O setor de transportes, segunda maior fonte de emissões de carbono do país, é hoje o principal obstáculo à transição energética no Brasil, de acordo com estudo de caso Policy Dialogue on Just Energy Transitions 2.0, da Climate Strategies.
Apesar do Brasil ter sido pioneiro em biocombustíveis, com a ampla adoção de veículos leves flex fuel (etanol ou gasolina), ainda não existem alternativas economicamente viáveis para descarbonizar completamente a frota de longa distância — responsável pela maior parte do transporte de cargas.
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A consequência é que o crescimento econômico deve continuar a elevar as emissões do setor. Ao mesmo tempo, argumentos ligados à segurança energética continuam sustentando investimentos na extração e refino de petróleo, indicando que a descarbonização ainda está em ritmo lento.
Potencial existe, mas Brasil perde espaço
O Brasil tem recursos naturais, tecnologia e base agrícola para liderar setores como combustível de aviação sustentável (SAF), hidrogênio verde e biocombustíveis avançados. Mas enfrenta barreiras que travam esse avanço:
- Mercados imaturos e caros: os combustíveis de baixo carbono ainda têm custo elevado e pouca oferta de matéria-prima.
- Metas tímidas e falta de certificações: o país definiu metas modestas para aviação e transporte de cargas e ainda carece de certificações internacionais para os novos combustíveis.
- Pouco investimento público: o governo destina menos recursos que EUA e União Europeia para inovação e projetos-piloto, o que reduz a competitividade do Brasil.
Segundo o relatório, o país adota uma política “de tudo um pouco” — uma abordagem neutra em relação à tecnologia —, que acaba dispersando os esforços públicos e enfraquecendo as apostas estratégicas necessárias para competir em biocombustíveis, hidrogênio verde e combustíveis sintéticos.
No caso dos biocombustíveis, essa falta de coordenação pode gerar escassez interna de produção e repetir os entraves que limitaram o avanço internacional do Brasil na década de 2010.
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Já o setor de minerais críticos e terras raras, essenciais para a eletrificação, ainda carece de uma política coordenada ou até de mapeamento completo de recursos.
Pressão internacional por transição energética
O Brasil também enfrenta pressões de seus principais mercados compradores, especialmente China e União Europeia, para acelerar sua transição energética. Isso porque esses países vêm intensificando políticas de descarbonização.
Apesar disso, o petróleo brasileiro mantém vantagens competitivas, como baixo teor de enxofre e emissões abaixo da média global. A Petrobras estabeleceu metas para reduzir 70% das emissões de metano até 2030 e eliminar o flaring — prática de queima de gás durante a extração.
Produção e exportações de petróleo
Desde 2008, quando o primeiro campo do pré-sal entrou em operação, a produção nacional cresceu de 2,4 milhões para 4,3 milhões de barris de óleo equivalente por dia em 2024. Somente o petróleo bruto respondeu por 3,4 milhões de barris diários, colocando o Brasil como o nono maior produtor mundial.
As exportações somaram US$ 45 bilhões em 2024, fazendo do petróleo o principal produto exportado pelo país. A Petrobras é responsável por mais de 75% da produção total. A China foi o principal destino (45%), seguida pela União Europeia (23%) e pelos Estados Unidos (11%).
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Projeções indicam que a produção deve atingir o pico entre 2029 e 2030, com cerca de 5,3 milhões de barris diários. Caso novas áreas — como a Margem Equatorial, na costa norte do país — não sejam exploradas, a produção pode começar a cair gradualmente.
O estudo da Climate Strategies ressalta que a exploração na Foz do Amazonas, aprovada recentemente, é uma das mais controversas da política energética brasileira, devido às preocupações ambientais e climáticas.
Exploração de petróleo ameaça transição energética
A continuidade da exploração de petróleo adiciona riscos financeiros à transição energética e à sustentabilidade fiscal. Projetos como a exploração da Margem Equatorial, cujas operações levariam de 5 a 10 anos para começar, podem resultar em ativos encalhados — investimentos que perdem valor à medida que o mundo reduz o consumo de petróleo.
Como os campos offshore têm vida útil de cerca de 30 anos, a produção poderia se estender até 2060 ou 2070, quando a demanda global pode ser bem menor.
Além disso, a distribuição dos royalties do petróleo é considerada ineficiente: a maior parte fica concentrada em poucos estados e municípios próximos aos campos, enquanto a parcela federal é usada sem planejamento estratégico, o que impede que os recursos financiem a transição climática.









