A China Evergrande entrou com pedido de proteção contra falência do capítulo 15 nos Estados Unidos, apresentando documentos judiciais nesta quinta-feira (17). A informação é da Reuters.
A gigante colapsou o mercado imobiliário chinês em 2021 após dar calote em seus credores.
Sua dívida já passa dos US$ 300 bilhões, maior do que o PIB da África do Sul.
A Evergrande é a segunda maior empreiteira chinesa e os impactos de sua falência devem ser sentido em mercados de todo o mundo.
Nos Estados Unidos, a falência pelo Capítulo 15, segundo explicação da Bloomberg, protege os ativos da empresa nos EUA enquanto os acordos de reestruturação são resolvidos em outros países.
Rombo ignorado por auditoria PwC
Em 2020, a terceira maior auditoria do mundo, a PricewaterhouseCoopers (PwC), aprovou as contas da Evergrande, meses antes de ela se mostrar prestes a colapsar, com uma dívida de, então, US$ 88,5 bilhões.
De acordo com notícia publicada pelo Wall Street Journal, a auditoria atestou a saúde financeira da empresa ao analisar suas contas referentes a 2020.
A informação acende um sinal amarelo para os investidores como um todo, já que as auditorias da maioria das empresas com capital aberto são feitas por apenas quatro empresas, apelidadas de “Big Four”.
No mercado americano, por exemplo, 14,8% das maiores empresas têm suas contas auditadas pela PwC. Ela fica atrás da EY (22,1%) e da Deloitte (16,5%), mantendo-se à frente da KPMG (13,3%), segundo levantamento da Audit Analytics.
No Brasil, a PwC já foi responsável por auditar as contas da Petrobras e, inclusive, foi acusada de ignorar o escândalo de corrupção que causou rombos nas contas da empresa em 2012, 2013 e 2014. Foi também ela que atestou as contas da Americanas, antes de vir à tona a fraude contábil que abalou o mercado brasileiro.
De acordo com a Superintendência de Normas Contábeis e de Auditoria (SNC) da Comissão de Valores Mobiliários, a CVM, entre outras coisas os auditores teriam se limitado a “defender” as estimativas efetuadas pela Petrobras, em vez de demonstrar os trabalhos de auditoria efetuados.
O que acontece na China que preocupa os investidores?
O caso Evergrande é só uma das pontas soltas na China que está incomodando investidores de todo o mundo.
O Monitor do Mercado reúne os principais episódios que têm impactado a economia chinesa e preocupado toda a cadeia global.
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Gestora privada em crise
A Zhongzhi Enterprise, gestora privada de patrimônio da China, deixou de pagar vários produtos de investimento de alto rendimento. As informações são da Bloomberg.
O conglomerado financeiro administra cerca de 1 trilhão de yuans, equivalente a US$ 138 bilhões.
A polêmica começou após alguns clientes reclamarem de pagamentos atrasados por um trust.
Mas o que é isso? O contrato de fidúcia, contrato fiduciário ou trust é aquele em que uma das partes envolvidas recebe da outra parte bens móveis ou imóveis, assumindo a responsabilidade de administrá-los em proveito de um terceiro, tendo a livre administração dos bens, limitado às condições no contrato.
As empresas desse setor captam famílias ricas e clientes corporativos e oferecem empréstimos, investimentos em imóveis, ações, títulos e commodities.
Com medo de que esse problema se espalhasse, o regulador bancário iniciou uma força-tarefa para examinar os riscos da Zhongzhi.
A Zhongzhi, apesar de pouco conhecida fora da China, está entre as principais empresas da indústria de trusts do país, avaliada em US$ 2,9 trilhões, que combina características de banco comercial e de investimento, private equity e gestão de patrimônio.
Os trusts chineses estão sob pressão desde 2017, quando os reguladores começaram a reprimir os excessos do sistema bancário paralelo.
Mas as dificuldades da empresa surgiram em um momento mais delicado para os investidores, já preocupados com o estado da segunda maior economia do mundo.
Os empréstimos concedidos por bancos chineses caíram para o nível mais baixo desde 2009 no mês passado, em um sinal de menor demanda de empresas e consumidores.
Desaceleração da economia
O cenário imobiliário da China é um dos sintomas da desaceleração da segunda maior economia do mundo. No segundo trimestre, a economia chinesa cresceu, em ritmo anual, 6,3%. No entanto, o resultado está abaixado dos 7% que os analistas previam.
Uma das principais razões para a desaceleração é a queda da atividade no setor de construção civil, que corresponde a 25% do PIB da China.
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Em entrevista ao podcast O Assunto, Cláudia Trevisan, diretora-executiva do Conselho Empresarial Brasil-China, fala sobre os impactos negativos que a China tem lidado nos últimos tempos. No podcast ele cita:
- A queda da atividade no setor da construção civil, como principal causa da desaceleração;
- Os incentivos para aumentar o peso do consumo na composição do PIB, que, atualmente, representa 40%, percentual bem abaixo da média dos países ricos;
- O avanço regulatório sobre a indústria de tecnologia, as medidas restritivas durante a pandemia e o crescimento exponencial de recém-formados no ensino superior;
- E o impacto da desaceleração nas exportações de alimentos no Brasil.
