O J.P Morgan e a gestora State Street decidiram esvaziar o Climate Action 100+, iniciativa global composta por investidores institucionais que buscam engajar as empresas de maior impacto no mundo em termos de emissões de gases de efeito estufa (GEE).
Agora, nenhuma das 5 maiores gestoras de ativos do mundo apoia, totalmente, o grupo, colocando o mercado de ESG (governança corporativa, ambiental e social) em xeque.
O Climate Action 100+ foi um dos grupos climáticos que mais chacoalhou o mercado financeiro, que contou com a entrada de 3 gigantes da gestão de ativos, BlackRock, State Street e J.P.Morgan, em 2020.
A saída da BlackRock, que agora mantém apenas seu braço internacional no grupo, é porque a empresa acredita que a estratégia da “Fase 2” do projeto, que acontecerá em junho, entra em embate com as leis americanas.
A State Street também disse que os compromissos da “Fase 2” foram longes demais.
Já o JP Morgan afirmou que já fez um investimento significativo em sua equipe de gestão para lidar com os pontos ESG.
O que a Fase 2
A segunda fase do Climate Action 100+ vai além dos relatórios ESG. Enquanto antes o foco era a transparência das empresas quanto as suas políticas climáticas, agora o objetivo é efetivamente implantar planos de transição energética a fim de atingir a descarbonização completa.
Segundo o grupo, as empresas sairão do “discurso para a ação” até 2030:
- Implementando uma estrutura de governança robusta que articule claramente a responsabilidade e supervisão do conselho em relação ao risco das mudanças climáticas.
- Tomando medidas para reduzir ativamente as emissões de gases de efeito estufa em toda a cadeia de valor, incluindo o envolvimento com partes interessadas, como formuladores de políticas e outros atores, para abordar as barreiras setoriais à transição.
- Fornecendo divulgação corporativa aprimorada e implementando planos de transição para alcançar metas robustas.
Na prática, agora vai ficar mais caro ser amigo do meio ambiente.
O que é o Climate Action 100+
Lançado em 2017, o Climate Action 100+ representa uma colaboração entre investidores de diferentes partes do mundo, incluindo gestores de ativos, fundos de pensão e seguradoras. Esses investidores buscam influenciar as políticas e práticas climáticas de grandes empresas, pressionando-as a adotar medidas mais sustentáveis e a divulgar informações mais transparentes sobre suas emissões de carbono e planos de mitigação.
Os membros do Climate Action 100+ concentram seus esforços em dialogar com empresas que estão entre os maiores emissores de GEE globalmente, visando criar mudanças substanciais em suas operações para alinhar-se com os objetivos do Acordo de Paris e outras metas ambientais globalmente aceitas.
Ética de barriga cheia
A saída das 3 gigantes não só coloca o ESG em xeque, mas é mais um exemplo de que o mercado financeiro segue a “ética de barriga cheia”. Quando o dinheiro fica mais caro, como no atual momento de juros altos nos EUA, diminuem-se os critérios de investimento.
Como já foi pauta nopodcast Ligando os Pontos,o ESG vem perdendo força no mercado.
O que acontece é que as empresas já precificaram a participação nesses grupos. Assim como as gestoras precificam ações – apontando como movimentações farão empresas ganharem ou perderem valor — também precificam suas participações na agenda ESG.
Se a conta for positiva, e a empresa ganhar valor ao privilegiar essas pautas, ela continuará privilegiando. Agora, se der mais trabalho do que gere valor, a ética não se sobressair, ainda mais quando o mercado financeiro está de “barriga vazia”.
Com pouco dinheiro circulando, já que as taxas de juros ainda estão altas, o momento é de priorizar o que dá mais lucro, e a verdade é que ser “carbono neutro” não está na lista de formas de ganhar dinheiro rápido.
Estratégias de longo prazo vão para o final da fila, enquanto o mercado tenta sobreviver à estiagem.