visa dessalinizar e transportar 300 milhões de metros cúbicos de água por ano para a maior parte do reino”, afirmou à Reuters o Ministro da Água e Irrigação da Jordânia, Raed Abu Soud.
Fundo Verde busca acelerar aprovações e ampliar impacto
Um oficial envolvido no projeto explicou que os recursos do GCF permitirão reduzir o custo da água em 10 centavos por litro, ajudando o governo jordaniano a economizar US$ 1 bilhão ao longo da operação.
O aporte também permitirá à IFC oferecer condições de crédito mais favoráveis, tornando o financiamento mais acessível ao setor privado.
O projeto da Jordânia é um dos 24 atualmente em análise na reunião do conselho do Fundo Verde do Clima, na Coreia do Sul. Se todos forem aprovados, o total de investimentos chegará a US$ 1,4 bilhão, representando o maior desembolso da história do fundo.
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Este ano, o GCF vem adotando medidas para agilizar seu processo decisório, em meio a uma revisão global do sistema financeiro multilateral. O tema deverá ganhar destaque durante as discussões da COP30, que será realizada no Brasil, em novembro.
“Embora os bancos multilaterais de desenvolvimento ainda não estejam fazendo o suficiente para mobilizar capital do setor privado, seus stakeholders precisam ser realistas sobre o nível de risco que podem assumir”, afirmou Duarte.