Proibição de investimentos em tecnologia
Na última quarta-feira (9), o presidente norte-americano, Joe Biden, assinou um decreto que proibirá certos investimentos dos Estados Unidos em tecnologia na China, exigindo notificação a Secretaria do Tesouro dos EUA. As informações são do Money Times.
O decreto autoriza a Secretaria a proibir investimentos norte-americanos em entidades chinesas em três setores:
- Semicondutores e microeletrônicos;
- Computação quântica;
- Sistemas de inteligência artificial.
Biden, em uma carta ao Congresso, declarava uma emergência nacional para lidar com as ameaças do avanço de outros países em produtos críticos para capacidades militares, de inteligência, vigilância e cibernéticas.
A tensão, que já é grande, pode aumentar com a medida, sendo vista como uma maneira de separar duas economias altamente interdependentes.
As regras afetarão apenas futuros investimentos, e não os atuais, disse uma autoridade do governo à Reuters.
Caso BlackRock
As gigantes dos investimentos, BlackRock e MSCI, estão sendo investigadas por um comitê especial da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, por facilitar investimentos em empresas chinesas sob alerta das agências de análise de risco do país.
As empresas da China são acusadas de fortalecer as forças armadas chinesas e violar os direitos humanos.
O comitê foi formado para investigar assuntos relacionados ao Partido Comunista Chinês (PCCh).
A investigação — que revisou apenas uma parte das atividades das gestoras – mostrou que o financiamento atinge mais de 60 empresas chinesas sinalizadas pelas agências americanas.
Apenas em cinco fundos, o investimento da BlackRock ultrapassa US$ 429 milhões, segundo o Comitê.
A questão de Taiwan
A ilha Taiwan, com cerca de 24 milhões de habitantes, localizada a menos de 200 quilômetros da China continental, tem se tornado cada vez mais um dos temas da disputa entre China e Estados Unidos. As informações são do Exame.
Taiwan é um país? Não. Não é reconhecido pelos organismos internacionais, mas não está sob governo de Pequim. A ilha se autodenomina “República da China”, enquanto a China continental é a “República Popular da China”.
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Em 1949, o Partido Comunista Chinês de Mao Tse-Tung venceu uma guerra civil e tomou o poder chinês. Em paralelo, o líder derrotado pela revolução, Chiang Kai-Shek, fugiu com aliados políticos e se refugiou em Taiwan. Os opositores do Partido Comunista fundaram Taiwan em um governo paralelo, e o caso virou palco de uma disputa.
Nas últimas décadas, a economia de Taiwan se destacou pela fabricação de produtos de tecnologia de alta qualidade, como chips. A Foxconn, que produz os iPhones da Apple, por exemplo, fica em Taiwan.
A ilha está entre as dez maiores economias da Ásia e entre as 25 maiores do mundo, sendo considerada como economia avançada pelo Fundo Monetário Internacional.
Apesar das disputas, ambos seguem tendo laços comerciais.
Taiwan pode gerar uma Guerra entre Estados Unidos e China?
Os EUA dizem defender o “status quo”, isto é, que Taiwan continue com governo autônomo frente à China, mesmo que não como um país.
No cenário da Guerra Fria, Taiwan já havia sido centro de uma disputa de duas potências, na ocasião entre a União Soviética (que apoiava a China continental até 1960) e os EUA (que estreitaram laços com Taiwan nos anos 1950).
Em 1954, os EUA e Taiwan assinaram um acordo de defesa mútua, que teve fim em 1979, após o governo americano reconhecer o governo comunista na China continental.
Desde o final do acordo, os EUA evitam comentar sobre uma possível ajuda de defesa em caso de ataque chinês.
Até que no ano passado, Joe Biden, em visita ao Japão, foi perguntado por jornalistas se, ao contrário do que ocorreu na Ucrânia com a invasão russa, os EUA tomariam alguma ação militar direta caso a China invadisse Taiwan. Biden se embaralhou e respondeu que “talvez”.
A Casa Branca tentou voltar atrás na declaração e negou que os EUA tenham dado a entender que entrariam em guerra para defender Taiwan.
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A China, por sua vez, não considera Taiwan um território separado da porção continental e não esconde que deseja submeter a ilha ao governo de Pequim, o que não acontece hoje.
A divisão a respeito do tema se torna ainda mais relevante à medida que crescem as disputas dos EUA com a China.
O novo cenário global faz com que Taiwan seja, na prática, um dos elementos em debate na guerra comercial e política entre as duas potências.
Os temores de que a China e Taiwan entrem em um choque militar são crescentes, levantando dúvidas sobre a possibilidade de o conflito escalar para questões geopolíticas muito mais amplas, envolvendo a China, os EUA e outras potências ocidentais – repetindo o que têm ocorrido no conflito na Ucrânia.
Por enquanto, uma série de exercícios militares dos dois lados foram feitos na região nos últimos anos, mas um embate direto não esteve perto de ocorrer.
Os analistas são unânimes: qualquer confronto na China seria má notícia para a estabilidade no mundo inteiro.
Imagem: Wikimedia Commons