O Ibovespa opera perto da estabilidade, enquanto o dólar estadunidense e as taxas DI operam em queda no mercado financeiro brasileiro nesta quinta-feira (27/4). No final da primeira metade do pregão, a Bolsa opera em alta e tenta se manter no positivo, sustentada pelas ações da Vale (VALE3), do setor financeiro, penalizado na véspera, em meio a um exterior positivo.
Os investidores também digerem as falas dos ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, e do presidente do Banco Central (BC) Roberto Campos Neto, esta manhã no Senado, no debate sobre inflação, juros e crescimento econômico.
Haddad disse que precisa haver uma harmonia entre as políticas fiscal e monetária para que o País cresça. Já Simone enfatizou que é impossível o País crescer diante de juros altos, no entanto reconheceu o papel do banco Central para combater a inflação e Campos Neto reiterou que não é possível uma estabilidade social com descontrole inflacionário.
As ações da Vale (VALE3) subiam 0,45%. Os bancos avançavam em bloco e 3RPetroleum (RRRP3) era destaque de alta do Ibovespa em 5,88%.
Nicolas Farto, sócio e head de renda variável da Vértiq Invest, disse que a Bolsa avança com a Vale e os bancos. “A Vale reportou balanço abaixo do esperado e imaginava-se que o dia fosse mais negativo, as ADRS estavam caindo no pré-mercado americano e o mercado está dando o benefício da dúvida; a Vale segue como um papel importante no índice e gera bastante caixa e nesse sentido tem gente interessada em comprar o papel no nível de preço mais barato; nos contratos de termo tinham interesse grande; os índices americanos também ajudam; os bancos estão performando bem, após terem caído ontem, e pesam bastante no índice; 3R Petroleum chama atenção”.
O dólar cai. Se a economia dos Estados Unidos dá sinais de uma possível recessão, a desaceleração da inflação doméstica anima o mercado para o corte dos juros começar no próximo semestre.
O economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, entende que apesar de ter ficado abaixo das projeções, o PIB norte americano não foi ruim, mas que a alta da inflação Estados Unidos reforça as expectativas de que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) prossiga o aumento dos juros.
Por outro lado, a queda de 0,95% no IGP-M de abril, abaixo das expectativas de -0,69%, reforça o cenário local promissor: “O menor risco inflacionário e a perspectiva na Selic (taxa básica de juros) favorecem os ativos locais. O real está muito atrasado em relação aos pares, e tem espaço para cair neste mês”, avalia Borsoi.
As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) seguem caindo por causa do Indice Geral de Preços Mercado (IGP-M) que veio abaixo do esperado, além dos dados dos Estados Unidos um pouco fora do previsto: crescimento do PIB abaixo do estimado e índice de preços para os gastos pessoais (PCE), um pouco acima das estimativas.
Na manhã de hoje, foi divulgado o IGP-M de abril, que caiu 0,95%, após variar 0,05% no mês anterior. Com este resultado, o índice acumula taxa de -0,75% no ano e de -2,17% em 12 meses. Em abril de 2022, o índice havia subido 1,41% e acumulava alta de 14,66% em 12 meses. De acordo com o Termômetro CMA, a expectativa era de queda de 0,69% em abril, e baixa de 1,94% em 12 meses.
Em ambiente externo, o Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos cresceu 1,1% no primeiro trimestre de 2023 em relação ao trimestre anterior, de acordo com o Departamento do Comércio do país. O índice de preços para os gastos pessoais (PCE), usado pelo banco central norte-americano como referência para inflação, subiu 4,2% no primeiro trimestre em base anualizada, após alta de 3,7% no quarto trimestre de 2022. O núcleo do PCE, que exclui do cálculo preços de alimentos e nergia, teve alta de 4,9%, após aumento de 4,4% nos três meses anteriores.
Para o analista da Ouro Preto Investimentos, Bruno Komura, o que está mexendo com as taxas DI em território doméstico é o IGP-M. Lá ora, dados do PIB dos Estados Unidos bem abaixo do esperado, além de dados negativos de inflação do país.
“Isso aponta que o Fed [banco central norte-americano] deve manter o aperto monetário por mais tempo, mantendo a taxa em 0,25%”, analisa. “O Brasil está bastante descontado em relação aos pares, apesar do medo global de aumento dos juros. Além disso, o IGP-M corrobora para um ambiente interno mais tranquilo, dando subsídios para que o BC reduza os juros no fim do ano, causando um fechamento expressivo da curva como um todo.”
Camila Brunelli / Agência CMA
Imagem: Piqsels