A recente operação policial no Rio de Janeiro, que deixou mais de 120 mortos, reacendeu o debate sobre os impactos do preço da violência no Brasil. Além das vidas perdidas, a insegurança afeta diretamente o crédito, o investimento e o crescimento do país.
Segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), tanto o crime como a violência custam cerca de 3% do PIB por ano aos países da América Latina — o equivalente a todo o investimento em infraestrutura.
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No novo episódio do podcast Ligando os Pontos, Marcos de Vasconcellos, CEO do Monitor do Mercado, mostra como a insegurança pública impacta diretamente a economia e explica o preço da violência. Confira:
O “spread da bala”
A insegurança também tem reflexo no custo do dinheiro. Pesquisadores da City University of London analisaram o México entre 2005 e 2014 e constataram que, quando a taxa de homicídios aumentava em determinada região, o custo da dívida pública também subia.
Esse fenômeno é conhecido como “Supply Side Logic”, uma lógica econômica segundo a qual o crime encarece o crédito — ou seja, bancos e investidores cobram juros mais altos para compensar o risco.
No Brasil, essa relação é evidente. Países com índices de homicídio elevados, como Brasil e México, registram juros reais acima de 5%, enquanto nações com baixos índices de violência, como Japão e Suíça, operam com juros reais próximos de zero.
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O termo “spread da bala” descreve justamente esse custo adicional embutido nas taxas de juros devido à insegurança.
Efeitos sobre investimento e produtividade
A violência reduz a confiança do investidor e impacta diretamente o fluxo de investimento estrangeiro direto. Estudos do BID e da Fundação Getulio Vargas (FGV) indicam que, para cada aumento de um ponto percentual na taxa de homicídios, há uma correlação negativa com o PIB per capita e o investimento produtivo.
Na economia brasileira, é um “spread invisível”. Além de elevar o custo do capital, reduz a produtividade e a renda das famílias. Cada homicídio representa uma perda de capacidade produtiva, consumo e arrecadação tributária.
Segundo o BID, boa parte do custo econômico do crime vem da renda perdida das vítimas. O Estado gasta mais, produz menos e paga mais caro para se financiar — um ciclo de empobrecimento que se retroalimenta.
Enquanto o país continuar tratando segurança pública apenas como operação policial, e não como política de investimento de longo prazo, o juro continuará sendo o preço da violência.
Já para investidores estrangeiros, a violência não é apenas um problema social, mas um risco de crédito. Países com alta criminalidade precisam oferecer rendimentos maiores para atrair capital, o que pressiona os juros básicos da economia e o câmbio.
O Brasil gasta cerca de R$ 150 bilhões por ano em segurança pública, mas continua com uma das maiores taxas de homicídio do mundo. Na prática, o país gasta muito, mas gasta mal, perpetuando um ciclo em que o medo encarece o dinheiro e limita o crescimento sustentável.
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Rio de Janeiro e o fracasso das UPPs
No Rio de Janeiro, as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) chegaram a reduzir significativamente os homicídios, mas a crise fiscal inviabilizou a continuidade do projeto. Com a dívida pública superior a R$ 200 bilhões, o governo reduziu investimentos sociais e operacionais.
Isso fez o braço social das UPPs — que previa ações de educação e emprego — nunca se consolidar. Sem recursos e continuidade, as bases se tornaram vulneráveis. O fracasso, segundo especialistas, foi econômico, não apenas policial.









